O dia 4 de dezembro é uma data marcante para católicos, candomblecistas, umbandistas, bombeiros e baianas de acarajé aqui na Bahia. Mas, qual é a força que une todas essas pessoas? A resposta está na fé.
No catolicismo, este é o Dia de Santa Bárbara, e em Salvador a comemoração é sincrética e também celebra a orixá Iansã/Oyá. Em entrevista ao portal iBahia, o antropólogo e professor da Universidade Federal da Bahia, Vilson Caetano, explicou quais foram os acontecimentos históricos que construíram essa tradição religiosa e cultural.
De acordo com Vilson, os africanos que vieram em situação de escravidão para o Brasil (mas também aqueles que eram de colônias portuguesas) tomavam conhecimento da vida dos santos católicos através dos sermões. Santa Bárbara é conhecida por proteger contra tempestades, trovões e incêndios, por este motivo também é conhecida como padroeira dos bombeiros. A cor vermelha simboliza a santa, pois ela foi considerada uma mártir após ser morta por se declarar cristã.
"Com este conhecimento da história e desses elementos católicos que faziam parte da passagem de Santa Bárbara, os africanos foram capazes de fazer a experiência de Oyá na santa católica. Oyá também se manifesta no vento, nas tempestades, e também no fogo, por conta da sua relação com Xangô, já que é sua primeira esposa", explicou o antropólogo.
Baianas de acarajé e Iansã
Ainda segundo Vilson, no século XVII a figura e o nome de Santa Bárbara foram trazidos para Salvador através dos mercados geridos por famílias portuguesas.
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E quem estava à frente das vendas, dos mercados, eram os africanos em situação de escravidão. "Iansã também aparece nos mitos religiosos como dona do mercado, do comércio, como uma entidade que dá sorte nos empreendimentos".
Nos mercados, eram vendidos todos os tipos de comidas, inclusive aquelas conhecidas hoje como comidas baianas, dentre elas estava o acará, bolinho de feijão frito no azeite. Nos terreiros, este alimento representa a própria orixá Oyá.
Vilson explicou ainda que a presença dessas africanas e das suas descendentes nas ruas é antiga e servia de renda para dar a essas mulheres liberdade, jóias, imóveis e também para pagar coisas referentes a sua vida nas religiões afro-brasileiras.
"Já que o mercado e a venda são sagrados, os filhos de santo iam para as ruas para venderem as comidas dos seus orixás. A partir disso, começou a criar uma associação da figura de baiana de acarajé com Iansã", explicou o antropólogo.
Coincidentemente, no dia 4 de dezembro de 2020, data da celebração de Santa Bárbara e Iansã, a famosa baiana Jaciara de Jesus Santos, mais conhecida como Cira do Acarajé, faleceu aos 70 anos de idade. Familiares relatam que ela era religiosa e era filha de Oxum Opará, orixá de dupla personalidade. Durante seis meses carrega a beleza de Oxum e e no semestre final, a força de Iansã.
"O povo diz que mainha era de Oxum com Iansã, mas era a devoção dela, que ela também tinha por São Cosme, por todos os orixás dela. Ela era cuidadosa das coisas [heranças religiosas] que foram de minha avó", disse Cristiane, uma das filhas da baiana, durante uma entrevista ao G1. Cira deixa cinco filhos e oito netos.
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Redação iBahia
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