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Ex-patroa de idosa que viralizou com relato de racismo disse que não pagava salário porque considerava ela uma irmã

Informação foi divulgada pelo MPT nesta segunda-feira (2). Vítima passou 54 dos 62 anos trabalhando como empregada doméstica da família

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Redação iBahia

02/05/2022 às 22:11 • Atualizada em 28/08/2022 às 10:30 - há XX semanas
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					Ex-patroa de idosa que viralizou com relato de racismo disse que não pagava salário porque considerava ela uma irmã
Foto: Reprodução / TV Bahia

A história da idosa que viralizou na internet após relatar o racismo que sofreu enquanto vivia em situação análoga à escravidão, na Bahia, ganhou mais um capítulo nesta segunda-feira (2), depois que o Ministério Público do Trabalho (MPT) divulgou a justificativa dada pela ex-patroa dela para o não pagamento dos salários.

De acordo com a auditora fiscal do trabalho Liane Durão, que cuida do caso, a mulher, identificada como Sônia Seixas Leal, disse que considerava a empregada doméstica uma irmã e que, por isso, não a remunerava pelo trabalho. O relato foi dado em depoimento ao MPT no final de março deste ano, logo após a ação que resgatou a vítima.

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A empregada doméstica Madalena Santiago da Silva tem 62 anos e viveu 54 deles na casa dessa família, na cidade de Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador. Ao longo do tempo que vivia com os antigos patrões, ela não recebia salário, era maltratada, sofria racismo e ainda foi vítima de um golpe da filha dos donos do imóvel, que fez empréstimos no nome dela e ficou com R$ 20 mil da aposentadoria da doméstica.

Segundo a auditora Liane Durão, para cada irregularidade relacionada ao trabalho da doméstica será aberto um auto de infração. Até então, o Ministério Público do Trabalho tem entre 10 e 12 autos neste caso.

Para o Sindicato dos Trabalhadores Domésticos da Bahia, afirmações como a de Sônia, que diz considerar a doméstica como "da família", são tidas como crime de assédio moral.

"É uma forma que a pessoa [empregador] usa para poder não garantir os direitos da empregada doméstica. E essa trabalhadora não é da família, ela está vendendo a sua mão de obra para uma pessoa que precisa do serviço", explica Creuza Oliveira, presidente do sindicato, em entrevista à TV Bahia.

"Se ela fosse da família, teria direito a herança, teria direito a usar o elevador social, piscina, fazer faculdade e estudar, como a família faz."

Além disso, Creuza conta que muitas domésticas prestam serviços como Microempreendedor Individual (MEI), o que pode prejudicar.

"A trabalhadora doméstica que está vendendo o seu trabalho para alguém não é microempreendedora. Ela está fazendo uma prestação de serviço. Isso é prejudicial, pois [como MEI] ela não tem direito ao FGTS, horas extras, adicional noturno e 13º salário."

O Sindicato dos Trabalhadores Domésticos da Bahia distribui 250 cestas básicas por mês e presta assistência jurídica às trabalhadoras. Segundo o sindicato, após a repercussão do caso de Madalena, duas novas denúncias de trabalho análogo a escravidão foram feitas na Bahia em apenas um dia.

"Não basta denunciar, precisam ser feitas políticas públicas que garantam a proteção dessas pessoas", afirma Creuza.

Carta


				
					Ex-patroa de idosa que viralizou com relato de racismo disse que não pagava salário porque considerava ela uma irmã
Foto: Acervo Pessoal

Na semana passada, Madalena divulgou para a TV Bahia uma carta dos ex-patrões, onde o casal acusa a filha de praticar golpes contra a própria mãe e contra a quem eles chamam de “mãe preta”, fazendo referência à antiga funcionária.

O crime é relatado logo o início da carta, que parece ter a intenção de sensibilizar a filha dos ex-patrões de Madalena. O documento foi assinado pelos pais da mulher e pela idosa em 2018 e traz mais detalhes da situação.

“Sem qualquer sentimento de sensibilidade, ao contrário com o objetivo de atingir a Todos você subtraiu todas as cadernetas de poupança de sua mãe e de Madalena. Esta, foi como os meus antepassados diziam, era e sempre foi a chamada ‘mãe preta’ que lhe embalou no colo assim como vem fazendo com a sua filha. Serviu até hoje como uma ‘escrava’ fazendo todas as suas vontades”, diz um trecho do documento.

Em seguida, a carta continua: “Queria bem como se fosse a sua própria mãe. Então qual o agradecimento e gratidão: retirou toda a sua pequena poupança, produto de uma aposentadoria de 35 anos de trabalho. Não satisfeita no seu instinto perverso, ainda teve a crueldade de consignar empréstimos na aposentadoria que variam de 48,60 e 70 meses. Doloroso!. O choro de dor e desespero da inocente Madalena ao tomar conhecimento do fato, por certo está entregue à misericórdia Divina. O preço dessa covardia será resgatado, ainda nesta vida”.

Segundo apuração da TV Bahia, o ex-patrão de Madalena morreu em 2020. Atualmente, os únicos vivos são a esposa dele e a filha do casal.

Para ressarcir a idosa, o MPT divulgou que a Justiça do Trabalho bloqueou bens da família no valor de R$ 1 milhão. O dinheiro deve ser usado no pagamento de verbas rescisórias e dos danos morais.

De acordo com o Ministério Público do Trabalho (MPT), o pedido, acatado pela juíza Vivianne Tanure Mateus, titular da 2ª vara do Trabalho de Salvador foi feito pela procuradora Lys Sobral, coordenadora nacional de combate ao trabalho escravo do órgão.

A juíza também determinou o pagamento de um salário mínimo até o julgamento da ação principal e o bloqueio dos bens.

Repercussão


				
					Ex-patroa de idosa que viralizou com relato de racismo disse que não pagava salário porque considerava ela uma irmã

Atualmente, Madalena da Silva vive com familiares e recebe seguro desemprego e um salário mínimo de ação cautelar movida pelo MPT contra os antigos patrões. Mas, apesar da reparação financeira, a idosa convive com os traumas.

A história de Madalena sensibilizou internautas de todo o país, na quinta-feira (28), depois que uma reportagem feita pela TV Bahia viralizou na internet.

Durante a entrevista, a idosa chorou ao segurar a mão da repórter Adriana Oliveira, que é branca, e disse que tinha receio de tocá-la por causa do que a cor da jornalista a remetia. “Fico com receio de pegar na sua mão branca”, contou. Assista ao vídeo abaixo

A repórter questionou a frase forte dita pela doméstica e estendeu as mãos para ela, questionando: “Mas por quê? Tem medo de quê?”.

Madalena, então, falou: “Porque ver a sua mão branca. Eu pego e boto a minha em cima da sua e acho feio isso”.

O trecho da reportagem foi compartilhado pela repórter e outros jornalistas e por páginas nas redes sociais. Emocionados e chocados com a situação, internautas comentaram a história.

“Quantos traumas esta mulher sofreu e sofre. Que tristeza”, escreveu um internauta. “E tem quem diga que racismo não existe, que já passou…”, comentou outra. “Que dor ver isso”, completou uma outra mulher.

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