icone de busca
iBahia Portal de notícias
CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE
De Resenha

Baiano Paulo Henrique Alcântara fala sobre espetáculo Maldita Seja

Com mais de 25 anos de carreira, o artista é autor de diversas peças, duas delas premiadas com o Prêmio Braskem de Teatro

foto autor

Arlon Souza

10/03/2023 às 15:00 • Atualizada em 24/03/2023 às 14:58 - há XX semanas
Google News iBahia no Google News

				
					Baiano Paulo Henrique Alcântara fala sobre espetáculo Maldita Seja
Dramaturgo e diretor de teatro, Paulo Henrique Alcântara. Foto: Divulgação

A poética de um escritor e dramaturgo é sempre algo atravessado por um universo de referências culturais, biográficas e intelectuais muito próprias de sua trajetória de vida e formação. Com o autor, professor e diretor de teatro Paulo Henrique Alcântara não é diferente. Natural da cidade de Livramento de Nossa Senhora, na região da Chapada Diamantina, o artista bebe na fonte direta de suas origens e memórias interioranas, incorporando uma identidade e um estilo muito próprios de uma dramaturgia do nosso Brasil mais profundo.

Em seu trânsito de produção artística e intelectual - já que reside em Salvador e é professor da Escola de Teatro da UFBA - o dramaturgo mergulha na tradição com um olhar universal para as suas histórias, tramas e personagens. Ao abordar temas e discussões atemporais e atuais, tece sua narrativa no diálogo com os dramas do mundo contemporâneo.

Em sua atuação como diretor já dirigiu grandes nomes das artes cênicas, como Nilda Spencer, Wilson Mello, Wagner Moura, Laila Garin, Vladimir Brichta, entre outros artistas. Na entrevista que se segue ele nos fala sobre os caminhos, reflexões e processos criativos de sua obra mais recente, a peça “Maldita Seja”; que tem direção de Hyago Matos e atuação de Viviane Laert e Veridiana Andrade. O espetáculo volta em cartaz no Teatro Moliére da Aliança Francesa Salvador, de 17 de março a 01 de abril, às 20h.


				
					Baiano Paulo Henrique Alcântara fala sobre espetáculo Maldita Seja
Veridiana Andrade e Vivianne Laert no espetáculo Maldita Seja. Foto: Dinei Araújo

ARLON SOUZA - A peça “Maldita Seja” é um texto inédito seu para a encenação do diretor de teatro Hyago Matos. Ela nasce a partir de quais inquietações e desejos?

PAULO HENRIQUE ALCÂNTARA - A peça nasce da vontade de voltar a escrever para teatro com mais constância. Voltei a sentir o impulso de colocar no papel ideias e histórias acumuladas há tempos. Surge também da vontade de contar uma história com personagens envolventes, cercados por um diálogo afiado, algo que busco sempre.

ARLON SOUZA - Muita gente reivindica que o teatro dialogue e se comunique mais com o público. De que forma você acredita que Maldita Seja toca em temas contemporâneos?

PAULO HENRIQUE ALCÂNTARA - A peça conversa com a contemporaneidade na medida em que coloca duas mulheres falando sobre suas dores e anseios. As protagonistas são diferenciadas. Cema, a mais velha, acomodou-se, já Nevinha, a mais nova, almeja uma vida melhor. Ao falar destas criadas e do que se passa em seus corações, falo, implicitamente, do aspecto social.

ARLON SOUZA - As personagens Cema e Nevinha retratam um passado que, volta e meia, ainda se reproduz nos dias de hoje. Você ainda identifica essas personagens nos tempos de agora?

PAULO HENRIQUE ALCÂNTARA - Cema e Nevinha surgem de um Brasil arcaico e ainda atual. Bebemos o vinho fabricado pelas dores de mãos baianas escravizadas no sul do país. As personagens são reflexos da desigualdade, oprimidas por serem criadas. Politicamente e dramaturgicamente, operei com o contraponto. Cema se acomodou, já Nevinha quer uma vida mais digna e feliz.

ARLON SOUZA - No palco, temos duas atrizes de diferentes gerações e estilos. As atuações delas imprimiram de que forma o que você esperava para as suas personagens?

PAULO HENRIQUE ALCÂNTARA - A peça precisa de uma atriz madura e de outra mais jovem. Aí reside a base do texto, sobre uma criada mais velha e seu baú de memórias, ouvidas por uma criada ávida de histórias. A experiência e as vivências pessoais de Vica (Viviane Laert) são fundamentais para Cema. Já a atuação chapliniana de Veridiana confere a leveza que a trama também possui.

ARLON SOUZA - Você já possui outras peças publicadas, como “Partiste” e ”Lábios que beijei”. Que marcas e referências da sua dramaturgia estão presentes nessa nova obra?

PAULO HENRIQUE ALCÂNTARA - Essas obras possuem em comum meu apreço por personagens com lastro. Maldita Seja segue com minha crença, presente nas demais peças, na boa história. Gosto de ser um contador de histórias. Maldita Seja tem muito de Partiste. Cema e Nevinha poderiam ser vizinhas da família fraturada de Partiste.

ARLON SOUZA - A gente percebe que a peça traz consigo um repertório e um contexto linguístico e cultural bem regionais. Nos transporta para um universo interiorano. A sua dramaturgia bebe nessas fontes?

PAULO HENRIQUE ALCÂNTARA - Tive uma atenção especial com a linguagem. Tenho um deleite em situar tramas no contexto interiorano. Venho do interior. Trago uma memória afetiva. Contudo, também saio deste contexto por vezes. Mas todas possuem em comum a vontade de contar uma história, de tocar em sentimentos, de elaborar uma sólida carpintaria dramatúrgica.

Veja também:

ARLON SOUZA - Há no texto uma série de memórias e revelações que vão tecendo o conflito. Como é que foi essa costura? Houve muitas dúvidas para resolver essa trama e o desfecho?

PAULO HENRIQUE ALCÂNTARA - Senti que tinha nas mãos um terreno fértil e a trama foi surgindo no calor da escrita. Dúvidas sempre surgem. Escrevi rapidamente, intensamente, mas, com os ensaios já acontecendo, enviei a penúltima cena. Já o desfecho foi uma sugestão do diretor e das atrizes que eu acatei, pois eles já se apropriaram da trama bem mais que eu. E ficou lindo.

ARLON SOUZA - A sua formação e experiência como diretor interferem de que forma na sua dramaturgia?

PAULO HENRIQUE ALCÂNTARA - Interferem totalmente. Penso muito em ritmo, no encadeamento das cenas, na pulsação, nas imagens que o diálogo vai projetar no palco. Essa é uma conquista de quem manejou a arte de encenar e a dramaturgia sai ganhando.

ARLON SOUZA - Como é que foi o processo de encenação? Como foi esse diálogo com a direção e o elenco? O texto foi se transformando a partir dos ensaios?

PAULO HENRIQUE ALCÂNTARA - Acompanhei de longe. Tive ricas trocas com Hyago Matos. Ele me consultou sobre sutis mudanças de palavras, as quais acatei. Conversamos sobre a escolha das atrizes, mas a decisão final, acertadíssima, claro, foi dele. Não vi o ensaio, em compensação vi quase todas as apresentações tal o meu encantamento com o resultado.

ARLON SOUZA - Você tem recebido muito retorno do público? Pode comentar alguma coisa que tenha sido marcante?

PAULO HENRIQUE ALCÂNTARA - Tenho deleite com o riso da plateia (minha mãe riu gostosamente) e me orgulho em ter tocado a emoção dos mais velhos e mais jovens. Nossos Mestres Harildo Déda e Neyde Moura viram duas vezes. Isso me honra. Guardo com carinho as falas emocionadas dos atores e atrizes, bem como da minha prima Sabrina, de 17 anos, que terminou de ver o espetáculo às lágrimas.

Espetáculo “Maldita Seja”

  • Quando e onde: de 17 de março a 01 de abril
  • Horário: 20h
  • Local: Teatro Moliére da Aliança Francesa Salvador
  • Ingressos através do whatsapp: 71 99921-2368

				
					Baiano Paulo Henrique Alcântara fala sobre espetáculo Maldita Seja
iBahia
Imagem ilustrativa da coluna De Resenha
AUTOR

Arlon Souza

AUTOR

Arlon Souza

Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!

Acesse a comunidade
Acesse nossa comunidade do whatsapp, clique abaixo!

Tags:

Mais em De Resenha