O corpo da líder quilombola e yalorixá Mãe Bernadete, vítima de um ataque a tiros no terreiro onde morava, foi enterrado no final da manhã deste sábado (19), em Salvador. A cerimônia reuniu dezenas de amigos, familiares e autoridades, sob forte comoção. Antes disso, uma grande homenagem foi realizada para a religiosa.
O sepultamento aconteceu no Cemitério Ordem 3ª de São Francisco, na Baixa de Quintas, onde também foi enterrado o filho da líder quilombola, Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, mais conhecido como Binho do Quilombo. Ele também foi assassinado na comunidade em 2017 e o crime pode ter relação com a morte de Mãe Bernadete.
Leia também:
Veja também
- Secretário de Cultura da BA apaga post com Mãe Bernadete após críticas
- Trinta líderes quilombolas foram assassinados em 10 anos, diz Conaq
- MPF e DPU pedem à Presidência urgência na proteção de quilombos na BA
O velório da religiosa começou ainda na sexta-feira (18) e seguiu até a manhã deste sábado, no Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, na região metropolitana de Salvador, onde ela vivia. O corpo deixou a comunidade pela manhã, em um cortejo que percorreu ruas da cidade. Um caminhão do Corpo de Bombeiros Militar da Bahia e um carro funerário foram usados.
Durante a cerimônia, além da caminhada, houve samba e rituais religiosos, até que o caixão seguiu viagem para a capital. O corpo chegou em Salvador pouco antes do enterro, que estava marcado para as 11h. O caixão estava coberto com uma bandeira do Estado da Bahia.
Depois do sepultamento, um outro filho de Mãe Bernadete, conversou com a TV Bahia e desabafou sobre o caso. Em entrevista, Wellington dos Santos criticou o funcionamento da medida protetiva que deveria proteger a líder quilombola de ataques e ameaças sofridos desde a morte do irmão dele.
"Havia uma medida protetiva, mas havia falhas. Não era 24h. Os policiais iam de manhã, ficavam de 20 a 30 minutos e retornavam. Às vezes iam a tarde, ficavam de 20 a 30 minutos e retornavam. E tinham câmeras instaladas também ao redor da casa", disse.
Wellington dos Santos também desabafou sobre as perdas na família e levantou hipóteses sobre os crimes. "Em 19 de setembro de 2017, meu irmão foi assassinado, e, hoje, 19 de agosto de 2023, eu estou sepultando minha mãe no mesmo lugar", disse. "Os mesmos autores não, mas pode ser o mesmo mandante", completou.
Investigação
Tanto o assassinato de Mãe Bernadete, quanto o do filho dela são investigados pela Polícia Federal. Quase seis anos depois, a morte de Binho do Quilombo ainda não foi solucionada.
A Polícia Civil também apura a morte da líder quilombola. Em investigações iniciais, a Corporação já constatou que as armas utilizadas no crime contra a yalorixá são de calibre 9mm, que é de uso restrito.
Mãe Bernadete foi morta dentro da casa onde vivia, na Base Comunitária do Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho. Dois homens usando capacetes entraram no imóvel, fizeram três netos que estavam com ela reféns e fugiram levando celulares após o assassinato.
A suspeita inicial é de que o caso esteja ligado a tentativas de invasão e ocupação de terras na região, no entanto ainda de acordo com a polícia, não há uma linha de investigação definida. Com isso, não está descartado que as mortes na família tenham correlação. Uma equipe multidisciplinar da Polícia Civil está trabalhando na investigação do caso.
Redação iBahia
Redação iBahia
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!