Há sete anos, a jornalista Patrícia Lopes era ainda uma mãe de primeira viagem quando ouviu falar sobre um novo modo de alimentar crianças pequenas. Na época, o BLW — sigla para o inglês baby-led weaning , ou “desmame guiado pelo bebê” — era ainda incipiente no Brasil. Criado pela agente de saúde britânica Gill Rapley, o BLW advoga que os pais devem evitar alimentar as crianças pequenas, a partir dos 6 meses, com as tradicionais papinhas. Recomenda que ofereçam ao bebê a mesma comida servida ao restante da família. Mas cortada em pedaços que a criança consiga manusear, de modo a comer sozinha, na quantidade e velocidade que quiser.
— Naquele tempo, nem sequer havia artigos em português sobre o assunto — lembra Patrícia. — Conversávamos a respeito em grupos de mães no Facebook. Quem lia inglês traduzia os textos e divulgava.
Patrícia conta que nunca lhe agradou a ideia de servir papinhas (compradas prontas ou não) à filha. Para ela, o método pareceu ideal. Mas a ideia gerou preocupações em casa:
— Minha mãe temia que a criança se engasgasse. Descobri que, tomados os devidos cuidados, o risco é mínimo.
A tranquilidade de Patrícia foi conquistada com a prática. Os pais que, hoje, consideram aderir ao método já podem caminhar por terreno mais sólido: conforme cresceu a popularidade do BLW, cresceu também (embora timidamente) o interesse da ciência pelo assunto.
Segundo um levantamento realizado por pesquisadores brasileiros, e recém-publicado, o método é seguro. E, aparentemente, tem benefícios em relação às estratégias tradicionais de introdução alimentar. As conclusões são do nutricionista Felipe Silva Neves, pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora.
Neves e seus colegas analisaram os resultados de 13 estudos feitos em diferentes partes do mundo e que versavam sobre os prós e contras do BLW. A maioria vinha de Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Nova Zelândia. Alguns eram bastante robustos: um deles, por exemplo, envolveu o acompanhamento de 655 mães e seus bebês.
— De maneira geral, no entanto, ainda existem poucas referências científicas sobre o assunto — diz Neves.
O método ainda causa insegurança entre pais e cuidadores. Até os 6 meses de idade, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que as crianças sejam alimentadas exclusivamente com leite materno. A partir do sexto mês, no entanto, o bebê passa a precisar de nutrientes, como zinco e ferro, em quantidades maiores do que o leite é capaz de prover. Nessa etapa da vida, podem ser introduzidos alimentos para complementar a nutrição.
O período coincide com o momento em que a criança ganha habilidades motoras. Ela já é capaz de se sentar ereta e manusear objetos. Segundo Gill, a britânica idealizadora do BLW, a criança também já é capaz de tomar os alimentos com as mãos para comer sozinha. Basta que eles sejam cortados em pedaços (ou amassados em bolinhas) e fiquem dispostos sobre a mesa ou o cadeirão.
A preocupação com possíveis engasgos é bastante comum. Mas, segundo os estudos analisados por Neves, não há o que temer: a frequência de engasgos dos bebês alimentados pelo BLW é semelhante à das crianças alimentadas com papinhas.
Os trabalhos encontrados pelo grupo também sugerem que as crianças alimentadas pelo método têm menor propensão ao sobrepeso. Esse é um ponto importante para os defensores do BLW: segundo eles, deixar o bebê manusear a própria comida permite que ele pare de comer logo que se sente satisfeito. A tática, na teoria, diminuiria as chances de ele ficar obeso. Neves, no entanto, recomenda cautela em relação a esse aspecto.
— Dos trabalhos que analisamos, somente dois tratavam disso e chegavam a essa conclusão. É pouco para afirmarmos categoricamente — diz.
As evidências são mais sólidas em relação a outro benefício: de maneira geral, dizem os pesquisadores, os bebês alimentados pelo BLW têm dieta mais equilibrada.
— Isso acontece porque os alimentos servidos em pedaços tendem a ser frutas e vegetais in natura , por exemplo. São raros os pais que optam pelo BLW servirem alimentos processados aos filhos — complementa.
Colher liberada
Neves também faz a ressalva de que nenhum dos estudos analisados envolveu famílias brasileiras. Como os hábitos alimentares variam conforme a cultura, é possível que os resultados não possam ser reproduzidos, integralmente, no Brasil.
Já Patrícia, que optou pelo BLW ao criar a filha, aprovou o método. Seu segundo filho, que tem menos de 1 ano, é alimentado da mesma forma. Vez ou outra, no entanto, a avó recorre a papinhas e colheres quando fica encarregada de cuidar do neto:
— O importante é que ela se sinta confortável ao alimentá-lo. E que ele coma de forma saudável. Se for preciso, a colher está liberada.
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Redação iBahia
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