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Espancadas e humilhadas: mulheres sofrem transfobia brutal no RJ

Exclusão e violência são vivências comuns no país que mais mata trans no mundo

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Gisele Palma

26/01/2024 às 15:17 • Atualizada em 26/01/2024 às 15:31 - há XX semanas
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No mês da visibilidade trans, em vez de celebrações, homenagens e aprofundamento do debate, preciso vir dizer o mínimo mais uma vez: vidas trans merecem respeito e dignidade. Na última sexta-feira (19), o centro carioca foi palco de um espetáculo de horrores. As designers de moda Zuri e Lua, ambas transgênero, foram brutalmente violentadas por mais de 15 homens. A irmã de Zuri, Anny de Andrade, que é cis e estava com elas, também foi agredida.


				
					Espancadas e humilhadas: mulheres sofrem transfobia brutal no RJ
Zuri é designer de moda e foi agredida no RJ. Foto: Reprodução / Redes Sociais

Lua conta que viu Zuri sendo empurrada por um homem e, então, foi defendê-la e o empurrou. “Nesse momento, os seguranças começaram a arrastar a gente para fora do Casarão [do Firmino]", disse. Zuri relata que elas sofreram agressões verbais com falas transfóbicas de alguns homens ("pode bater que é tudo homem", "nela [a irmã cis] eu não bato, mas em vocês dois eu meto a porrada", "eu pensava que era mulher, senão já tinha batido antes"), enquanto elas chamavam um carro por aplicativo. O motorista que chegou se recusou a levá-las por conta do tumulto.

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Logo depois, ambulantes, seguranças e clientes do bar jogaram-nas no chão e deram chutes e socos por todo o corpo, cabeça e rosto delas. Um grupo veio ajudá-las e chamou um táxi. Elas entraram no carro, mas os agressores impediram a partida do veículo e continuaram com o ataque. Zuri teve seu nariz quebrado e o supercílio estourado, sua irmã ficou desacordada, os corpos das três ficaram com muitos hematomas.

Quando a polícia chegou, elas foram encaminhadas para prestar depoimento na 5ª DP. onde foram alvo de mais transfobia. "Precisei encontrar uma calma interior extra enquanto estava com meu corpo coberto de sangue, para poder explicar quem eu era e ‘meu valor social’, informando que tinha uma formação, um emprego e uma vida que a sociedade julgue ‘íntegra’ para só então ter a possibilidade de sermos socorridas", lembra Zuri.


				
					Espancadas e humilhadas: mulheres sofrem transfobia brutal no RJ
Zuri é designer de moda e foi agredida no RJ. Fotos: Reprodução / Redes Sociais

Após sobreviver aos atos brutais motivados pelo ódio gratuito à sua identidade de gênero, a designer pede justiça. “Que esse local seja punido junto com todas as pessoas que desejaram tirar nossa liberdade de viver e sermos quem somos. Peço que continuem questionando o Casarão Firmino por respostas e que nos ajudem a amplificar esse caso para que chegue nas (sic) pessoas certas. Às minhas irmãs

travestis e mulheres trans, continuaremos vivendo, resistindo e desejando que em algum momento, possamos ter a segurança de existir e nos divertir sem medo.”

Vivemos em um local extremamente perigoso para corpos dissidentes. Apesar de a transfobia ser crime no Brasil desde 2019*, esse é o país que, há 14 anos, mais mata travestis e transgêneros no mundo. Em 2022, foram 131 assassinatos motivados por esse preconceito, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). A Transgender Europe (TGEU) apurou que 70% dos homicídios transfóbicos registrados em 2021 aconteceram na América do Sul e Central, sendo 33% no Brasil.


				
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Zuri é designer de moda e foi agredida no RJ. Fotos: Reprodução / Redes Sociais

A realidade é alarmante: nosso país não passa mais do que três dias sem matar uma pessoa trans ou travesti. A essa população, é negado o direito de envelhecer, visto que tem a expectativa de vida dos brasileiros em 1910 (35 anos). A transfobia intimida, constrange, humilha, traumatiza, machuca e aniquila. É urgente monitorar e visibilizar as violências e exigir dos órgãos competentes ações de conscientização, prevenção e proteção e também punição dos criminosos e reparação das vítimas.

Quantos litros de sangue precisam jorrar de corpos trans e travestis para que se tomem medidas efetivas de erradicação da transfobia? Até quando ser transgênero será uma ameaça à própria vida? Será que um dia veremos a existência trans ser finalmente humanizada?

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Encerro a coluna de hoje com uma declaração da Antra que resume a minha angústia: “Estamos aqui de coração dilacerado por observar o acirramento da violência contra a nossa população nos últimos dias. (...) Este caso não pode ser apenas mais um que circulará na rede social sem que as pessoas efetivamente se engajem contra o racismo, a misoginia, a transfobia e todos os seus impactos nos corpos da população jovem trans negra.”

*Em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pela criminalização da homofobia e da transfobia, que passaram a ser enquadradas pela Lei de Racismo. Além de multa, a pena é de um a três anos de prisão, podendo chegar a cinco anos de reclusão se houver divulgação ampla do ato.


				
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Zuri é designer de moda e foi agredida no RJ. Fotos: Reprodução / Redes Sociais
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