O flagrante do coronel reformado da Polícia Militar Pedro Chavarry Duarte, de 62 anos, com uma criança do último sábado não foi o primeiro na vida. Em 1993, ele foi acusado — e depois absolvido — de tráfico de crianças. Em março daquele ano, o então capitão da PM foi preso em flagrante buscando um bebê de três meses meses, que estava sozinha num apartamento sem móveis em Bangu, Zona Oeste do Rio. A mãe da criança foi localizada pelo EXTRA. Ela morava em um barraco de madeira, trabalhava em um lixão e não tinha com quem deixar a filha.
— Isso tem muitos anos. Eu precisava de creche, mas naquele tempo não tinha. Nem me lembro quem me disse que tinha lá uma instituição da igreja Católica que cuidava dos bebês das mulheres que precisavam trabalhar. Foi aí que eu conheci o capitão Chavarry. Eu confiei porque ele me levou no batalhão e na igreja — conta a mulher, que até hoje não desconfia de más intenções no coronel: — Eu deixava minha filha com ele de manhã e pegava de tarde. Foram dois meses assim. No meu ver, ele não ia esperar tanto para fazer mal. Não posso falar mal dele, me ajudou muito.
Um dia, no entanto, ela estava no lixão onde trabalhava e foi informada de que uma viatura da polícia estava a sua procura. Nela, estava o capitão Chavarry preso.
— Se ele fez isso mesmo com a menina agora, não sei de nada. Minha filha pode ter escapado de uma. Ela era muito magrinha.
Naquela época, o atual secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Paulo Melo, foi procurado por uma associação de moradores do local com denúncias contra o PM.
— Montamos uma operação com a ajuda do 14 BPM (Bangu) e ficamos esperando no local usado pela quadrilha como cativeiro, onde os bebês eram deixados de manhã, sob efeito de tranquilizantes, e, à noite, transportados pelo bando. Quem da quadrilha chegou para pegar o bebê, de apenas quatro meses, foi o então capitão Pedro Chavarry. Foi preso e autuado em flagrante — lembra o então deputado do PSDB: — O então capitão era ardiloso. Ele se aproximava das mães, geralmente de comunidades muito carentes, e dizia que trabalhava para a igreja, que iria arrumar uma creche. Até colocava os bebês em creches, mas, em seguida, convencia as mães de que elas não tinham condições de criá-las e, o melhor, seriam doá-las. Aproveitava da fraqueza, da necessidade. Depois, estas crianças eram vendidas pelo oficial.
Nunca foi provado a participação de Chavarry em tráfico de bebês. Na ocasião, ele chegou a ser condenado por abandono e maus-tratos, mas reverteu a setença, sendo absolvido. A mãe da criança conseguiu sair da extrema pobreza, é pedreira e hoje vive numa casa. A bebê tem hoje 23 anos e já tem uma filha.
No último sábado, ele foi preso em flagrante por estupro de vulnerável e corrupção ativa. O caso aconteceu anteontem, por volta das 20h, no estacionamento de uma lanchonete em Ramos e está sendo investigado pela Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima. Chavarry foi flagrado por uma atendente da lanchonete. Segundo o testemunho da funcionária, ele pediu o lanche e foi para o carro com a criança. Minutos depois, a atendente bateu no vidro para chamá-lo, quando viu a menina sem o macacão que estava vestindo. Ainda segundo a mulher, o coronel, de roupa, estava afastando a calcinha da criança.
— Não foi a primeira vez em que ele apareceu com uma criança aqui — disse uma funcionária da lanchonete.
A polícia apreendeu, no carro de Chavarry, três frascos de remédios que podem servir para dopar crianças.
A criança foi levada até ele por uma vizinha, Thuanne Pimenta dos Santos, de 23 anos. Em depoimento na Central de Garantias da Polícia Civil, ela afirmou que foi até o encontro do homem para receber o dinheiro de uma faxina que ela havia feito.
Thuanne afirmou que pegou a criança com o pai para fazer cadastro que garantiria vaga para tirar fotos com Papai Noel de um shopping em dezembro. No entanto, segundo disse, deixou a criança com o coronel da PM porque havia esquecido o celular em casa. Quando voltou, o crime já havia acontecido.
No registro de ocorrência feito, o coronel foi definido como o autor do fato. Thuanne e a irmã aparecem como “envolvidas”.
A mãe da criança afirmou à polícia que estava trabalhando. Quando chegou em casa, o marido contou a ela que a filha estava com Thuanne, e ela só a encontrou quando a polícia a procurou em casa.
Depois de se identificar, o coronel pediu para que os policias não dessem prosseguimento à ocorrência e que resolvessem a situação ali mesmo. Percebendo que estava sendo subornado, um dos policiais passou a filmar o oficial que chegou a falar: "Resolvo tudo na segunda-feira. Na segunda vai fazer sol. Tá ventando, hoje. Vamos acabar com essa ocorrência". Ainda de acordo com o relato dos PMs que participaram da prisão, o oficial ainda ofereceu vantagens e fez gestos como se estivesse oferecendo dinheiro.
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Redação iBahia
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