Uma pesquisa* realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgada nesta quarta-feira (21) - Dia Nacional da Luta pelos Direitos das Pessoas com Deficiência - revelou que 8 em cada 10 pessoas com deficiência vivem com até 1 salário mínimo per capita na Bahia.
A situação é alarmante porque o estado ainda possui 4º maior percentual do país, com 1,182 milhão de pessoas com deficiência morando em domicílios com renda mensal per capita inferior a R$ 998.
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Em um desses cenários, encontramos dona Conceição Mendes do Carmo, de 63 anos. A idosa vive com apenas 1 salário desde que se aposentou por invalidez, há 37 anos. “Eu trabalhei em empresas e me aposentei por invalidez por ter como enxergar. Hoje só tenho 5% do olho direito e tenho ainda problemas de coluna. Não tenho nem a possibilidade de ter um dinheiro extra porque é arriscado buscar algo e o benefício ser cortado”, iniciou.
Ainda em entrevista ao iBahia, ela contou que viver atualmente é um grande desafio. E na maior parte do tempo, não há muitas opções de escolha. Conceição revelou que só tem mensalmente o valor de R$1.212 (salário mínimo) para pagar as despesas essenciais, alimentação, lazer e medicamentos.
“É difícil por que se você comprar o remédio, você não compra o feijão; e se comprar o feijão não compra o remédio. Tem que dividir e assim, quando chega a metade do mês o dinheiro já acabou. Malmente dá pra comprar algo”, detalhou a idosa.
Acesso à serviços básicos
Ao longo dos anos, Conceição criou 4 filhos. E sente o maior orgulho de ter alcançado essa conquista. Entretando, quando foi questionado sobre a rotina e os momentos de lazer ou simplesmente acesso a serviços básico, ela foi direta: "É um desespero porque você não consegue comprar nada. Eu compro uma roupa em um mês e o sapato no outro. E pra me distrair eu tenho que levar a água de casa. Normalmente, não tenho nenhum momento de lazer, porque não tenho dinheiro”, explicou.
A pesquisa do IBGE também analisou o acesso a serviços importantes para o bem-estar, incluíndo saneamento básico e internet a domicílio. Na Bahia, em 2019, a proporção de pessoas com ao menos uma deficiência que moravam de domicílios atendidos pelos três serviços de saneamento básico (esgotamento sanitário, abastecimento de água por rede geral e coleta de lixo direta ou indireta) era menor do que a já baixa proporção entre as pessoas sem deficiência: 46,6% frente a 50,6%.
O acesso à Internet também era, em média, menor entre as pessoas com deficiência. Na Bahia, em 2019, 64,3% delas moravam em domicílios com acesso à Internet frente a 80,6% das pessoas sem deficiência. No Brasil como um todo, a diferença também era significativa: 68,8% das pessoas com deficiência moravam em domicílios com acesso à Internet, frente a 86,1% das pessoas sem deficiência.
Esperança
Apesar dos desafios, Conceição não perde à esperança. Há alguns anos, para abandonar os períodos osciosos, ingressou na Associação Baiana de Cegos e hoje atua, de forma voluntária, na entidade.
“Eu entrei na associação para preencher meu tempo, né?! O deficiente visual se sente muito só e aqui posso ser útil para as pessoas”, disse.
Sobre a comemoração do Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, ela contou que acredita na data como ponto de partida para ações melhores; e claro ações práticas como fez questão de pontuar..
“Queria que os governantes olhassem mais pra gente porque pensar na acessibilidade com palestras não adianta; é como minha mãe dizia ‘oração sem ação não tem valor nenhum’", finalizou.
*Os dados são do estudo "Pessoas com Deficiência e as Desigualdades Sociais no Brasil" - que tem como principal fonte a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019, realizada pelo IBGE em convênio com o Ministério da Saúde.
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Mayra Lopes
Mayra Lopes
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