Passeando com a filha pelos corredores de um shopping em Porto Alegre, a pedagoga Paula Marques Lacerda, de 44 anos, avistou um espaço que oferecia atividades para crianças. Mas sua menina, Valentina, de 8 anos, estava impedida de usar um dos brinquedos, conforme mostrava uma placa que trazia um símbolo proibindo a entrada de crianças com deficiência.
Valentina nasceu com uma má formação cerebral chamada holoprosencefalia, causando dificuldades de locomoção. Na foto publicada por sua mãe nas redes sociais, ela aparece numa cadeira de rodas, olhando em direção à câmera do celular, ao lado da placa. Embora não possa andar, sua vontade de se divertir não é afetada pela doença, disse Paula, em entrevista ao EXTRA nesta segunda-feira.
— Foi revoltante demais. Quando postei aquela foto não era para dizer que entraria com um processo, mas para que ficasse como um marco para que não aconteça mais. A inclusão tem que começar de alguma maneira — explicou. — Um dia as amigas da Valentina foram lá em casa e elas brincaram, se divertiram. Há diversas formas de brincadeiras para crianças. Essa boa vontade para promover a inclusão tem que existir nos espaços públicos e privados. Provavelmente quem pensou em um brinquedo no shopping que excluísse crianças com deficiência não convive com uma criança na mesma situação que minha filha.
A pedagoga frisou não ter recebido um pedido de desculpas do estabelecimento comercial, embora a conta da empresa no Instagram tenha se manifestado sobre o caso por meio de um comentário em sua publicação.
"Oi Valentina. A administração do BarraShoppingSul esclarece que o seu intuito foi apenas apontar os cuidados recomendáveis para acesso ao escorrega. Agradecemos a colaboração, sempre necessária ao aprimoramento das sinalizações dessa natureza e informamos que a sinalização já foi adequada", disse.
A mensagem do shopping não foi o que Paula estava esperando. Mais uma vez, ela marcou o perfil da empresa na rede social e voltou a chamar atenção para a necessidade da inclusão de crianças com deficiência nas atividades infantis.
"Vocês já se deram conta quantos eventos de Natal, Páscoa, Dia das Crianças, etc, vocês simplesmente ignoram as crianças com alguma deficiência? Nem uma mesinha que caiba uma cadeira de rodas embaixo vocês colocam para eles pintarem desenho. Isso é triste demais", desabafou.
A assessoria de imprensa do BarraShoppingSul foi procurada, mas ainda não se manifestou.
— Eles não tinham ideia da responsabilidade daquela placa ao lado do escorregador. Era uma praça para crianças brincarem. Não podem excluir aquelas que tem alguma deficiência — ressaltou Paula.
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Visualizar esta foto no Instagram.Uma publicação compartilhada por Valente Valentina ♿️????❤️ (@valentina.curtindoavida) em 30 de Nov, 2018 às 10:30 PST
'Luto pela inclusão'
Para ressaltar a importância de incluir crianças com deficiência em atividades escolares, culturais e esportivas, Paula criou um blog para mostrar o dia a dia de Valentina, pouco depois de seu nascimento. Com o passar dos anos, transferiu as publicações para as redes sociais, por considerar uma forma mais direta de promover a importância da inclusão na internet.
— Tivemos uma aceitação (sobre a doença da Valentina) muito rápida, graças a Deus. Criamos o blog para mostrar que a situação de descobrir que o filho tem uma deficiência não é o fim do mundo. O objetivo é ajudar as pessoas e dar força para as mães — afirmou a pedagoga.
Sobre os principais desafios, Paula citou uma escola onde sua filha estudou. A instituição não dispunha de estrutura ou ideais que promovessem a inclusão. Embora a mãe de Valentina visse uma boa vontade por parte da professora, os proprietários da unidade não se mostravam abertos a adotar mudanças necessárias. Nessa situação, Paula decidiu entrar com um processo. Mais tarde, contou ter encontrado uma escola "maravilhosa", que oferece um ensino adaptado às necessidades da sua filha.
— É preciso pensar no bem geral das crianças. Luto pela inclusão — frisou a mãe de Valentina.
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Redação iBahia
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