O Brasil continua a ser o país onde mais transexuais são mortos, segundo dados da ONG Transgender Europe (TGEU), divulgados nesta semana, em razão da proximidade do Dia Internacional da Memória Trans, no próximo dia 20.
Entre 1º de outubro de 2017 e 30 de setembro deste ano, 167 transexuais foram mortos no Brasil. A pesquisa, feita em 72 países, classificou o México em segundo lugar, com 71 vítimas, seguido pelos Estados Unidos, com 28, e Colômbia, 21.
A organização contabilizou um total de 369 homicídios de transexuais e indivíduos não-binários, indicando um aumento de 44 casos em comparação com a pesquisa do ano passado e de 74 casos com relação a 2016. No Brasil, foram contabilizadas 171 mortes, em 2017, e 136, em 2016. Em ambas situações, o país ocupou o primeiro lugar no ranking.
Segundo a Transgender Europe, baseada na Suécia, os dados sobre pessoas trans assassinadas não são especificados em boa parte dos países, o que impossibilita uma estimativa real do número de casos. Para Jackeline Romio, doutora em Demografia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é necessário que os registros de homicídios contra a população trans tenham uma identificação para possibilitar um diagnóstico de suas causas com base em informações mais realistas.
— Grupos brasileiros de pesquisa fazem esse tipo de levantamento, o que é importante porque não temos dados oficiais das mulheres trans assassinadas, que configuram como a maior parte das vítimas transexuais, principalmente negras, mas também há homens trans que são assassinados por conta da transfobia. A partir do momento que os registros especifiquem as vítimas por identidade de gênero, número de mortes vai aumentar — afirmou Romio.
De acordo com a ONG, a pesquisa visa a promover a "conscientização sobre os crimes de ódio contra pessoas trans", para "honrar as vidas daqueles que não devem ser esquecidos". Quanto a isso, a especialista ouvida pelo GLOBO ressaltou que a divulgação das denúncias é fundamental para conscientizar a população, assim como a implementação de políticas públicas para coibir os crimes contra a comunidade LGBT+ e o empoderamento das mulheres trans na sociedade.
Romio deu como exemplo de representatividade o caso de Erica Malunguinho (PSOL),primeira transexual eleita a deputada estadual em São Paulo, mas frisou que ainda há um longo caminho pela frente para a ocupação de transexuais em outros espaços, como nas universidades, de forma a promover o debate no combate ao preconceito.
— Sem as notícias de jornais, denúncias de familiares, dados coletados pelos movimentos LGBT+ pelos direitos humanos, não teríamos sequer esse número (da pesquisa). Esse esforço de colocar na mídia e buscar uma nova forma de registo para sanar essa deficiência governamental é o que possibilita algum diagnóstico — afirmou Romio.
Para a ONG, o estigma e a discriminação contra pessoas transexuais e não-binárias dificultam o acesso deste grupo a direitos básicos. As vítimas cujas profissões são conhecidas são, em sua maioria, profissionais do sexo (62%).
— Há fatores que impulsionam os assassinatos de pessoas trans, como a onda conservadora que vivemos atualmente no país, além da própria violência generalizada que acaba influenciando nas mortes de forma geral — ressaltou a especialista.
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Redação iBahia
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