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A suspensão da participação do Exército no combate à dengue em Salvador foi causada pelas ameaças aos agentes de endemia por traficantes após a primeira ação dos militares na capital baiana. Ontem, ao anunciar que soldados do Exército voltariam a trabalhar no combate ao mosquito, restritos porém aos focos na construção civil, a Prefeitura de Salvador confirmou a intimidação sofrida pelos agentes.Em nota divulgada pela Secretaria Municipal de Comunicação, a Prefeitura de Salvador explica que, com a decisão, “pretende evitar que os agentes de endemias sofram ameaças por atuação nas áreas de maior criminalidade, uma vez que os bandidos, muitas vezes, ameaçavam os profissionais por conta da presença do Exercito”.Mesmo tendo agendado a participação dos soldados do Exército em três mutirões, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) acabou cancelando a prática depois do primeiro e único dia de trabalho, que ocorreu em Tancredo Neves. De acordo com agentes que trabalharam junto aos militares, no dia seguinte à ação com os soldados, eles foram ameaçados por bandidos armados.O coordenador do Sindicato dos Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Combate a Endemias (Sindacs/BA), Lázaro Figueiredo, confirmou o temor dos agentes. “Os moradores vinham tirar satisfação com a gente, perguntando porque estávamos levando polícia para o bairro e para a casa deles. Como os militares não conhecem as áreas de trabalho, nós tínhamos sempre que acompanhá-los”, explicou.
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Ontem, após o CORREIO divulgar a suspensão da participação dos militares na guerra à dengue, a SMS informou que a parceria com as Forças Armadas será mantida, mas o Exército passará a atuar a partir do próximo semestre na construção civil.De acordo com a secretaria, essa decisão foi tomada em reunião entre Exército, Secretaria Municipal de Saúde e Fundação Luís Eduardo Magalhães, no dia 19 de maio. Em nota, o Exército informou que cumpriu seu dever constitucional ao participar das ações designadas pelo governo do estado da Bahia no combate à dengue e segue à disposição do estado e do município para atendê-los “naquilo que nos for solicitado e estiver dentro das nossas possibilidades”.
SurpresaO prefeito João Henrique disse que só ficou sabendo do afastamento dos militares pelo CORREIO. “Não é possível que os traficantes tomem conta dos bairros e por isso o Exército não possa entrar. Vamos continuar com a presença dos soldados, nem que pra isso seja necessário o uso da Polícia Militar e da Guarda Municipal”, disse o prefeito, antes de saber que a SMS já tinha negociado com o Exército outra atuação para os militares. Além do combate aos focos do mosquito Aedes aegypti nos canteiros de obra de empresas de construção civil, os militares vão participar das ações de mobilização da sociedade e na distribuição de capas para cobertura de depósitos de água.Para os agentes, o afastamento do Exército das comunidades com presença do tráfico é a melhor opção. A participação da PM só iria tornar o trabalho mais inseguro. “Se isso acontecer, vai ser uma guerra”, disse o coordenador do Sindacs/BA. “Eu já falei pessoalmente com o secretário Gilberto José, que, se os militares voltarem, nós não estaremos ao lado. Não vamos mais nos expor dessa maneira”, disse Lázaro Figueiredo.Para o dirigente sindical, o mais seguro é deixar apenas os agentes no trabalho nessas áreas. “Nós já temos intimidade com os membros das comunidades, até porque muitos agentes moram nelas. Se a polícia nos acompanhar, vão a pensar que estamos ajudando a PM. Já ameaçaram agentes de endemias com armas, dizendo que se voltarmos com o Exército, não voltamos mais”, afirmou Lázaro.
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Greve será discutida em reunião hojeNa manhã de hoje, os agentes municipais de saúde se reúnem na Secretaria do Planejamento e Gestão de Salvador (Seplag) com representantes do órgão e com o secretário de Saúde, Gilberto José, para discutir as reivindicações da categoria e definir se a greve marcada para hoje será iniciada ou não. Os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e os Agentes de Combate a Endemias (ACE), responsáveis pelo combate ao mosquito da dengue e outras doenças, estão trabalhando em estado de greve desde a sexta-feira e prometem cruzar os braços por tempo indeterminado caso não haja acordo. Entre outras reivindicações, eles pedem reajuste do salário base, que hoje é de R$ 510, abaixo do mínimo (R$ 545), além de direito a plano de saúde e licença maternidade de 180 dias.