Salvador é a cidade do Nordeste onde a mulher mais sofre violência doméstica física. Isso dá uma em cada cinco mulheres soteropolitanas vítima de algum tipo de violência doméstica ao longo da vida. Salvador, Natal e Fortaleza lideram, com prevalência de 19,76%, 19,37% e 18,97%, respectivamente. Os dados são da pesquisa Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, realizada pela Universidade Federal do Ceará (UFC), pelo Institute for Advanced Study in Toulouse e o Instituto Maria da Penha.
De acordo com o estudo divulgado nesta quarta-feira (23), 3 em cada 10 mulheres nordestinas (27%), com idades entre 15 e 49 anos, já foram vítimas de violência doméstica ao longo da vida e uma em cada 10 nordestinas (17%) foi agredida fisicamente pelo menos uma vez na vida. As mulheres foram questionadas sobre a ocorrência de violência emocional, física e sexual, tanto ao longo da vida como nos últimos 12 meses.
Em Salvador, o número (19,76%) representa cerca de 225 mil mulheres. Com relação à violência emocional, os dados também assustam: cerca de 24,02% das soteropolitanas já sofreram violência emocional e 7,81% sofreram violência sexual ao longo da vida. Já nos últimos 12 meses, 4,73% das mulheres sofreram algum tipo de violência física, 9,59% passaram por episódio de violência emocional e 2,13% de violência sexual. Cerca de 30% das soteropolitanas afirmaram ter sofrido um “índice considerável” de violência doméstica. Dez mil nordestinas foram entrevistadas em um universo de 5 milhões nas nove capitais do Nordeste.
Salvador também é a segunda capital do Nordeste em que mais mulheres sofreram algum tipo de agressão durante a gravidez, figurando 6,90% das entrevistadas que já engravidaram ao longo da vida, ficando atrás apenas de Natal, com 11,97%. A exposição da violência física da mãe na infância também foi medida na pesquisa. Cerca de 20,31% souberam da agressão; 87,98% delas presenciaram a violência.
Para a pesquisadora Márcia Tavares, do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (Neim) e coordenadora do Observatório da Lei Maria da Penha, a posição de Salvador é resultado de uma combinação de fatores, como os traços patriarcais fortes na cultura soteropolitana e o reflexo disso nas instituições que deveriam proteger as mulheres da violência. “Existe uma rede de proteção precária e fragmentada no estado. Isso contribui para a impunidade de homens que agridem parceiras e ex-parceiras”, diz ela.
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Para Márcia, é preciso reforçar serviços que possibilitem que a mulher saia de uma relação abusiva, como aumentar o número de abrigos destinado para mulheres em Salvador. “É preciso criar serviços que possibilitem que a mulher saia dessa relação abusiva. É preciso criminalizar a violência, discutir gênero, educar a sociedade para isso”, defende a pesquisadora.
Ela afirma que a formação com que meninas e meninos são educados na nossa sociedade é “muito desigual” e que isso contribui para que as mulheres sejam mais vulneráveis às agressões. “Isso vai desde a atitude mínima dentro de casa de dividir as mesmas tarefas. O menino levanta e não pega o prato da mesa e vai brincar, após uma refeição. Já menina vai ajudar a mãe a limpar a casa. Isso termina por redefinir os papéis e os lugares que são ocupados, naturalizando a divisão sexual do trabalho”, diz ela.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que o combate à violência doméstica deve ter início com a educação das crianças e ressaltou a criação da Operação Ronda Maria da Penha. “No período apresentado na pesquisa, mais de R$ 8 milhões foram investidos em construção, reformas, estruturas e contratações direcionadas à prevenção e ao combate à violência doméstica.”
Só na Polícia Civil, informa a SSP, 37 novos profissionais foram destinados ao trabalho nas Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, que somam 15 unidades em todo o estado - duas delas com sedes novas já entregues este ano. A assessoria da Polícia Militar preferiu não se posicionar sobre a pesquisa nesta quinta.
O estudo teve apoio da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres, do Instituto Avon e da ONU Mulheres Brasil.
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Redação iBahia
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