O clima era de alegria no sítio Nossa Senhora Aparecida, situado na Estrada da Cascalheira, no Loteamento Alameda do Rio Água Fria, em Camaçari, Região Metropolitana de Salvador. A confraternização tinha cerca de dez pessoas, entre elas o dono do sítio, o aposentado e técnico judiciário do TJ-BA Roque Saraiva Teixeira, 67, que chamou parentes e amigos para um churrasco em sua propriedade de aproximadamente 5 mil m². Por volta das 20h, dois homens puseram fim à animação de forma trágica. Com camisas enroladas no rosto, camisas de manga comprida e armados – um com uma pistola e o outro com um revólver, os bandidos cortaram a cerca, invadiram o sítio e anunciaram o assalto aos convidados de Roque, que estavam reunidos em um quiosque. O aposentado havia saído minutos antes da abordagem para preparar um café. Durante a ação, os ladrões xingavam e, em determinado momento, apontaram a arma para uma das filhas de Roque, Carina Teixeira, ameaçando que, se todo mundo não colaborasse, a matariam. “Nesse momento, Roque chegou e se deparou com a aquela cena. Carina gritou para o pai não reagir: ‘Não meu pai, não!’. Mas ele quis resolver na mão grande’”, contou o genro de Roque, Dalmo Silva França, que estava na confraternização e que teve uma das armas apontadas para sua direção. Segundo ele, algumas pessoas tiveram o cano do revólver posto na boca. Durante a luta corporal, Roque foi baleado duas vezes, co um tiro no peito e outro no abdômen. “Eu não tive só um sogro, tive outro pai”, lamentou Dalmo, ontem pela manhã, no Instituto Médico- Legal (IML). Após os tiros, os bandidos recolheram os pertences das pessoas, normalmente, como se nada tivesse acontecido. Pegaram celulares, dinheiro e joias. Vizinhos No prédio em que Roque morava com a família, no Conjunto 2, Parque São Brás, os vizinhos foram pegos de surpresa pela notícia da morte do aposentado, que era muito querido no local. A vizinha Josefina Dias, que conviveu com Roque e os familiares por mais de 20 anos, se disse chocada com a violência do crime. “Desde ontem (anteontem) à noite, eu comecei a perceber a chegada de muitas pessoas na casa e pensei até que tinha sido um irmão dele que estava para passar por uma cirurgia. A esposa dele inclusive me falou que eles não iriam para o sítio devido a essa operação”, relatou Josefina. “Não entendo por que uma crueldade dessas. Ele era uma pessoa calma, querida por todos, sempre teve uma convivência nesses mais de 20 anos que morou aqui”, afirmou ela. Durante o dia de ontem, amigos e outros familiares foram até o apartamento para tentar confortar a família de Roque. A aposentada Elenice Alves, que conheceu a família durante o período em que a filha dela e uma das duas filhas de Roque estudaram juntas, participou do churrasco no sítio e deixou o local com a filha e o neto pouco antes do assalto. “Ontem, no churrasco, tinha muitas pessoas, o clima estava ótimo, todos se divertindo. À tarde, eu e minha filha decidimos voltar, e deixamos todos bem, tanto que hoje foi um choque imenso quando minha filha me chamou chorando para contar o que tinha acontecido”, disse Elenice, também muito abalada. “Roque era uma pessoa muito boa, a família dele ajudou muito minha filha quando ela veio morar aqui em Salvador, pois somos da região da Chapada. Espero que a justiça seja feita e esses bandidos sejam presos logo”, comentou. Amigos contam que a família adorava o sítio, mas depois do que aconteceu já pensam em vender a propriedade. Investigação A morte de Roque está sendo investigada como sendo latrocínio (roubo seguido de morte), pela 26ª Delegacia (Vila de Abrantes). À frente da investigação, a delegada titular da unidade, Daniele Monteiro, disse que ainda não tem pistas dos bandidos, mas ela acredita que sejam da região de Camaçari. “Além de estarem com os rostos cobertos, usavam camisas longas, provavelmente para esconder a cor da pele e as tatuagens, e dificultar a investigação”, declarou a delegada, que disse ainda que já mobilizou o efetivo da unidade na tentativa de elucidar o caso. *Colaborou Victor Lahiri
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