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Valéria decide viver

Neste 1º de março, Dia Mundial de Zero Discriminação, livro sobre HIV ajuda a fortalecer o combate ao preconceito

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Ricardo Ishmael

01/03/2024 às 7:00 - há XX semanas
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Se você aprecia histórias reais, tenho um conselho a te dar: leia esse texto até o fim. Ela traz o relato verdadeiro do que se passou com Valéria, uma jovem brasileira soropositiva. A trajetória de Valéria é inspiradora por vários motivos, especialmente porque, ao compartilhar as suas vivências, ela nos ajuda a entender a necessidade do combate ao estigma, à discriminação e às desigualdades que ainda recaem sobre as pessoas que vivem com HIV.


				
					Valéria decide viver
Livro de Valéria sobre HIV ajuda a fortalecer o combate ao preconceito. Foto: Divulgação

Vamos à história de Valéria.

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Descendente de italianos, cria da classe média alta brasileira, ela nasceu e cresceu em São Paulo. Magra, cabelos pretos e lisos, ela é o que podemos chamar de “um típico exemplo” do que significa ser branca (ou, no caso de Valéria, lida como “socialmente branca”) numa país racista.

Filha de pais separados, Valéria teve acesso a todos os privilégios possíveis: viagens, idas ao teatro, jantares, presentes. Estudou em boas escolas, teve bons amigos, familiares bem colocados nos Estados Unidos, onde passou uma temporada. Fez o que sempre quis. A exceção, diga-se, foi um curso de teatro que desejou participar quanto tinha 12 anos. O pai dizia que aquilo não era “coisa” para a filha dele fazer.

A vida perfeita de Valéria viraria de cabeça para baixo a partir de uma viagem de Natal à Argentina. Ela estava embarcada num Cruzeiro com destino a Buenos Aires quando conheceu aquele que viria a ser o seu primeiro namorado. Estudante de educação física, amante do surf (e dez anos mais velho que ela), o jovem rapaz aparentou desde o princípio ser um cara legal, desses que beijam a mão no primeiro encontro, abrem a porta do carro ou dizem frases românticas.

Valéria tinha apenas 15 anos de idade. Caiu de amores por ele. De volta à São Paulo, começaram a namorar. “Ele era legal, me tratava bem e me enchia de presentes. Vinha na minha casa nos fins de semana, a gente ia numa lanchonete, assistia a um filme... Um típico namorinho”, diz ela.

O namorinho esquentou. Partiram para os “finalmente”. Valéria não estava pronta, mas sentiu-se obrigada a ceder às pressões do namorado para que transassem. Perdeu a virgindade aos 16 anos. A tão desejada primeira vez foi uma experiência péssima. Sem cuidado, sem carinho, sem que ela fosse ouvida ou respeitada. Apenas foi. E sem camisinha. Sobre isso ela disse: “segundo meu namorado, camisinha era coisa de “puta”. Eu não era “puta”; logo, não precisava de camisinha.”

Resultado: meses depois, numa ida ao médico, Valéria descobriu que estava com o vírus HIV. O mundo desabou sobre a sua cabeça. Estamos falando do finalzinho dos anos 1980, quando ainda se buscavam explicações e respostas para a epidemia do HIV, e a AIDS era sinônimo de morte.

O que aconteceu com Valéria a partir do diagnóstico? E o tal namorado, que fim levou? Bom, isso eu não vou revelar. Prefiro deixar que vocês, leitoras e leitores, descubram ao ler o livro escritor por ela, “Depois daquela viagem” (Ática, 2013). Numa das edições da obra, uma rápida apresentação resume o propósito do livro: “alerta autobiográfico para que muitos outros jovens não se exponham às mesmas consequências da desinformação”.

O que interessa, aqui, é despertar a sua curiosidade para o tema que o livro aborda.

Esse texto foi publicado nesta sexta-feira, 1º de Março, o Dia Mundial de Zero Discriminação. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas em 2013 com o objetivo de conscientizar sobre a necessidade de combate a todas as formas de discriminação.

Para a UNAIDS, programa conjunto das Nações Unidas em colaboração com governos e entidades, O Dia de Zero Discriminação “celebra o direito das pessoas a uma vida plena e produtiva com dignidade – não importando sua origem, orientação sexual, identidade de gênero, sorologia para o HIV ou raça e etnia.”

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