Por que as carteiras enfileiradas são frequentes nas salas de aula? Por que o método de ensino normalmente é expositivo? Por que as aulas precisam começar às 7h da manhã? Por que estudantes não podem usar celular? – são questionamento comuns entre aqueles que defendem uma escola conectada com a realidade, fora dos muros escolares. Um mapeamento coordenado pelo Instituto Inspirare, em 30 países, identificou 96 experiências (15 delas do Brasil) que inovam na prática pedagógica, a partir de cinco tendências que aproximam a prática educacional das exigências do século 21.
"Temos pouco uso de tecnologia", disse a diretora do Instituto Inspirare, Anna Penido. Segundo ela, a manutenção de horários e arquiteturas persiste há séculos, da mesma forma. "São as mesmas metodologias dos tempos de nossos avós, mas hoje temos alunos muito diferentes, sociedade diferente, que demanda outras competências desses alunos. O questionamento atual é, portanto, como transformar essa realidade.”
As experiências foram indicadas por um grupo de especialistas, com base em competências para o século 21, personalização, experimentação, uso do território e novas certificações. Uma das experiências selecionadas foi em Campo Limpo, periferia da zona sul de São Paulo. A escola do bairro ensina a jovens e adultos, a partir dos 15 anos, que, por várias razões, não frequentaram a escola regular: aqueles que foram expulsos de outras escolas, trabalhadores que voltaram a estudar, adolescentes que cumprem medida socioeducativa e dependentes químicos, entre outros. Dirigida pela educadora Eda Luiz, a escola abandonou o modelo tradicional de disciplinas, turno escolar e avaliação, tornando-se mais flexíveis, o que contribuiu para diminuir a evasão.
A escola tem seis turnos de duas horas e meia cada, cobrindo manhã, tarde e noite. Os estudantes são divididos em módulos, de acordo com o nível de conhecimento, e têm flexibilidade para assistir às aulas em horário diferente daquele em que estão matriculados. As disciplinas foram substituídas por áreas de conhecimento, como linguagens e códigos, ciências humanas, ciências do pensamento e ensaios logísticos e artísticos. Em vez de prova, os alunos fazem um trabalho que dura seis meses e envolve toda a escola. O resultado vira uma intervenção no bairro. Em 2007, o projeto da escola foi base para mudanças em toda a rede municipal.
No InnoveEdu é possível identificar o tipo de experiência em que se busca inspiração. A escola de Campo Limpo, por exemplo, atende à tendência de personalização, ao flexibilizar horários e disciplinas, estimula a experimentação, com base em projetos que integram toda a escola, e gera produtos concretos, usados na comunidade. Também é possível saber o grau de uso de tecnologia, o número de pessoas impactadas, a idade dos beneficiários e fases do projeto. Segundo a diretora do Inspirare, as informações têm como foco professores, formuladores de políticas públicas e empreendedores sociais. Anna Penido chama a atenção para os prejuízos de uma escola que não está atenta a essas tendências. “Uma escola desconectada [da realidade] gera baixo engajamento dos alunos, que não veem utilidade nem têm entusiasmo para estar ali. A gente vê os alunos saindo despreparados para enfrentar os desafios na vida, sejam pessoais ou profissionais, e também como cidadãos.”
De acordo com Anna, a necessidade de transformações na educação não é uma peculiaridade do Brasil, mas sim, um desafio global. Tanto que esse padrão de escola está presente em todos os lugares do mundo. "A gente tem exemplos disruptivos [que interrompem o seguimento normal de um processo], que fazem uma escola diferente, que destacamos na plataforma, mas a maioria delas é semelhante”, afirmou. Segundo ela, o salto qualitativo que se almeja na educação brasileira deve ser dado com o novo modelo de escola.
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