As denúncias de corrupção e a desvalorização do petróleo têm empurrado o preço das ações da Petrobras para baixo e a consequência é direta na avaliação da companhia no mercado. Segundo números da consultoria Economatica, o valor de mercado da empresa fechou, no último dia 7 de janeiro, a R$ 106 bilhões – quase sete vezes menos que no auge de sua cotação, em 21 de maio de 2008, quando chegou a R$ 737 bilhões, a preços de hoje, já considerando a inflação. Se fosse vendida há seis anos, o valor da estatal daria para comprar 21 milhões de carros populares – sete carros para cada morador de Salvador (onde a média da população ultrapassa os três milhões de habitantes). Hoje, compraria apenas três milhões de veículos – um para cada morador da capital baiana.No dia 12 de dezembro de 2014, o valor da estatal era de R$ 127 bilhões. Isso significa que, em apenas 25 dias, a companhia se desvalorizou em R$ 21 bilhões. Em 2011, a Petrobras chegou a ser a 5ª maior empresa do mundo, avaliada em R$ 291,5 bilhões. O preço das ações da Petrobras na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) chegou à mínima de R$ 8,04, na terça-feira, 6, fechando o dia em R$ 8,33 – 80,92% a menos do que os R$ 43,66 que as ações valiam em maio de 2008. A estatal brasileira vale hoje menos do que antes do anúncio das descobertas do pré-sal.Para investidores do mercado financeiro, é como se as reservas gigantes de petróleo, anunciadas em novembro de 2007, tivessem perdido todo o valor. Para o consultor independente Daniel Lopes, da Futura Invest, o comparativo faz sentido. “Acho que hoje a Petrobras vale até menos. Até o pré-sal que foi tão festejado é dúvida agora. É imprevisível que ele seja viável. Se a empresa não conseguir operar num nível de petróleo mais alto, não é viável”, analisou. MotivosAs investigações de corrupção não são o único motivo para a decadência. A Petrobras acumula, nos últimos anos, uma sucessão de episódios que a levaram à descida desenfreada. As quedas tiveram início em 2008 com a crise financeira global, que impactou a Bolsa brasileira. Em 2013, a Petrobras sofreu prejuízos porque não pôde reajustar os preços da gasolina para não influenciar a inflação. Em 2014, quando a cotação da estatal ensaiava uma recuperação, as notícias de corrupção atingiram a empresa. Neste início de 2015, as incertezas que rondam a companhia podem desvalorizar ainda mais a Petrobras. O balanço contábil do terceiro trimestre de 2014, que deveria ter sido publicado até 14 de novembro, já teve sua divulgação adiada várias vezes e agora está previsto para sair até 31 de janeiro – prazo final que a estatal tem para não pagar multas astronômicas aos credores pelo atraso. Em novembro, a empresa disse “não estar preparada” para divulgar o balanço e avisou que aguardaria desdobramentos da Operação Lava Jato da Polícia Federal, que desde março investiga as denúncias de corrupção na companhia.Ainda não se sabe, no entanto, o impacto que as propinas pagas e denunciadas por ex-diretores terão no balanço da companhia, caso fiquem comprovadas e sejam reconhecidas. Mais motivos A empresa enfrenta ainda uma ação movida por acionistas minoritários que pedem indenizações milionárias na Justiça americana.Na última semana, o escritório de advocacia americano Glancy Binkow & Goldberg informou ter entrado com ação coletiva na Justiça de Nova York contra a Petrobras. O novo processo engloba investidores que compraram títulos da companhia entre 20 de maio de 2010 e 21 de novembro de 2014. Além disso, o fundo Aurelius Capital Management lidera uma campanha para que os detentores de títulos da estatal emitidos nos EUA notifiquem a Petrobras sobre falhas na gestão que levaram ao adiamento do balanço. A partir dessa eventual notificação, a estatal tem 60 dias para ser declarada em calote técnico se não publicar as demonstrações. Para complicar ainda mais, a cotação do barril de petróleo põe mais instabilidade na situação da Petrobras. A desvalorização da commodity até ajuda o caixa da companhia, mas apenas em curto prazo. Caso os preços permaneçam por longo período em baixa, podem inviabilizar investimentos, inclusive no pré-sal, pelos custos com a exportação.Petróleo O petróleo Brent caiu 60% desde o pico do ano passado, registrado em junho, quando chegou a US$ 100, tendo atingido os níveis mais baixos desde março de 2009, na terça-feira, 13. Os preços do WTI fecharam a US$ 45,89, e o Brent do mar do Norte em Londres chegou aos US$ 45 ao longo do dia, fechando em US$ 45,19. O petróleo está sendo negociado no menor patamar em quase seis anos.Um dos motivos da queda é a preocupação com a oferta excessiva da commodity, embora o Federal Reserve da Filadélfia tenha divulgado uma pesquisa dizendo que a atividade industrial na região do meio Atlântico dos EUA cresceu em um ritmo mais lento em janeiro. A Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) afirmou, no entanto, que a desaceleração não impede que a demanda por petróleo do grupo exportador caia em 2015 para seu nível mais baixo em uma década. Já o Bank of America Merrill Lynch previu esta semana que o preço do petróleo Brent cairá acentuadamente até o final do primeiro trimestre, para US$ 31 o barril, e que o mesmo deverá acontecer com a commodity negociada nos EUA (WTI), cuja tendência é cair para US$ 32 o barril. Em nota, a Petrobras afirmou, na terça-feira, 6, que está aumentando sua capacidade de produção no pré-sal de “modo economicamente viável”, por receio de que a queda acentuada do petróleo no mercado internacional possa afetar seus lucros.O consultor Daniel Lopes explica que os custos para extração do petróleo no pré-sal são muito maiores que na Arábia Saudita, por exemplo, onde é possível encontrar petróleo em níveis muito próximos ao solo. “São esses custos maiores para o Brasil que inviabilizariam a exploração do pré-sal”, acredita. AçõesA queda das ações da Petrobras parece mostrar um filme repetido. Isso porque as perdas já são quase iguais às registradas durante a crise de 2008. De maio a novembro daquele ano (em 132 dias), os papéis preferenciais da petroleira desabaram 68,8%, enquanto de setembro de 2014 até a primeira semana de janeiro de 2015 (90 dias), a desvalorização foi de 67,7%. Para o consultor independente de investimentos Weber Fogagnoli, a crise atual é bem pior. “Em 2008, foi uma crise global e muito mais pulverizada. Agora a crise, diretamente ligada à Petrobras, é ainda mais grave”, afirma.A continuidade das quedas suscita várias dúvidas nos investidores. Afinal, o que fazer com as ações da Petrobras? É melhor vender e arcar com o prejuízo para evitar futuras perdas? Ou o ideal seria comprar mais, aproveitando o preço baixo das ações? O especialista em finanças públicas e presidente do Conselho Regional de Contabilidade da Bahia, Wellington Cruz, aposta que este seja um momento de oportunidade para os investidores. Ele revela que esta foi, inclusive, uma opção pessoal. “Semana passada, comprei ações da Petrobras por R$ 8,50 e, no mesmo dia, perdi 22 centavos do momento em que comprei até o fechamento da Bolsa. Mas isso é uma aposta minha de que, no futuro, a empresa vai melhorar”. “Para quem já tem ações, acredito que seja mais vantagem segurar e não venderagora. Com a gasolina aumentando, a gente deve vender petróleo mais caro e com a nova estrutura na gestão da Petrobras, a empresa tende a melhorar. A China também tende a aumentar o consumo e comprar da gente. Agora é comprar e esquecer esse investimento por pelo menos um ano. Saber que você não vai ter retorno agora”, aconselha. E para quem acha que a situação não pode ficar pior e por isso seria a hora de investir, Daniel Lopes alerta que não é bem assim. “As ações podem ir até zero, então pode ficar pior. Não é por que caiu muito que agora vai voltar a subir. Se desvalorizou tem algum motivo”, adverte.Na análise de Weber Fogagnoli, se o valor do petróleo chegar aos US$ 40, as ações da Petrobras podem cair mais 10% a 15%. “Tem muita âncora puxando a empresa para baixo e nenhum balãozinho ajudando a subir”, diz. “Por mais que esteja barato, não sugiro a compra dessas ações. Tem que ter muito sangue frio. Então, aconselho esperar essas investigações”, complementa.Escândalos e investigações de corrupção sufocam a estatalNo centro de um escândalo de corrupção e investigações da Polícia Federal (Operação Lava Jato), a Petrobras pode ter sua imagem ainda mais prejudicada caso as denúncias sejam consideradas verdadeiras. Para o especialista em administração pública, autor de livros sobre o impacto da corrupção na administração pública e doutorando no assunto Antônio Ribeiro, não há dúvida de que a corrupção é um fator preponderante para a desvalorização da empresa. “Não se sabe o que vai acontecer daqui em diante, não houve divulgação dos balanços (do terceiro trimestre de 2014) e a auditoria se recusou a assinar os relatórios. Não se sabe a profundidade do problema, pois o balanço retrata a realidade financeira da empresa, desde que não seja maquiado, evidentemente”, analisou. O consultor independente de investimentos Weber Fogagnoli avalia que a repercussão já está sendo grande desde agora. “Se as investigações já estão provocando tudo isso, caso se confirmem as denúncias vai desvalorizar mais a companhia. Aí vai ter que quantificar o quanto de prejuízo teve para a empresa e contabilizar o que interferiu nos lucros. Quanto mais se descobrir e se apurar, mais vai interferir”, destacou. De acordo com o consultor independente Daniel Lopes, da Futura Invest, o problema é gradativo e “recentemente, os escândalos jogaram ladeira abaixo as ações da companhia”. “Isso é ruim para qualquer empresa, que perde credibilidade e fica mais difícil obter linhas de crédito para financiar novos projetos”, destaca o consultor. Antônio Ribeiro acredita que o que vem acontecendo com a Petrobras é um modelo administrativo do atual governo e a manutenção desse modelo pode trazer prejuízos graves ao Brasil. “O maior problema da Petrobras decorre de uma concepção atrasada, aliada ao despreparo de determinados dirigentes para tratar de uma empresa tão complexa e de valor patrimonial tão elevado como esta”, sentencia e acrescenta que “o Brasil poderia ser um outro país se pudesse reduzir significativamente a corrupção, mas dificilmente romperá seu atraso social e econômico se não romper com a corrupção instalada”, conclui o especialista.
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