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Artistas e amigos comentam morte do jornalista Abdias do Nascimento

Ele estava internado no Hospital Federal dos Servidores, do Rio de Janeiro, e morreu na manhã desta terça (24) aos 97 anos

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24/05/2011 às 15:32 • Atualizada em 29/08/2022 às 18:12 - há XX semanas
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Ele denunciou atos de racismo, defendeu a cidadania e a cultura dos descendentes de africanos espalhados pelo mundo. Fez arte, política e história. Abdias do Nascimento deixa como herança para sua família, amigos e todos os que apoiavam seu trabalho, um legado com atos de coragem e dedicação aos direitos humanos. O jornalista, ex-político, escritor e ator, Abdias do Nascimento, morreu aos 97 anos, na madrugada desta terça-feira (24), no Rio de Janeiro, de insuficiênica cardíaca. Ele estava internado desde o mês passado no Hospital Federal dos Servidores, na capital carioca, com problemas cardíacos. O velório e o local do enterro ainda não foram divulgados. Amigos, artistas, políticos e admiradores em todo o país utilizaram o Twitter para expressar o sentimento de perda do principal ativista do combate ao racismo no país. "Nunca mais o esqueceremos e faremos tudo para honrar sua vida", disse João Jorge Rodrigues, presidente do Olodum. A cantora e compositora Leci Brandão também comentou a morte do ex-político. "Abdias nos deixou como herança a resistência cultural. A luta pela igualdade racial deve muito a esse brasileiro, símbolo da dignidade".
Na década de 40, Abdias funda o Teatro Experimental do Negro (TEN) que inspirou os trabalhos do Bando de Teatro Olodum (foto: Arquivo Pessoal)
Para o ator baiano Jorge Washington, do Bando de Teatro Olodum, a surpresa da perda foi conhecida cedo. Ao acessar sua página no Facebook, pela manhã, viu que estava marcado em uma foto no perfil de uma amiga que noticiava a morte. "Ele era um cara múltiplo. Para nós [do bando] ele é o ícone e cumpriu o papel seu papel muito bem", diz. Jorge conheceu Abdias na década de 90 e conquistou maior proximidade após eventos realizados na capital baiana. "Só resta a gente dar continuidade ao que ele pregou. Ele trouxe muitas causas sociais para o teatro, e um teatro que se preza fala do que é atual e o que incomoda", completa o ator sobre a inspiração do Bando no Teatro Experimental do Negro, criado por Abdias na década de 40. A trajetória do militante, como ele se considerava, inspirou o filme "Abdias do Nascimento: Memória Negra", idealizado pelo historiador cubano, radicado na Bahia, Carlos Moore e dirigido por Antônio Olavo. "Em 2004 Carlos me deu a missão de fazer esse filme. A gente não tem que lamentar a morte dele, mas sim agradecer o privilégio do convívio e, agora, poder colher os frutos do que ele plantou", afirma Olavo. O filme se baseia na vida de Abdias para relatar as lutas do movimento negro no século 20. "Ele participou de muita coisa nessa época, foi preso e criou instituições para promover o negro. A passagem de Abdias na terra foi luminosa", encerra. Além de falar no Twitter, o deputado federal Luiz Alberto (PT/BA) também comentou sobre o falecimento em seu blog. "Abdias é um ícone de luta e deixou uma herança de conquistas para nós, povo negro! À sua memória, honramos o caminho de guerra e conquistas que nos deixou com seu ensinamento de combatividade e resistência, para nós que militamos por um país mais justo e igual". A baiana Lindinalva Barbosa é umas das admiradoras do trabalho realizado por Abdias do Nascimento. Em 2009, Lindinalva fez um estudo da única publicação em versos "Axés do Sangue e da Esperança - Orikis", de 1983. "Decidi escrever uma dissertação por considerar importante estudar a produção aliada a sua trajetória de intelectual panafricanista afro-diaspórico. Através de sua poesia, tentei percorrer alguns de seus caminhos", comenta. Biografia - Abdias do Nascimento nasceu em Franca, interior de São Paulo, em 14 de março de 1944, e, a partir dos 20 anos, se vinculou à militância política. Iniciou o ativismo com a Frente Negra Brasileira, foi filiado, por pouco tempo ao Integralismo, no qual estabeleceu contatos com muitos intelectuais daquele período, como Plinio Salgado, Alceu Amoroso Lima, Helder Câmara, etc. Mudando-se para o Rio de Janeiro, na década de 1930, aproxima-se, cada vez, mais da cultura negra: do candomblé, do teatro e da literatura. Em 1944, ele funda o Teatro Experimental do Negro (TEN), uma das mais exitosas e importantes experiência em dramaturgia e organização política contra o racismo e pela valorização da história e cultura afro-brasileira. O TEN congregou inúmeros participantes, sobretudo das camadas mais pobres, muitos analfabetos, trabalhadoras domésticas e operários. O TEN, além de encenar diversas obras escritas por negros e tendo o negro como protagonista, ainda criou grupos de alfabetização, concursos de beleza negra, organizou diversos encontros e congressos sobre o negro no Brasil, além de manter um jornal importantíssimo O Quilombo, no qual eram veiculadas teses, artigos e denúncias sobre as relações raciais no Brasil e sua relação com África e a diápora. Em meados da década de 1960, durante a ditadura militar, Abdias segue para o exílio nos EUA. A esta altura ele já era uma referência considerável na luta política anti-racista no Brasil, e também já era vitima da perseguição da ditadura. A partir de 1970, é convidado pelo Centro de Estudos Porto-Riquenhos da Universidade de Nova York, em Bufalo, para lecionar a matéria Culturas Africanas no Novo Mundo. Em 1981, retorna ao Brasil, durante o período da abertura política. Abdias exerceu mandato de deputado federal de 1983 a 1986 e de senador em 1991 e 1997 a 1999. Contemporaneamente, Abdias recebeu diversas homenagens, comendas e reconhecimento institucional do Itamarati, além de ser doutor honoris causa das seguintes universidades: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal da Bahia, Universidade do Estado da Bahia e Universidade de Ilê Ifé - Nigéria. *As informações contidas na biografia foram colhidas com a mestre em estudo das linguagens Lindinalva Barbosa. As fotos foram extraídas do artigo "Abdias Nascimento: luta e memória negra", de Atônio Olavo

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