Manhã de sol forte e poucas nuvens no Parque Socioambiental do bairro de Canabrava. Os 29º registrados nesta segunda-feira (21) na capital pedia uma sombra, ou talvez lembrasse o que mais falta no parque: árvores. Uma ação da Secretaria de Cidade Sustentável (Secis) iniciou o plantio de dez mil mudas de espécies nativas da Mata Atlântica no local que já serviu de lixão para Salvador.
Segundo a Secis, a ideia é que essas árvores componham um sumidouro de carbono, que é um trecho de verde que gera mais absorção do que emissão do gás. “Com a plantação de mais de 17 mil mudas ao longo dessa semana, significa dizer que a cidade passa a contribuir com as políticas de combate aos efeitos das mudanças climáticas que é uma agenda global”, afirmou André Fraga, titular da Secis.E no que o aquecimento global interfere em Salvador? “As mudanças climáticas ficam as vezes intangíveis na compreensão das pessoas. Um exemplo na cidade: choveu em um dia o que está previsto para chover um mês, as nossas encostas acabam cedendo, pessoas acabam morrendo por conta dos efeitos dessas mudanças climáticas. O que queremos é ajudar na redução desses efeitos extremos”, explica Fraga. As secas e as queimadas em áreas verdes decorrentes delas serviram também como exemplo nas palavras do secretário, durante a cerimônia em Canabrava. O sequestro de carbono esperado com o sumidouro é algo que começa desde o desenvolvimento da planta. “Inclusive, a árvore absorve mais carbono quando mantida em desenvolvimento do que na vida adulta”, pontua André. Entre as mudas nativas plantadas estão ipê, pau brasil e sibipiruna. As ações durante a semana é uma extensão da programação do Dia da Árvore, comemorado nesta segunda (21). As dez mil mudas foram doadas pela Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (Abaf) e pelo Sindicato das Indústrias de Papel, Celulose, Papelão, Pasta de Madeira para Papel e Artefatos de Papel e Papelão da Bahia (Sindpacel). A ação faz parte do programa Vem me Regar. Segundo Fraga, o projeto é uma convocação para que a população ajude a prefeitura a arborizar a cidade. “Encontramos a falta de cuidado do cidadão, a falta de respeito pelas mudas e até mesmo de conhecimento para o que está sendo feito. Queremos que o cidadão se envolva no processo”, explica. A meta da prefeitura é o plantio de 100 mil árvores até o final do próximo ano (desde 2013 já foram plantadas 40 mil mudas).
Salvador: DiagnósticoCoordenador do curso de Engenharia Ambiental da Faculdade Unijorge, o professor Salomão Santana acompanhou nesta segunda-feira o plantio das mudas com seus alunos. “Aqui a lição é que esse momento é importante, mas é preciso principalmente acompanhar o desenvolvimento dessas espécies e como elas se comportam no solo daqui para frente para manter uma situação de sustentabilidade”. O plantio em Canabrava contou também com a ajuda de dez funcionários da Revita, estudantes universitários em maior número e poucos moradores.Salomão acredita que Salvador tem um quadro de desequilíbrio dos fatores de sustentabilidade, como todas as grandes metrópoles. André é otimista em relação a situação da cobertura verde da cidade. “Apesar da impressão que a gente tem é que a (avenida) Paralela foi devastada, é um ponto mais visível do ponto de vista do trânsito das pessoas, mas Salvador é relativamente bem atendida, temos grandes parques e grandes áreas ainda que não são tão acessíveis”. Segundo Fraga a tentativa com o plantio é justamente criar novas áreas verde mais próximas dos grandes centros.Do lixo ao verdeDesativado há 15 anos, o lixão de Canabrava resistiu no local por mais de 20 anos e deixou consequências no solo. Não se tratava de um aterro sanitário, que o lixo recebe tratamento antes do despejo. André lembra que a área por muito tempo foi responsável por emissão de metano e de CO², gases considerados “vilões” no processo de aquecimento global. “O lixão funcionou aqui por mais de 20 anos, atraia o que chamava de badaneiros, que era quem vivia do lixo buscando matérias recicláveis e até mesmo de comida tirada daqui. É importante essa virada na história”, lembra o líder comunitário Alexsandro Marinho. Ele lembra que o bairro surgiu desse histórico.Josemário dos Santos, 22 anos, cuida de oito gados para revenda na área do Parque. Ele foi um dos moradores que ajudou na ação. “Estamos dando vida as plantas e cuidando do espaço. Eu aqui trago meu gado para pastar, vou cuidar de deixar eles longe das mudas e usar as fezes para regar como adubo”, afirmou. Moradora da Avenida São Rafael a estudante e ativista da área de meio ambiente Conceição Marques, lembra que mesmo com a ativação os efeitos do lixão eram sentidos sete anos atrás. “Sentíamos o cheiro forte daqui mesmo depois que fechou. Eu vim ajudar, afinal não é só uma ação de governo, a população precisa também contribuir e conservar”, opina.Em Canabrava, as mudas serão espalhadas por uma área de 70 mil m² em um conceito de recomposição floresta, o que quer dizer intercalação de espécies para que uma ajude no desenvolvimento da outra com sombreamento e nutrientes.
ProgramaçãoNa terça-feira (22) serão plantadas 250 mudas nas rotatórias do Hospital do Subúrbio. Na quarta (23) o canteiro central da ligação da Avenida Luiz Viana Filho (Paralela) para o Curralinho, no Stiep, ganha 200 mudas. Já na quinta-feira (24), 12 mudas serão plantadas no Largo da Ribeira. Na sexta-feira (25) está programado o plantio de 100 mudas nas redondezas do Salvador Norte Shopping, em São Cristóvão. Estes eventos acontecem sempre às 9h30. Apenas a ação que acontece nas proximidades do Salvador Shopping, com o plantio de 100 mudas, será às 15h30 de sexta-feira (25).No sábado (26), também às 9h30, 1,6 mil árvores serão plantadas em nove bairros. Os locais contemplados são: Rotatória da Rua Almirante Mourão de Sá (Paripe); Parque São Bartolomeu (Subúrbio); Praça Irmã Dulce (Roma); Praça Bela Vista do Lobato (Alto do Cabrito); Parque Solar da Boa Vista (Brotas); campo de futebol das ruas Christiano Buys (Cabula) e Artêmio Castro Valente (Canabrava); Avenida Assis Valente (Cajazeiras); e nas praças Guaratuba (Stella Maris) e Belo Horizonte (Pituba).As comemorações começaram no sábado (19) com a plantação de 20 mudas em uma praça do Caminho das Árvores. Identificar esses locais para o plantio é um trabalho difícil, segundo a Secis. “Muitos bairros sequer têm calçadas para que a gente possa plantar, quando tem as vezes tem redes subterrâneas ou fiações aéreas (que impedem o plantio). É uma agenda complexa”, pondera André.
(Foto: Evandro Veiga/CORREIO) |
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