A traição é motivo de tristeza na vida de muitos, causa separações e problemas para quem traiu ou foi traído. Acontece frequentemente, mas ninguém quer saber de ser traído e esconde a sete chaves as próprias traições. Resumindo: ninguém quer ser corno ou admitir que deu um sequer. Só que Reginaldo Rossi,
morto nesta última sexta-feira (20) da primavera de 2013, conseguia fazer do chifre um motivo de orgulho em seus shows e costumava dizer que "quem nunca foi corno, um dia há de ser". Nos meus poucos 24 anos de vida, tive a oportunidade de assistir a dois shows do pernambucano que levou a sua música brega - ou apenas romântica - Brasil afora. Um deles em junho deste ano, no Sfrega, tradicional festa de camisa que acontece no São João de Senhor do Bonfim. Lá, Reginaldo fez uma apresentação incrível, uma das últimas na Bahia (última aconteceu em Amargosa, no mês de novembro). Talvez pareça exagero para alguns o uso de tal adjetivo, mas é o que acho que foi. A festa não me agradou tanto, mas eu voltaria só para vê-lo no palco novamente. Nunca tinha visto alguém perguntar "tem corno aí?" e milhares responderem "sim" prontamente, com o orgulho de quem bate no peito para dizer para qual time torce desde criança. Já não era o auge de Reginaldo Rossi, mas ele estava em boa forma e os sucessos que marcaram sua carreira estavam na ponta da língua de todos os presentes. Talvez a cerveja e o foco na pegação não tenham permitido que todo o público prestasse atenção como se estivesse em um show no Teatro Castro Alves, mas o envolvimento era tão grande que não vejo por qual razão rebaixar uma apresentação como aquela. A função dele foi cumprida, o povo foi entretido. A galera cantou, bebeu, se abraçou, perdoou por um momento e corneou também. Ele sabia como conduzir a multidão ávida por um amor, que não tinha vergonha de mostrar-se brega. Não sei quais foram as últimas palavras de Reginaldo no leito da sua morte, mas vou lembrar com um sorriso no rosto da sua irreverência, marcada em frases de efeito, como quando dizia que não gostava de baiano, só de baiana. Ou até quando afirmava, se incluindo, que nós homens somos todos "safados", levando as mulheres, que ele tanto amava, à loucura. Resta aproveitar esta sexta-feira e chamar o garçom para brindar ao Rei de Pernambuco, seja você corno ou não. Viva a música brega!
Assista: Reginaldo Rossi no Sfrega [youtube o5abpPHyOx4]