Antes que alguém possa pensar que o espetáculo solo “Sísiso” se trata de um texto clássico ou de narrativa rebuscada, já adianto aqui que não. A peça escrita pelo ator e apresentador Gregório Duvivier e pelo dramaturgo, roteirista e ator Vinícius Calderoni - que também assina a direção - é uma crônica contemporânea e de interlocução com o Brasil atual. Nela, o mito grego de Sísifo é um mote e inspiração para o enredo e para a encenação. “Eu sou uma metáfora do Brasil contemporâneo e eu espero que vocês me entendam”, reivindica a personagem.
Uma das versões do mito grego conta que Sísifo foi rei e fundador de um território que hoje se chama Corinto, localizado na região do Peloponeso, na Grécia. Astuto e muito sagaz, o rei um dia delatou Zeus por sequestrar uma jovem muito bonita chamada Egina, filha de Asopo, deus dos Rios. Em troca da delação, Sísifo pediu que Asopo criasse uma nascente em seu reino. Entre as muitas reviravoltas dessa história, Zeus descobre a traição e pune o rei da antiga Corinto a rolar uma rocha até o topo de uma montanha, num subir e descer sem fim. Uma passagem do espetáculo faz uma reflexão desse fardo: “É preciso amar a pedra como se ela fosse parte do nosso próprio corpo”.
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Cíclico, poético, politizado, não-linear e filosófico, o espetáculo transpõe a essência da penitência para a movimentação, para o cenário (uma rampa móvel criada por André Cortez) e para a a atmosfera cênica. A direção incorpora essa ação no subir e descer da rampa e em saltos que, simbolicamente, pode ser o abismo em que nos lançamos, diariamente, diante de tantas dúvidas e perguntas. Esse fluxo cria variáveis que beneficiam muito o ritmo e a dinâmica.
A rampa inicialmente descrita pela personagem como uma pista de dança nos conduz por um painel de representações e papéis sociais, através de um jogo cênico que muda sucessivamente, se transmutando em muitas cenas (afirmam que 60), mas essa matemática é fluida. “Esse é um lugar entre dois lugares. É uma fenda compartilhada entre dois blocos de vida e a vida em si mesmo. Dentro dessa linha reta, todas as travessia do mundo. Dentro desse mundo, um mundo de travessias. É esse o jogo”, entrega o autor.
Nesse contexto, um mosaico de relações, comportamentos, dilemas, desilusões e uma série de entraves existenciais, sociais e políticos. Um manancial de reflexões, provocações, ironias, sentidos… “O mundo é uma espécie de pista de dança”, sintetiza. E isso me faz lembrar o dramaturgo inglês William Shakespeare quando diz: “O mundo inteiro é um palco”. Dele, “Sísifo” faz ainda uma citação muito apropriada de “Hamlet” (do emblemático “Ser ou não ser…”), quando observamos essa possibilidade de relação entre personagens atormentadas e assombradas por seus fantasmas interiores.
Falando agora de Gregório Duvivier, o ator possui um domínio técnico muito inteligente. Faz um uso muito eficaz de todos os seus recursos de interpretação. Transita entre planos de humor e drama com destreza. E tudo isso se expressa numa explosão de nuances, ritmos, temperamentos e exploração de espaço da cena. É perceptível como as muitas facetas da carreira do artista, inclusive no aspecto da improvisação, se materializam no palco. É um deleite de espetáculo.
Projeto CATÁLOGO BRASILEIRO DE TEATRO | 22ª EDIÇÃO
- Espetáculo: SÍSIFO
- Com: Gregório Duvivier
- Texto: Vinícius Calderoni e Gregório Duvivier
- Direção: Vinícius Calderoni
Quando? 13 e 14 de Maio, às 21h
Onde? Teatro Castro Alves
Duração? 60 minutos
Classificação Indicativa? 16 anos
Gênero? Comédia
Vendas? Sympla e bilheteria do teatro
VALORES 2º LOTE
- R$ 120,00 / R$ 60,00 filas de A a P
- R$ 100,00 / R$ 50,00 filas de Q a Z4
- R$ 80,00 / R$ 40,00 filas de Z5 a Z11
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Arlon Souza
Arlon Souza
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