As últimas atitudes de Jair Bolsonaro frente à pandemia do coronavírus têm sido duramente criticadas pela imprensa internacional. No domingo, contrariando as recomendações de isolamento para as pessoas que podem ficar em casa, o presidente saiu do Palácio da Alvorada para um passeio por Brasília, posou para fotos com adultos e crianças e, mais uma vez, defendeu práticas que desafiam as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do próprio Ministério da Saúde. Preocupado com a economia, Bolsonaro já pediu inúmeras vezes o fim do confinamento em massa, afirmando que “a vida precisa continuar” e tratando a Covid-19 como uma “gripezinha”.
Numa reportagem, a rede britânica BBC descreveu as atitudes de Bolsonaro que dão a entender que ele não está levando a sério o perigo da pandemia. “Enquanto o mundo tenta desesperadamente combater a pandemia de coronavírus, o presidente do Brasil está fazendo o possível para minimizá-la”, afirma o texto.
Um levantamento do site “G1” mostra ainda o que falaram outras publicações de vários países.
A “The Economist“, do Reino Unido, uma das revistas mais importantes do mundo, chamou o presidente de “BolsoNero”, numa alusão ao último imperador romano, tido como um tirano extravagante. O artigo da revista afirma que o novo coronavírus ignora classes sociais no Brasil, que são socialmente distantes, mas fisicamente próximas: “Um vetor pode ser o presidente populista, Jair Bolsonaro. No dia 15 de março, depois que seu secretário de Comunicações foi diagnosticado com o vírus, ele ignorou ordens de quarentena e tirou selfies com fãs. Quando o primeiro brasileiro morreu de Covid-10, no dia seguinte, ele denunciou uma ‘histeria’ sobre o vírus”.
O jornal americano “The New York Times” reproduziu um texto da agência de notícias Reuters que diz que as medidas econômicas de austeridade põem em risco a luta contra o coronavírus. Está escrito, por exemplo, que as atitudes para mitigar a pandemia no Brasil são “muito cautelosas e limitadas”: “Jair Bolsonaro, que assumiu em janeiro de 2019 com a promessa de uma mudança econômica, repetidamente culpou a ‘histeria’ da mídia por causar pânico em torno do que ele classifica de ‘uma gripezinha’. Ele chamou o fechamento do comércio em muitos dos estados de ‘um crime’”.
Abaixo, o que publicaram outros veículos.
‘The Atlantic’, EUA
A revista descreveu as frases de Bolsonaro a respeito da pandemia, como a que a descreve como uma “gripezinha”, e a declaração de que “brasileiro tem que ser estudado” porque “pula no esgoto ali, sai, mergulha, tá certo? E não acontece nada com ele”. No título, a publicação classifica o presidente do Brasil como o líder do movimento de negacionistas do vírus.
‘La Nación’, Argentina
O jornal publicou reportagem sobre os assessores que estariam influenciando a postura de Bolsonaro. O título é “O ‘gabinete do ódio’: o corpo de conselheiros de Bolsonaro na crise pela pandemia”. “Bolsonaro aprofundou a radicalização de seu discurso diante da crise do coronavírus, cada vez mais aconselhado pelo ‘gabinete do ódio’: um grupo de consultores ideologizados (assim chamados pela imprensa brasileira), com o selo e a presença de seu filho Carlos Bolsonaro”, descreve.
‘Der Spiegel’, Alemanha
O site da revista alemã noticiou o fato de Bolsonaro ter tido dois posts apagados de seu Twitter porque violavam as regras da rede social: “As mensagens excluídas são dois vídeos que mostram como Bolsonaro desconsidera as recomendações de seu próprio Ministério da Saúde para combater a pandemia. O presidente pode ser visto andando pela capital Brasília no domingo, encontrando-se com apoiadores e instando-os a manter a economia funcionando”.
‘Le Monde’, França
O jornal publicou que as declarações e Bolsonaro, mostrando um encontro dele com pessoas nas ruas de Brasília, são uma “contradição” ao que seu próprio governo prega: “Menos de 24 horas antes, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, destacou a importância do confinamento no combate à pandemia de coronavírus”.
‘La Reppublica’, Itália
O jornal afirmou que Bolsonaro não desiste e que afirma que o novo coronavírus causa apenas uma gripe, além de ter dito aos governadores de São Paulo e Rio de Janeiro que eles devem reabrir tudo, mesmo com o avanço da pandemia.
Associated Press
Na agência de notícias, um texto afirma que ele trata a pandemia de maneira desdenhosa, mesmo com o aumento de casos no país.
“G1” lembra líderes que já voltaram atrás em suas atitudes frente à pandemia do coronavírus
Enquanto Bolsonaro insiste em defender o isolamento social apenas para idosos e grupos de risco, priorizando a reativação econômica em meio à pandemia de coronavírus, outros líderes internacionais que inicialmente relutaram em apoiar um amplo movimento de quarentena mudaram seu posicionamento e passaram a pregar mais medidas para conter a aceleração da pandemia. O caso mais emblemático é o de Donald Trump, nos Estados Unidos.No fim de janeiro, quando o primeiro caso foi registrado nos Estados Unidos, ele disse não estar preocupado. “Temos tudo sob controle. Tudo vai ficar bem”, minimizou.
Trump, no entanto, mudou de opinião com o tempo, e, no fim de semana, esticou as medidas de isolamento que tomou até 30 de abril. Os EUA, hoje, são o país do mundo com mais casos confirmados da Covid-19: mais de 140 mil, com 2,4 mil mortes.
O governo da Itália, segundo país mais mais afetado pela pandemia, mas o que mais registrou mortes até agora (101 mil infectados, com mais de 11 mil mortos), também relutou em adotar medidas de isolamento em prol a economia. O governo chegou a anular regras restritivas de prefeitos e governadores, e o ministro italiano de relações exteriores chegou a culpar a mídia por uma “cobertura exagerada”.
Os presidentes López Obrador, do Mèxico, e Vladimir Putin, da Rússia, também mudaram o tom com o tempo e passaram a defender a quarentena como forma de prevenção. Já o nicaraguense Daniel Ortega, assim como Bolsonaro, segue sem apoiar o isolamento.
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Redação iBahia
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