O mal-estar e a tristeza de João, do BBB21, após ter o seu cabelo estilo ‘black power’ comparado com uma fantasia do monstro de ‘homem das cavernas’ denuncia a perpetuação do racismo estrutural. O comentário proferido por Rodolffo dito em um suposto tom de brincadeira só denuncia mais uma atitude racista que está naturalizada na história e na cultura brasileira e que, por muitas vezes, passa despercebida.
De acordo com Bruna Rocha, doutoranda em comunicação e cultura contemporânea e idealizadora da plataforma Semiótica Antirracista, a associação de pessoas negras a objetos tem como base o momento histórico em que estes corpos foram objetificados.
“Existe um processo de objetificação (tratar o ser humano como um objeto) dos corpos negros que é um pano de fundo pra esse tipo de violência. Essas ações são vistas de forma tão naturalizadas que são tratadas como 'sem maldade'. Mas, o que deve ser considerado não é a intenção de quem está praticando o comentário, mas sim quais são os impactos disso no ponto de vista de cultura e de língua. A associação de um cabelo com uma peruca que é relacionada a algo primitivo, sujo, é racista, mesmo que seja sem colocação violenta”, explicou a pesquisadora.
VALE VER: Brilhante e importante manifestação do João (@joaoluizpedrosa) no Jogo da Discórdia de hoje do #BBB21, apontando atitude racista de Rodolffo. Em tempo: #ForaRodolffo #RedeBBB pic.twitter.com/CL2qgBoel9
— Jeff Nascimento (em ????) (@jnascim) April 6, 2021
Justamente esse ponto foi trazido por Camilla de Lucas durante o Jogo da Discórdia do Big Brother Brasil. Ela explicou que uma das lutas do movimento antirracista é de que as pessoas negras tenham o cabelo crespo respeitado dentro da sociedade.
Na conversa, a digital influencer ainda destacou que a aceitação do cabelo faz parte também da vida dela e esses tipos de comparações, como a que foi feita por Rodolffo, magoam mesmo sem intenção.
Ao tentar se defender do posicionamento de João quanto a comparação feita entre o cabelo do professor e a peruca do monstro, o sertanejo citou que o pai era parecido com João e que também já teve um cabelo parecido com o do brother.
Bruna pontuou que este tipo de recurso é muito comum, não justifica nada. Para ela, ter pai, familiares e amigos negros não só não eximem as pessoas do racismo, como também podem gerar uma aproximação com este tipo de preconceito.
“O racismo provavelmente operou na família de Rodolffo através de um processo de embranquecimento (alisamento de cabelos, procedimentos estéticos, etc). O racismo deve ter atravessado a vida do pai do cantor, deve ter chegado nele também e agora ele pratica contra uma pessoa em que reconhece ter uma semelhança com o pai. Depois que ele fez o comentário racista, ele vê a dor voltar para o ‘colo dele’ e usa isso como rota de fuga, como uma forma de não se responsabilizar pelo que disse”, analisou Bruna.
Leia também:
Veja também:
Redação iBahia
Redação iBahia
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!