A notícia chegou à redação da TV Bahia na madrugada do dia 4 de janeiro de 2013. Então repórter do Jornal da Manhã, fui destacado às pressas para cobrir o que, até ali, parecia ser um princípio de incêndio num casarão do Engenho Velho de Brotas, em Salvador. Chegando lá constatamos, cinegrafista e eu, que se tratava, em verdade, de um incêndio de grandes proporções. As chamas haviam devorado toda a parte interna do prédio do século 18. Lembro da fumaça que cobria tudo em volta, do cheiro da madeira gemendo, da violência com que as labaredas lambiam escadas com tapetes vermelhos, os belos lustres, móveis de todo tipo, além de documentos da administração pública.
Consumidos pelo calor, o teto da torre e algumas paredes vieram abaixo. Onze anos se passaram desde aquele madrugada e ainda hoje não se sabe, de fato, quais foram as causas do incêndio que tragou o Solar da Boa Vista. Aquele prédio tombado pelo Patrimônio Nacional, à época sede da Secretaria Municipal da Educação, também já havia funcionado como sede do Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira e da prefeitura municipal.
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O destaque maior, porém, reside no fato de o casarão ter sido uma das moradas do poeta baiano Antônio Frederico de Castro Alves. Nascido há exatos 177 anos, o “Gandoleiro do Amor” viveu ali e lá compôs alguns poemas. O abandono em que se encontram as ruínas do sobrado, e a absoluta falta de interesse dos poderes públicos em recuperá-lo, contrastam com as excelentes condições de um outro imóvel que também foi morada do baiano ilustre.
Trata-se do Casarão de Castro Alves, imponente casarão cor de goiaba e com simpaticas portas azuis que emoldura a principal praça da cidade que traz em seu nome uma homenagem ao poeta. Nos curtos períodos em que viveu em Curralinho, hoje cidade de Castro Alves, o poeta escreveu 13 grandes poemas, considerados por estudiosos o “auge” da sua fase lírica.
Desses poemas, três foram dedicados a Leonídia Fraga, uma namorada da adolescência. Todas essas histórias e memórias guardadas por grossas paredes compõem a atmosfera do imóvel, um dos locais de realização da quarta edição da Feira Literária do Poeta Castro Alves. Apelidado de FLIPO, o evento vai até sábado (16) e abre oficialmente o calendário de festas literárias da Bahia.
Além de escritores nacionais e baianos, entre eles este que aqui escreve, a festa de Castro Alves amplia o conceito de literatura ao incluir na grade, por exemplo, a participação de atores.
Uma das mesas mais concorridas, aliás, contou justamente com o ator soteropolitano Evaldo Macarrão, o Jupará da novela Renascer.
Sob o título “A Bahia é o mundo”, Macarrão refletiu sobre a trajetória revolucionária de Castro Alves, a importância dos sonhos para a formação integral dos sujeitos e a crença na potência que cada pessoa traz em si. “Eu estou mais fervoroso de que eu não posso desistir de mim”, disse ele.
Veja baixo imagens do casarão do poeta Castro Alves, onde acontece a Feira Literária
Ricardo Ishmael
Ricardo Ishmael
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