Os amplos corredores do palacete cor-de-rosa eram muito mais barulhentos que o silêncio de convento que eu imaginava. No início dos anos 1980, levado pela minha mãe, professora da pré-escola, fiquei fascinado pela algazarra das correrias, dos gritos, da alegria dos meninos e meninas do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), em Laranjeiras.
Fascínio que deu lugar à insegurança quando fui chamado a bater um papo com os alunos, e tive que me virar pra me fazer entender. Falávamos idiomas diferentes. Não sabia me expressar nos gestos deles.
Mas em poucos minutos, alunos surdos e filhos ouvintes (meu irmão junto) se entendiam na linguagem das brincadeiras e dos gestuais — sem necessidade de tradução ou intérprete.
Passadas mais de três décadas, dei de cara com um post no Facebook de um ex-dirigente e fundador do grêmio da escola, colega do tempo de movimento estudantil. Alex Curione Barros é professor, e atualmente faz mestrado na Universidade Federal de Santa Catarina. Tem um enteado e dois filhos. E foi justamente uma conversa entre ele e o filho Lorenzo, de três anos, que me chamou a atenção.
Lorenzo é ouvinte, e se comunica com o pai na Língua Brasileira de Sinais (Libras). Essa aparente dificuldade de comunicação fica totalmente descartada quando percebemos o diálogo acima. O filho se sentiu à vontade para expor ao pai, em uma segunda língua, seu entendimento sobre o que via na TV. Alex exerceu seu papel de pai ao esclarecer que homens e mulheres são iguais, e assim devem ser tratados — por surdos e por ouvintes.
— Lorenzo aprendeu Libras com menos de um ano de idade. Nós nos comunicamos assim, eu, ele e o irmão Matteo. — afima Alex, casado com Patrícia Rezende, também surda e oralizada. — Matteo tem quase de 2 anos, está fazendo balbucio do vocabulário de língua de sinais. Sempre falamos em minha língua. Obrigado! ;)
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Redação iBahia
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