O presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli anunciou que dia 20 será lançado em Salvador o programa Progredir, uma espécie de feirão do crédito, em que seis grandes bancos, em parceria com a Petrobras, vão financiar a cadeia de fornecedores da empresa. Gabrielli esteve em Salvador para apresentar o plano de negócios da Petrobras até 2015 e visitou a redação do CORREIO, onde conversou com o diretor Sergio Costa e a editora-executiva de conteúdo do Agenda Bahia, Rachel Vita. Do plano de investimentos da Petrobras, que prevê US$ 225 bilhões nos próximos cinco anos, cerca de US$ 9,8 bilhões são para a Bahia. Os empresários baianos acharam pouco, esperavam mais... Dez bilhões de dólares! Quem é que está fazendo investimentos semelhantes aqui para a Bahia?
Dos US$ 45 bilhões a serem investidos no Nordeste, US$ 10 bilhões para a Bahia são a maior fatia da região? O investimento da Petrobras é onde você vai usar o dinheiro, não é onde você vai comprar o produto. Você pode ter compras maiores do que isso. Tem muita indústria na Bahia que produz para São Paulo, para a Bacia de Santos, de Campos, pode produzir daqui para a refinaria do Maranhão, para a refinaria doRio de Janeiro. Nós não gostamos de fazer essa divisão geográfica porque ela não mostra de onde vemo produto e para onde vai o produto. Quando se fala de US$ 45 bilhões para o Nordeste é o dinheiro que será investido na região – US$ 9,8 bilhões na Bahia.
A maior parte do dinheiro do Nordeste está na Bahia? Não. A maior parte do Nordeste está na refinaria de Pernambuco, que será concluída agora. A refinaria da Bahia é a segunda maior da Petrobras. Nosso maior déficit hoje está no Norte-Nordeste e Centro-Oeste. São 450 mil barris diários entre a capacidade de refino e demanda nestas regiões. As novas refinarias em Pernambuco, Rio Grande Norte, Ceará e Maranhão são onde não temosnada ainda.
Deste US$ 45 bilhões quanto vai para Pernambuco? Não sei. De cabeça, não sei. Por que esta comparação com Pernambuco? Essa briga entre Pernambuco e Bahia é um absurdo. Pernambuco está em outra fase, implantando uma refinaria como nós fizemos aqui há 60 anos.
O que a Bahia poderia fazer para participar mais da cadeia de produção? Nós temos muitos poços em terra na Bahia. São mais de dois mil produzindo cerca de 48 mil barris. Essa é uma área que pode desenvolver e pode crescer. Acabamos de inaugurar aqui na sexta-feira um laboratório de elevação artificial que simula uma parte do processo de produção. Para a atividade de perfuração você temtoda a parte mecânica, toda a parte física, tem toda a infraestrutura. Na área de exploração, na Bahia, tem uma possibilidade grande em toda a costa de desenvolver estaleiros navais, seja para a construção de navios mais complexos, como sondas, seja para a construção de navios mais simples, barcos de apoio, ou até mesmo fazer estaleiros para manutenção, conserto e reformas.
O que falta, então? Dinamismo dos empresários e disposição para assumir riscos. Os empresários estão muito acostumados a serem empreiteiros, a teremencomendas de obras públicas, o que diminui seus riscos. Para a indústria de petróleo é preciso assumir riscos. Nós garantimos que vamos comprar. Mas não podemos garantir que o cara vai ganhar.
Quando se fala na exploração do petróleo na camada pré-sal, todos imaginam sempre uma coisa muito grandiosa, mas sabemos que há espaço para a pequena e média empresas. Quais são as oportunidades para eles? Uma sonda de perfuração é um equipamento caríssimo, sofisticadíssimo que custa entre 600 e 700 milhões de dólares. Uma sonda tem algumas centenas de sistemas. Na ancoragem, por exemplo, tem motores. Os motores têm parafusos, os parafusos precisam ser pintados ou precisam ter arruelas, juntas. E você pode saber quantas juntas vamos precisar. Essa microempresa que faz juntas não precisa ter contato conosco. Nós fizemos agora um programa fantástico chamado Progredir. Ele junta o Banco do Brasil, a Caixa Ecomomica Federal, o HSBC, o Santander, o Itaú e o Bradesco. Eles concordaram em fazer um programa com a Petrobras em que o contratante para fazer um equipamento para o qual a empresa vai pagar 100 milhões pode pegar 50 milhões nos bancos, que a Petrobras garante o pagamento.
E os outros 50 milhões? Ele pode passar para o fornecedor de motor, para o fornecedor de válvulas e assim por diante até o quarto nível, semprecisar ter contrato com a Petrobras. Com isso, a gente espera atingir até 250 mil empresas. Vamos lançar esse programa na Bahia no próximo dia 20.
Tem a contrapartida desses contratosseremcomempresas brasileiras? Claro. Tem que ser no Brasil. Com empresas no Brasil, o que não quer dizer que sejam só empresas brasileiras. O financiamento dos bancos é no Brasil.
Já existe um edital? Quem estiver lendo essa sua entrevista e se interessar? Pode ir correndo pro branco. Já temos R$ 370 milhões emprestados neste sistema. Nós vamos fazer aqui um lançamento formal grande, mas já está funcionando.
Que tipo de empresa o senhor identifica aqui na Baia que possa participar deste sistema? Nós temos fornecedores de umbilicais, por exemplo. São equipamentos que ligam e transmitem impulsos elétricos para controlar a válvulano fundo do mar. Nós temos produtores de lâminas para perfuração, de válvulas e de juntas. Várias coisas podem ser feitas. E eles são fornecedores não apenas para o investimento que será feito aqui na Bahia, mas no Brasil.
O Progredir então já está funcionando, mas será lançado aqui na Bahia? Ele já foi lançado. Nós vamos fazer aqui um workshop para atender individualmente aos interessados. Tipo um feirão de crédito.
No Agenda Bahia, um dos problemas apontados no último debate sobre inovação foi a falta de investimentos nessa área no Brasil. O país investe 1,15% do PIB em inovação enquanto a China investe o dobro. Como osenhor vê essa questão? O que falta para o país ter mais vantagem na competição lá fora? Não posso falar no genérico desta maneira. Posso falar especificamente na cadeia de suprimentos que por si só já é um mundo. Nós estamos investindo US$ 1,3 bilhão por ano em pesquisa e desenvolvimento. Não é pouca coisa. Aqui na Bahia, nós saímos de um investimento com as universidades de US$ 17 milhões para 100 milhões nos últimos cinco anos na constituição de redes com as universidades baianas. Estamos num esforço enorme no sentido de chamar as empresas para entrar nesse processo. Não há desenvolvimento tecnológico semuniversidade, sem empresa e sem quem garanta investimento durante o prazo da investigação. É preciso combinar as três coisas. E isso nós estamos trabalhando ao mesmo tempo.
Que tipo de pesquisa a Petrobras pretende fazer na Bahia no Parque Tecnológico? Hoje nós temos 1.978 pesquisas diferentes aqui com as redes com as universidades. O Parque Tecnológico terá foco nos campos de petróleo de terra e nos campos maduros.
E no campo de pessoal? O que a Petrobras que tem esse plano de investimento gigantesco vê essa questão e o que faz para atrair e reter talentos? A Petrobras hoje tem 52% dos seus trabalhadores com menos de dez anos na empresa, 46% temmais de 20 anos. Temos aí duas gerações.O grande desafio hoje é fazer com que essa geração mais experiente passe seu conhecimento aos mais novos, que tem mais formação básica, mas a experiência mão na massa é do pessoal mais antigo. A transição aí é fundamental. Os novos chegam com seu conhecimento e tal, mas os mais antigos é que sentemo cheiro do petróleo, sabem ouvir as máquinas, têm a sensibilidade, a experiência vivida. Não antevemos nenhum grande problema de recrutamento. Nos últimos concursos da Petrobras, oferecemos duas mil vagas e tivemos 349 mil inscritos. Neste atual, oferecemos 580 vagas, temos 174 mil inscritos. Vemos problemas de recrutamento para a cadeia produtiva. Montamos 12 mil turmas para treinar 280 mil pessoas até 2014. Nós já treinamos 79 mil para a cadeia produtiva e temos 700 mil inscritos.
No Prominp, é isso? Exatamente. O Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural envolve 70 instituições de ensino e treinamento. Desde o pedreiro ao mecânico, ao eletricista, ao soldador, ao operador de guindaste, ao engenheiro especialista em 3-D, ao especialista em corrosão, ao detalhista de projeto, ao físico de estruturas em balanço. São 720 ocupações. É o maior programa de treinamento do mundo.
Como a crise mundial afeta a Petrobras? Eu digo sempre que o futuro não foi cancelado. Ele vai existir. E as pessoas vão andar de carro, os ônibus vão continuar circulando, os caminhões vão andar, os navios vão circular, os aviões vão voar, o ar-condicionado, o aquecimento, óleo lubrificante. Demanda de derivado de petróleo não vai parar. Não há alternativa no curto prazo. Se a demanda ficar exatamente a de hoje, 87 milhões de barris. Não crescer nada até 2020, o mundo vai precisar acrescentar 45 milhões de barris novos só para compensar o declínio da produção de petróleo. O futuro vai existir. A turbulência que estamos atravessando hoje não é nemde liquidez. É de seleção de projetos. Em janeiro de 2009, no auge da crise de 2008, a Petrobras levantou 6,5 bilhões de dólares. Bancos emprestaram a Petrobras. Em 2010, nós fizemos o maior IPO (abertura de capital) do mundo. Nossa visão é essa. Os bancos americanos estão hoje com US$ 1,7 trilhão no FED acima da reserva que seria recomendável. O Tesouro americano no auge da crise deles com o rebaixamento da classificação americana vendeu títulos com zero de taxa de juros. Não haverá problema de financiamento. Tendo projeto, não haverá problema. E nós temos projeto: viável, concreto, definitivo, objetivo, com amplo crescimento.
A presidente Dilma Rousseff acompanha mais de perto a Petrobras do que o presidente Lula? Tem alguma diferença entre eles neste sentido? A presidente Dilma foi oito anos presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Ela sentava todo mês conosco. Ela conhece a Petrobras por dentro.
Isso não lhe dá mais conhecimento para cobrar... ...O Conselho continua funcionando. O ministro Guido (Mantega) é o presidente do Conselho, a ministra Míriam Belchior faz parte do Conselho, o ministro (Édson) Lobão temrepresentante, os militares têm o seu, estão lá o Luciano Coutinho, o (Jorge) Gerdau, o Fábio Barbosa, eu, o Sergio Quintela...
E o pau quebra lá, não? Todo mês o pau quebra. O Conselho é muito ativo, claro, e para a governança da empresa isso é muito positivo (risos).