A forma como cada pessoa lida com a dor é diferente. Tem quem se entregue completamente ao sofrimento para conseguir passar por ele e sair mais forte. Tem quem entre em estado de negação, tentando fingir que aquilo não aconteceu. Com o luto é bem assim. Um processo intenso e doloroso, que pode se apresentar de diversas formas. E é sobre isso que "A Verdadeira Dor" fala.

O longa traz uma leve, porém profunda, análise sobre as nuances que o luto pode ter. Benji (Keiran Culkin, Succession) é um jovem excêntrico e incompreendido que vai fazer uma viagem com seu primo, David (Jesse Eisenberg, Liga da Justiça - Snyder Cut), para conhecer as origens de sua família judaica. David é reto, sistemático, sem extravagâncias. A ideia de uma viagem a dois veio depois que a avó deles faleceu.
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Benji tinha uma relação profunda com a matriarca da família e sofre muito a sua perda. Ele era próximo e presente. Ainda assim, era visto pela família como uma ovelha negra. Pulava de emprego em emprego, não se estabelecia em nenhum lugar, morava com a avó. A visão do fracasso, para aquelas pessoas. Já David, a visão do sucesso. Casado com um filho, ele ganha bem, tem sua própria casa. Bem dentro dos padrões esperados pela sociedade americana.
Então o que a viagem pode proporcionar para eles? A profundidade das emoções. Benji convoca David a sair da zona de conforto o tempo todo. Ele não tem vergonha das pessoas e muito menos das suas emoções. Ele chora abertamente, grita, fala alto, gargalha. Tudo muito chocante para o primo, que parece se preocupar mais com o que os outros pensam do que consigo mesmo. Essa dualidade acaba se tornando incômoda para David, ainda que para Benji parece um grande regresso ao passado de infância amigável ao lado do primo.

A medida que "A Verdadeira Dor" avança, vamos entendendo mais da extravagância de Benji. O sofrimento por trás da depressão e como ela pode se apresentar das maneiras mais inusitadas. Porque, sim, apesar de toda aquela “alegria”, Benji convive cada segundo com uma depressão profunda. A dor da incompreensão acaba sendo maior e mais forte do que a dor da perda da avó e, no final das contas, é isso que tudo aquilo representa. Ele sobre a perda daquele amor, mas, principalmente, a perda de alguém que o entendia em toda a sua "loucura".
A atuação de Kieran Culkin está completamente primorosa, o que me faz apostar nele para vencer esse Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Ele consegue compor todas as dimensões que seu personagem percebe, transmitindo pelo olhar a intensidade do sofrimento e de suas emoções. Ele explode, sim, mas ele comunica pelo olhar. Algo belo de se ver.

Sob o comando do próprio Jesse Eisenberg, que tem sua segunda experiência como diretor, "A Verdadeira Dor" tem um caminhar "redondo", sem arestas a serem amparadas. Ele envolve o espectador de maneira muito sutil e assertiva, mantendo o seu ritmo monótono, mas sem entediar. O filme nos faz refletir sobre diversos parâmetros da vida. A forma como lidamos com emoções, como enfrentamos o luto, como permitimos que a sociedade nos atinja de maneira ímpar e o quanto a posição de pertencimento é importantíssima para que possamos seguir plenos na vida.
Assista ao trailer de 'A Verdadeira Dor':

Marcela Gelinski
Marcela Gelinski
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