A presença de artistas baianos num dos mais importantes prêmios do Brasil reforça o quanto a Bahia é um dos pólos criativos mais talentosos do país. Embora os incentivos para temporadas e turnês nacionais sejam insuficientes e até mesmo raros como programa e política cultural, atores e atrizes como Luís Miranda (Melhor Ator/2019/SP), Laila Garin (Melhor Atriz/2013/RJ), João Miguel (Melhor Ator/2009/SP), entre outros nomes de projeção nacional, vem conseguindo furar a bolha regional e, inclusive, se tornaram vencedores do Prêmio Shell de Teatro.
Nesta 33ª edição, o Shell contempla espetáculos que fizeram temporada no Rio e em São Paulo fora do período da pandemia da covid. Ou seja, entre 1.º de janeiro e 31 de março de 2020 e de 1.º de abril a 31 de dezembro de 2022. E pela primeira vez inclui na lista artistas trans, na categoria Melhor Atriz. Este ano, entre os indicados, artistas baianos já consagrados nos palcos como Márcio Meirelles, Laila Garin, Lázaro Ramos e Fábio Osório Monteiro.
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Vencedora na categoria Melhor Atriz, pela atuação como protagonista do espetáculo “Elis, A Musical”, em 2013/2014, Laila Garin volta a ser indicada este ano pela atuação em outro musical: “A Hora da Estrela ou O Canto de Macabéa”, da obra de Clarice Lispector. A encenação também recebeu indicações como Melhor Direção (André Paes Leme) e Melhor Direção Musical (Chico César/Marcelo Caldi).
“O teatro é meu pai. Ele me ensina ética, me ensina o sentimento coletivo. Fazer teatro ainda é uma batalha, é um ato heroico. Por mais que eu reconheça comparativamente que eu tenha privilégios, sempre foi, e é, muito trabalho, muita luta. Então ser indicada a um prêmio deste é uma confirmação dessa escolha, assim como cada pessoa do público que vem a mim emocionada e transformada é uma confirmação de que o dom que recebi pode ser multiplicado e fazer sentido. Esta peça fala sobre empatia, de uma forma muito amorosa. Sem pôr o dedo na cara. Mas, põe o dedo na ferida. Esse trabalho também me transforma muito, a cada dia que eu entro em cena”, reflete Laila Garin.
Já o diretor de teatro e encenador Marcio Meirelles, que costuma assinar figurino, iluminação e cenário de suas montagens, foi indicado pela cenografia do espetáculo “Do Outro Lado do Mar”, que cumpriu temporada em outubro do ano passado, no Teatro Poeirinha, no Rio. A peça escrita pela dramaturga salvadorenha Jorgelina Cerritos tem atuação de Andréa Elia e Edu Coutinho.
“Muito importante qualquer reconhecimento à arte. O prêmio, a indicação, o reconhecimento a todos que fazemos obras que sustentam a reflexão, a crítica, o deleite e geram empregos e economia. O cenário do espetáculo Do Outro Lado do Mar, indicado ao Prêmio Shell, realmente é feito de poesia, como o são os trabalhos de todos os indicados e dos não indicados também”, compreende Márcio Meirelles.
Um outro nome a despontar na cena nacional é o do ator Fábio Osório Monteiro. Por sua atuação no espetáculo “Sem Palavras”, da Cia. Brasileira de Teatro. Ele recebeu pela primeira vez uma indicação a prêmio, nesse caso, ao Prêmio Shell de Teatro, na categoria Melhor Ator. A montagem também foi indicada nas categorias Dramaturgia (Marcio Abreu/Nadja Naira), Direção (Marcio Abreu) e Melhor Atriz (Vitória Jovem Xtravaganza/ Vini Ventania Xtravaganza). Osório completa 25 anos de carreira em 2023 e é ex-integrante do Grupo Dimenti.
“É gostoso demais receber esta indicação, vinda de fora da Bahia, mas com o nosso sotaque. Fui realmente pego de surpresa. Sobre mudanças na carreira eu ainda não sei dizer. Mas, posso afirmar que, para um artista baiano que tem a sua formação e produção artística concentrada aqui na Bahia e fora do eixo Rio/SP, é como se a gente passasse a existir para o resto do país. Por conta disso, meu desejo é que estas pequenas vitórias individuais possam de alguma forma mover também o nosso corpo coletivo, trazendo-o à luz”, analisa Fábio Osório Monteiro.
Um outro estreante na lista de indicados ao Prêmio Shell, embora já muito experiente e premiado, é o ator e diretor Lázaro Ramos. Ele e Tatiana Tibúrcio são indicados pela direção do espetáculo “O Método Grönholm”, que também foi indicado na categoria Melhor Ator (Luís Lobianco).
“Eu tou muito feliz com a indicação, até porque este foi um projeto que a gente estreou uma semana antes da pandemia, com um esforço coletivo pra levantar o espetáculo e tivemos a grande frustração dele ter sido visto por pouquíssima gente e ficar parado até conseguir voltar a cartaz no fim do ano passado, em São Paulo. Isso pra mim foi uma vitória do teatro. Pra mim, um símbolo de resistência de que vale a pena persistir em fazer o nosso teatro. Essa indicação vem como isso, como incentivo pra gente permanecer nos palcos. Esse espetáculo foi um ato de resistência, num momento em que o teatro vinha sofrendo muito”, avalia Lázaro Ramos.
Confira abaixo a lista completa dos indicados:
SELEÇÃO JÚRI RIO DE JANEIRO
DRAMATURGIA
- Henrique Fontes e Vinicius Arneiro por “Peça de Amar”
- Gilson Barros por “Riobaldo”
- Cecilia Ripoll por “Pança”
- Elisandro de Aquino por “Eu Amarelo”
- Rodrigo Portella por “Ficções”
- Marcio Abreu e Nadja Naira por “Sem Palavras”
DIREÇÃO
- Renata Tavares por “Nem Todo Filho Vinga”
- Enrique Diaz e Marcio Abreu por “O Espectador”
- Rodrigo Portella por “Ficções”
- Paulo de Moraes por “Neva”
- Marcio Abreu por “Sem Palavras”
- André Paes Leme por “A Hora da Estrela ou O Canto da Macabéa”
ATOR
- Reinaldo Junior por “O Grande Dia”
- Milton Filho por “Joãosinho e Laíla: Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia”
- Cridemar Aquino por “Joãosinho e Laíla: Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia”
- Gilson Barros por “Riobaldo”
- Fábio Osório Monteiro por “Sem Palavras”
- Mario Borges por “A Última Ata”
ATRIZ
- Ana Carbatti por “Ninguém Sabe Meu Nome”
- Vera Holtz por “Ficções”
- Vilma Melo por “Mãe de Santo”
- Andrea Beltrão por “O Espectador”
- Vitória Jovem Xtravaganza por “Sem Palavras”
- Vini Ventania Xtravaganza por “Sem Palavras”
CENÁRIO
- J.C. Serroni por “Morte e Vida Severina”
- André Curti e Artur Luanda Ribeiro por “Enquanto Você Voava, Eu Criava Raízes”
- João Marcelino por “Candeia”
- Bia Junqueira por “Ficções”
- Cachalote Mattos por “Turmalina 18 – 50”
- Erick Saboia e Marcio Meireles por “Do Outro Lado do Mar”
FIGURINO
- Wanderley Gomes por “Vozes Negras: A Força do Canto Feminino”
- João Pimenta por “Ficções”
- Ticiana Passos por “Enquanto Você Voava, Eu Criava Raízes”
- Julia Vicente e Gabriel Vieira por “Peça de Amar”
- Marie Salles por “O Espectador”
ILUMINAÇÃO
- Cesar de Ramires por “Morte e Vida Severina”
- Artur Luanda Ribeiro por “Enquanto Você Voava, Eu Criava Raízes”
- Gabriel Fontes Paiva e André Prado por “Um Precipício no Mar”
- Alexandre Gomes por “A Jornada do Herói”
- Maneco Quinderé por “Neva”
- Fernanda Mantovani por “Caim”
MÚSICA
- Jorge Maya pela direção musical de “Luiza Mahin … Eu Ainda Continuo Aqui”
- Itamar Assiere pela direção musical de “Morte e Vida Severina”
- Chico Cézar pela direção musical de “A Hora da Estrela ou O Canto da Macabéa”
- Ananda K pela direção musical de “Candeia”
- Claudia Eliseu e Wladimir Pinheiro pela direção musical de “Vozes Negras: A Força do Canto Feminino”
- Azullllll pela direção musical de “Cão Gelado”
SELEÇÃO JÚRI SÃO PAULO
DRAMATURGIA
- Dione Carlos por “Cárcere ou Porque as Mulheres Viram Búfalos”
- Soraia Costa por “Sete Cortes até Você”
- Ronaldo Serruya por “A Doença do Outro”
- Viviane Dias por “Tarsila ou A Vacina Antropofágica”
- Lucas Moura por “Desfazenda – Me Enterrem Fora Desse Lugar”
- Paola Prestes por “Bata Antes de Entrar”
DIREÇÃO
- Miguel Rocha por “Cárcere ou Porque as Mulheres Viram Búfalos”
- Lázaro Ramos e Tatiana Tibúrcio por “O Método Grönholm”
- Ruy Cortez e Marina Nogaeva Tenório por “A Semente da Romã” e “As Três Irmãs”
- José Fernando Peixoto de Azevedo por “Um Inimigo do Povo”
- Janaina Leite por “A História do Olho – Um Conto de Fadas Pornô-noir”
- Rogério Tarifa por “O Que Nos Mantém Vivos?”
ATOR
- Clayton Nascimento por “Macacos”
- Paulo Marcello por “O Fazedor de Teatro”
- Rodrigo Pandolfo por “F.E.T.O (Estudos de Doroteia Nua Descendo a Escada)”
- Luis Lobianco por “O Método Grönholm”
- Odilon Wagner por “A Última Sessão de Freud”
- Zécarlos Machado por “Papa Highirte”
ATRIZ
- Verónica Valenttino por “Brenda Lee e o Palácio das Princesas”
- Assucena por “Mata Teu Pai – Ópera Balada”
- Ana Lucia Torre por “Longa Jornada Noite Adentro”
- Sara Antunes por “Anjo de Pedra”
- Clara Carvalho por “Um Inimigo do Povo”
- Laila Garin por “A Hora da Estrela ou O Canto da Macabéa”
CENÁRIO
- Fabio Namatame por “A Última Sessão de Freud”
- Daniela Thomas e Felipe Tassara por “Molly Bloom”
- Bira Nogueira por “Meu Reino por um Cavalo”
- Luiz André Charubine e Mandy por “Pérsia”
- Zé Henrique de Paula por “Sweeney Todd”
- Chris Aizner por “Outono, Inverno ou O Que Sonhamos Ontem”
FIGURINO
- Claudia Schapira por “Na Solidão dos Campos de Algodão”
- Marichilene Artisevskis por “Mary Stuart”
- Karen Brusttolin por “Gaslight, uma Relação Tóxica”
- Anne Cerutti por “Consentimento”
- João Pimenta por “F.E.T.O (Estudos de Doroteia Nua Descendo a Escada)”
- Silvana Marcondes por “Nzinga”
ILUMINAÇÃO
- Wagner Pinto por “F.E.T.O (Estudos de Doroteia Nua Descendo a Escada)”
- Cesar Pivetti por “Brilho Eterno”
- Aline Santini por “Na Solidão dos Campos de Algodão”
- Cibele Forjaz por “Altamira 2042”
- Wagner Antonio por “Com os Bolsos Cheios de Pão”
- Wagner Freire por “Mary Stuart”
MÚSICA
- Marco França pela direção musical de “Tatuagem”
- Tom Zé e Maria Beraldo pela música de “Língua Brasileira”
- Alisson Amador, Amanda Abá, Denise Oliveira e Jennifer Cardoso pela execução musical em “Cárcere ou Porque as Mulheres Viram Búfalos”
- Dani Nega, Eugênio Lima e Roberta Estrela D’Alva pela direção musical de “Hip Hop Blues”
- Felipe Botelho, Amanda Ferraresi, NBKE e Wallie Ruy pela execução musical em “Wonder – Vem pra Barra Pesada”
- Dan Maia pela música de “Tebas”
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