Seis meses após o governo de Cuba anunciar sua saída do Mais Médicos , quatro em cada dez cidades brasileiras (42%) onde profissionais do país atuavam no momento do encerramento da parceria ainda não conseguiram preencher todas as vagas ofertadas no programa. O déficit de médicos nessas 2.853 cidades cresceu. Antes da saída dos cubanos, em outubro, 23% desses municípios tinham postos em aberto, em decorrência da desistência de brasileiros ou da não renovação de contratos com duração de três anos.
O levantamento do GLOBO comparou dados do Mais Médicos de novembro, quando houve a saída dos cubanos, e do fim de abril deste ano, considerando o total de 18.240 vagas do programa, com base em pedidos de acesso à informação respondidos pelo Ministério da Saúde
Mapa da falta de médicos
Cada ponto representa um município que era atendido por médicos cubanos do programa Mais Médicos e que estava com algum déficit de vagas até o fim de abril..
Os municípios que abrigaram os profissionais estrangeiros concentram hoje 80% do déficit registrado no programa. A maior parte está nas regiões Nordeste (38%) e Sudeste (24%). Entre os estados, a Bahia lidera o ranking com maior número de vagas desocupadas (eram 132 em abril), seguida por São Paulo (131) e Minas Gerais (103).
O Ministério da Saúde argumenta que todas as 8.517 vagas do edital do Mais Médicos, lançado após o fim da cooperação com Cuba, chegaram a ser preenchidas por brasileiros, mas ressalta que 1.325 profissionais com registro no Brasil se desligaram do programa nos últimos meses. A desistência fez com que o déficit fosse ampliado.
A falta de estrutura do programa foi agravada após o governo de Cuba anunciar, unilateralmente, o fim do acordo para ceder profissionais ao Brasil. A decisão aconteceu logo após a vitória do presidente Jair Bolsonaro, crítico da parceria. Os médicos cubanos ganhavam cerca de 30% do valor integral dos salários pagos pelo Brasil. O restante ficava com o governo cubano.
Sem emergência
Em 139 cidades, a situação é mais delicada: não conseguem ocupar nenhuma das vagas ofertadas pelo último edital. Um terço desses municípios é classificado pelo governo como vulnerável ou de extrema pobreza. Mais de 60% estão no Nordeste.
Dois mil remanescentes
Segundo Mauro Junqueira, presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde, cerca de dois mil cubanos continuam no país após o término do Mais Médicos. Para ele, é necessário criar mais vantagens ao programa a fim de que profissionais sejam realmente atraídos pelos novos editais. Segundo ele, nas atuais condições, as cidades são dependentes da presença de médicos estrangeiros:
— Os municípios pequenos são os que mais estão sofrendo, principalmente no Norte e no Nordeste. O médico brasileiro não quer ir para área indígena, não quer ir para o Nordeste, não quer ficar isolado. Nós dependemos de médicos estrangeiros, não há outra opção.
O Ministério da Saúde lançou este mês um novo edital do Mais Médicos com 2.037 vagas voltadas para os municípios com maior vulnerabilidade. A pasta também declarou que vai criar um novo programa para ampliar os serviços de Atenção Primária à Saúde, que contemple as demais cidades.
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Redação iBahia
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