Preso na última terça (23) sob suspeita de ter invadido o Telegram do ministro Sergio Moro (Justiça), Walter Delgatti Neto revelou aos investigadores como aprendeu a acessar contas do aplicativo e como conseguiu os números de telefones de autoridades. Embora tenha admitido ter sido o hacker de parte dos nomes citados como vítimas nos últimos dias, Delgatti negou que tenha invadido o Telegram de outros integrantes do atual governo, como o ministro Paulo Guedes (Economia) e a líder do presidente Jair Bolsonaro no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP).
Delgatti também assume que foi ele quem passou a cópia de mensagens entre autoridades ao site The Intercept Brasil. Segundo ele, o contato do fundador do veículo, Glenn Greenwald, foi passado pela ex-deputada Manuela D'Ávila (PCdoB), cujo número ele também conseguiu via ataques à conta do Telegram da ex-presidente Dilma Rousseff. Segundo ele, o repasse de informações a Greenwald foi feito sem pagamento. A íntegra do depoimento, prestado no dia da prisão, foi obtida pela GloboNews e divulgada na tarde desta sexta-feira.
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Além de Delgatti, a Operação Spooling prendeu três amigos do suposto hacker - Danilo Cristiano Marques, Gustavo Henrique Elias Santos e Suelen Priscila de Oliveira. Delgatti diz que os três não têm participação nos ataques às contas do Telegram. Nos depoimentos, eles também têm negado parceria nas invasões.
Segundo Delgatti, ele começou os ataques por um promotor de Justiça que teria sido o responsável pelo oferecimento de uma denúncia contra ele pelo crime de tráfico de drogas. A partir da conta de Marcel Zanin, ele teve acesso a um grupo no Telegram chamado "Valoriza MPF". A partir do grupo, invadiu um dos procuradores que teria o telefone do deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP). Ao acessar a conta do deputado, chegou ao número do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.
Pela agenda do ministro, o hacker conseguiu os telefones do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot e, a partir dele, chegou aos contatos de integrantes da Força-Tarefa da Lava-Jato, entre eles o do procurador Deltan Dallagnol. Só então, Delgatti obteve o número da autoridade cuja conta invadida motivou o início das investigações: Sergio Moro. Delgatti disse aos investigadores, porém, que não conseguiu acesso ao conteúdo de mensagens do ministro.
MANUELA, DILMA E GLENN
No depoimento prestado à PF, Delgatti citou, nominalmente, a invasão da conta do aplicativo Telegram de 15 pessoas. Além do novelo que levou a Moro, ele disse que conseguiu o telefone de Manuela, por meio da conta de Telegram da ex-presidente Dilma Rousseff. Segundo Delgatti, as invasões foram feitas entre março e junho de 2019. No Dia das Mães deste ano, ele decidiu, então, ligar para Manuela.
"Ligou diretamente para Manuela D'Ávilla afirmando que possuía o acervo de conversas do MPF contendo irregularidades; QUE ligou para MANOELA D’ÁVILA diretamente da sua conta do TELEGRAM e disse que precisava do contato do jornalista GLENN GREENWALD; QUE a princípio MANOELA D'ÁVILA não estava acreditando no DECLARANTE", registra o depoimento.
Segundo Delgatti, ele resolveu, então, mandar áudios para a deputada entre os procuradores da República Orlando e Januário Paludo. Depois de receber, em 10 minutos, ela teria enviado o telefone de Greenwald a Delgatti.
Entretanto, seu próprio depoimento indica que o número de contas invadidas pode ser maior. Ele cita, por exemplo, que invadiu as contas de procuradores a Operação Greenfield, mas não menciona nomes e nem diz quantas foram hackeadas.
PF ESTIMA QUE MIL CONTAS FORAM INVADIDAS
Na quarta-feira (24), um dia após a prisão do grupo, o coordenador-geral de Inteligência da Polícia Federal, João Vianey Xavier Filho, disse que o número de contas invadidas era de aproximadamente mil.
- Nós estamos estimando que aproximadamente mil números telefônicos diferentes foram alvo dessa operação por essa quadrilha - disse o delegado.
Na quinta-feira (25), o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) emitiu uma nota afirmando que aparelhos usados pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) também teriam sido alvo da ação do grupo preso em São Paulo.
Reservadamente, pessoas ligadas à investigação divulgaram que entre os números atingidos estariam os dos presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Moro também teria entrado em contato com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, para informar que ministros da Corte também haviam tido suas contas invadidas.
O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de Noronha, também disse que foi informado por Sergio Moro de que sua conta também estava entre os invadidos.
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Redação iBahia
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