Neste domingo, os candidatos realizam as provas de Ciências Humanas, Linguagens e Redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). No primeiro dia do exame, apareceram tópicos como feminismo, nazismo, escravidão, regime militar, crise de refugiados, entre outros.
Segundo a candidata Bruna Damasceno, de 19 anos, do Rio de Janeiro, esta foi uma das provas que mais abordaram temáticas envolvendo políticas e questões sociais atuais. Uma delas tratou do feminismo com um recorte de raça, referindo-se especificamente às mulheres negras. Além disso, ela diz que uma questão tratava sobre nazismo.
De acordo com outra candidata, Lorena Santos, foi usado um poema de Graciliano Ramos e um texto sobre publicidade e racismo como base para questões de interpretação de texto. Ela deixou o Colégio Luiz Viana, em Salvador, na Bahia, às 14h40 (15h40 pelo horário de Brasília) e classificou a prova como "muito mais fácil do que a dos três anos anteriores". Ela está fazendo o Enem pela quarta vez.
— Os textos foram bem mais objetivos do que os das edições anteriores — disse ela.
Uma das questões tratou da censura e da falta de liberdade de expressão características do regime militar (1964-1985).
Em uma questão da prova de inglês foi usado um trecho de um dos clássicos do escritor inglês George Orwell, "1984". Mais especificamente, o momento no qual o herói da narrativa, Winston, conversa com o colega O' Brien sobre o controle do partido. A candidata Ana Luísa Siqueira, de 16 anos, treineira, lembra o trecho:
— Winston conversa com O'Brien explicando que o passado não existe fisicamente, mas nos registros e memórias. É que o partido controla o passado, a memória e os registros. Foi esse o trecho usado — diz ela, que considerou a prova de inglês fácil para quem estuda o idioma de forma regular.
Temas sociais merecem destaque
O diretor pedagógico do curso Descomplica, Cláudio Hansen, avalia que a prova do Enem 2018 foi mais difícil e explorou temas mais atuais do que a edição anterior, como questões de gênero, democracia e crise dos refugiados.
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— Gostei muito da prova, teve um nível de médio para alto. Melhorou em relação ao ano passado, quando parecia mais distante em relação ao que vivemos na realidade — explica Hansen, que também é professor de Geografia. — Entre os temas mais explorados estão a escravidão, as culturas africanas, sustentabilidade, questões agrícolas e dinâmicas populacionais.
Entre os conteúdos não abordados e que foram recorrentes nas edições anteriores estão questões regionais do país, como a Amazônia e seus biomas.
— Houve uma maior cobrança de análise de gráficos e capacidade de leitura densa — afirmou ele.
Sobre a redação, Hansen afirmou que foi a parte mais atual da prova:
— Vivemos isso o ano inteiro, o aluno pode falar sobre a sua experiência. Por isso, pode ter sido considerado fácil para muita gente.
Segundo Everton Silva, professor de Linguagens do COC, na parte de Linguagens, o Enem manteve a tendência dos últimos anos e trouxe questões com base em interpretação de texto, variações linguísticas e uso de diferentes tipos de gêneros textuais, como literário e jornalístico. Como é de costume, o exame trouxe textos que abordavam questões sociais.
— Uma das questões interpretativas utilizou o resumo de um trabalho acadêmico que falava sobre como o negro era visto pela indústria de produtos de beleza, que reforçava a beleza do negro como menor e, por isso, que era necessário usar esses produtos para alcançar um certo padrão. É um texto que se posiciona em relação a uma questão social — destaca o professor.
Fábio Romano, editor especialista de História, Filosofia e Sociologia do Sistema COC de Ensino, afirma que o Enem mantém a tendência, vista nos últimos anos, de abordar temas sociais:
— O exame faz parte da reestruturação do ensino médio quando cobra assuntos como ações afirmativas, direitos de minorias e o feminismo — ressalta. — O modo como disserta sobre a democracia e as relações de poder demanda um conhecimento prévio que vem não só de livros, como também de situações retratadas atualmente em jornais e revistas.
O tema da redação, afirma, explora principalmente os conceitos aprendidos nas aulas de sociologia.
— É uma discussão atualíssima, especialmente no campo da política. Os estudantes tiveram muito material para explorar. Ao mesmo tempo, muitos devem ter ficado perdidos, porque organizar toda a reflexão sobre este assunto em 30 linhas pode ser difícil.
Professor de história e CEO do QG do Enem, Márcio Branco concoda que o exame mantém a mesma linha dos últimos anos.
— Em história há os temas ligados às questões sociais e minorias, cai muita colônia, questão escrava e exploração sobre a América. Não houve uma ruptura dessa tendência — diz ele.
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Redação iBahia
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