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CINEMA

Filme sobre Ney Matogrosso estreia quinta (15) nos cinemas

O cantor é apresentado ao público em suas diversas faces: do Ney amante da natureza ao performático artista

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12/05/2014 às 11:28 • Atualizada em 29/08/2022 às 16:17 - há XX semanas
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Aos 72 anos, Ney Matogrosso conserva o mesmo vigor que lhe alçou à fama: performático, enérgico e plural, o artista apresenta as suas múltiplas faces no documentário Olho Nu
Múltiplo. Muitos em um só, mas, essencialmente, coerente - e um dos maiores intérpretes da história da MPB. Assim pode ser definido Ney Mato grosso, 72 anos, mais de 40 de carreira e muitas histórias pra contar. Algumas delas, da infância em sua terra natal (Bela Vista, no Mato Grosso do Sul) aos encontros musicais com nomes como Chico Buarque e Ângela Maria, podem ser degustadas nos cinemas a partir desta quinta, quando estreia Olho Nu, documentário de Joel Pizzini. Mas o público baiano pode conferir hoje mesmo,na abertura do Festival Internacional do Documentário In-Edit Brasil, às 20h, na Sala Walter da Silveira, nos Barris. “Não é um filme sobre o Ney, mas através dele; pra contar coisas e valorizar instantes da sua vida. Ele é ‘ineysgotável’”, brinca o diretor, convidado pelo próprio Ney para assumir o filme. A ideia partiu do diretor geral do Canal Brasil (produtor associado ao lado da baiana Paloma Rocha), Paulo Mendonça, amigo de Ney e um dos principais letristas do grupo Secos e Molhados, autor de sucessos como Sangue Latino e O Doce e o Amargo. Daí ao filme propriamente dito, passaram-se cinco anos. “Na verdade, a ideia inicial era um especial de tv sobre a vida de Ney”, conta Paloma, filha do cineasta Glauber Rocha (1939-1981). “Eu tô muito gratificada de ter conseguido produzir isso com qualidade cinematográfica; um ensaio-poético sobre um artista que transcende a figura do cantor. E muito feliz de tê-lo conhecido”. REVOLUCIONÁRIO Ao longo de 1h40,o cantor é apresentado ao público em suas diversas faces: do Ney amante da natureza ao performático artista que, nas palavras do próprio, chocou pais de família na década de 1970, quando surgiu de cara pintada, todo fantasiado e andrógino, como vocalista dos Secos e Molhados. “Surgi de maneira agressiva, no contexto da repressão. Minha nudez era agredir. Minha arma era a libido. Era uma maneira de reagir à estupidez e violência da Ditadura Militar”, confessa na entrevista no Espaço Itaú de Cinema, em Botafogo. No filme, Ney fala que queria trepar com a plateia.“Hoje, quero acariciá-la. Olho pro público como alguém com quem namorasse há 40 anos”, contrapõe. “Também não há mais necessidade de ser agressivo. Eu tenho plena consciência de que mexi com tabus naquele momento. E recebi muitos avisos de que estava me excedendo. Mas, toda vez que me avisavam, eu me excedia mais”, ratifica. Naquele tempo, ele chegou a ser detido pela polícia, ameaçado e coagido, após uma abordagem em São Paulo, acompanhado de alguns músicos, quando saia do seu primeiro show solo, Homem de Neanderthal, em 1976. “Me mandaram dançar. Eu, abusado, disse que só dançava pra quem me pagasse. Depois, insinuaram que havia drogas na bolsa, ao que respondi que, se tivesse, já estaria na cabeça”, lembra, acrescentando que o carro que os abordou sequer era oficial. “Foi tudo muito agressivo. A sorte é que um policial me reconheceu”.
Imagem dos bastidores como diretor do filme, Joel Pizzini: “Não é um documentário tradicional, linear”
PERSONAGEM Apesar de filho de militar – o pai chegou a servir na 2ª Guerra Mundial –, a arte sempre fez parte da vida de Ney Mato grosso. “Sempre achei que era artista”, diz. Primeiro,quis ser pintor–e, na falta de papel, desenhava em saco de pão ou mesmo no chão. Depois, achou que fosse ator – quando jovem, matava aula para ir ao cinema. “Dei uma sorte na vida, ser filho de militar já me colocou como transgressor. Só sei ser subversivo”, define ele que, para fugir da repressão dentro de casa, se alistou na Aeronáutica e pediu transferência pro Rio de Janeiro, onde viveu como hippie, fazendo artesanato de bolsas de couro. Mas bastou subir ao palco para, enfim, se descobrir. “O palco foi a liberação de minhas fantasias e medos. Revelou uma parte minha que não tinha consciência. Até os Secos e Molhados, sentia vergonha de mostrar meus pés e mãos. Com aquela maquiagem, perdi o rosto e virei uma coisa”. E quem o vê no palco, soberano, quase transcendendo, não imagina a serenidade que o acompanha quando não está em cena.“Nunca subi no palco como uma pessoa, é sempre um personagem. Quando saio dali, não levo nada pra casa. É como se fosse uma sereia que desce; um ser que canta”. Mas se engana quem pensa que é pura espontaneidade. “Improviso a partir de muito ensaio. Pratico bastante, até não saber mais o que fazer, aí fico solto”, revela Ney. Ao que Joel Pizzini completa: “Tem uma frase de Manoel de Barros que define bem: ‘Repetir, repetir até ficar diferente’”. ESTÉTICA Inclusive, foi o poeta matogrossense que uniu os dois, em 1989, parceiros no primeiro curta de Pizzini, protagonizado por Ney, Caramujo Flor. “Ney lembrava de todas as sequências que não entraram no filme”, conta Joel. Não por acaso, elas foram acrescentadas a Olho Nu, junto com material selecionado a partir de 300 horas de gravação do acervo pessoal do cantor, e ainda outras 200 horas rodadas para o filme. O resultado final, portanto, mistura formatos – VHS, 16 mm, Super8 e Betamax–e garante o caráter experimental e artístico do trabalho, fora de padrões convencionais. “O desafio foi não fazer uma coisa ‘conteudística’. Tinha o critério estético também”, conta o diretor, à frente do argumento do longa, revelando que precisou regravar alguns áudios e restaurar imagens. Parte desse material extra poderá ser conferido em uma série de cinco capítulos, produzida pelo Canal Brasil que, segundo Pizzini, vai contextualizar mais a história.“O filme tem um quê de surrealismo. Não é um documentário tradicional, linear. É um filme circular, que vai revelando a metamorfose de Ney. É como se fosse um auto retrato em 3ª pessoa, um documentário de criação, em que Ney é ator de suas próprias histórias”. A justificativa é assegurada por Paloma Rocha. ”Ney permite esse tipo de construção do seu próprio discurso. E o filme conseguiu trazer a essência de sua alma, por ele ser essa coerência”. E o próprio ratifica: “Tudo que fiz e faço tem o mesmo princípio: a necessidade de originalidade”. Para Ney, que já morou em diversas cidades por conta do ofício do pai (inclusive Salvador, aos 3 anos), o alicerce da vida é a liberdade. “Guardo as coisas boas que a vida me ofereceu, mas não sou nem um pouco saudosista nem conseguiria ser apegado ao passado. Me sinto um ser humano livre, sem estar preso a nada”. Preso, aliás, Ney Matogrosso está só à arte. E, justamente por isso, igualmente livre. Matéria Original Correio 24h Camaleão das Artes Leia também Filme sobre Dominguinhos estreia em 22 de maio

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