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'Eu tinha esperança que ele pudesse voltar', diz socorrista

Bebê estava na lancha com mãe, irmã de 4 anos e avó

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Redação iBahia

25/08/2017 às 16:05 • Atualizada em 28/08/2022 às 7:36 - há XX semanas
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O socorrista Jaelinton Assis Souza Batista, 51 anos, já carregou muitas pessoas nos braços. Ontem, curiosamente, precisou de toda a força do mundo para pegar nas mãos a vítima mais leve que resgatou em seus 32 anos de carreira: o menino Davi Gabriel Monteiro Coutinho, de 6 meses. Filmado e fotografado em ação, se tornou um herói sem ter salvo uma vida sequer.

“Por mais situações que a gente pegue no Samu, situações de coisas até piores, isso realmente comoveu”, disse Jaelinton, na manhã desta sexta-feira (25), em frente ao terminal marítimo de Salvador, mais de 24 horas depois do acidente que deixou pelo menos 18 mortos na Baía de Todos os Santos. No trajeto do barco até a unidade móvel do Samu, Jaelinton carregou o peso de uma vida inteira pela frente. “A cena em si diz tudo, né?”, resume.

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(Foto: Marina Silva/CORREIO)

O pequeno Davi vinha fazer exames médicos em Salvador. Estava com a mãe, avó e irmã de 4 anos. Todas foram hospitalizadas, mas já tiveram alta. “É marcante. Foi uma cena que marcou muito. Vidas foram ceifadas. A população está abalada, de luto”, lamentou Jaelinton. “Muito sofrimento para as pessoas que vivenciaram esse momento e para os que assistiram”.

Em sete anos como motociclista do Samu, piloto da chamada motolância, o técnico de enfermagem contou com detalhes o que aconteceu no momento do resgate de Davi. Jaelinton revelou que foi o primeiro socorrista a chegar no terminal marítimo, antes mesmo de saber que havia um naufrágio. Uma incrível coincidência. “Eu, na verdade, tava vindo para cá para atender uma outra ocorrência, de uma pessoa vítima de desmaio”.

A vítima do desmaio iria pegar a lancha do acidente e acabou chegando atrasada. Entrou na próxima. “Ela pegou outra lancha e, quando passou, presenciou o acidente. Aí chegou aqui abalada, nervosa. Foi quando a gente soube do ocorrido e informamos a central. A determinação deles foi de que ficássemos aqui”, relatou.

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Minutos depois, quando os socorristas montavam as arenas de atendimento, chegou uma embarcação com cerca de 30 vítimas do acidente. Todas sobreviventes. Exceto uma. “Avaliamos e as pessoas estavam tranquilas, respirando confortavelmente. Então o médico perguntou se tinha algum óbito. Foi quando, no canto, avistamos uma criança”.

Jaelinton corre com o pequeno Davi nos braços pelo terminal, em Salvador (Foto: Reprodução/TV Bahia)

Quando o doutor Márcio Bittencourt tocou em Davi, ele já estava, como eles costumam dizer, “cianótica”, com coloração arroxeada. As extremidades estavam frias e não havia sinais vitais. Os procedimentos foram iniciados na própria embarcação. “Não tinha espaço para os procedimentos e o barco balançava”. A única solução foi interromper as compressões no peito.

Foi quando Jaelinton tomou Davi nos braços e levou o menino para a unidade móvel. Equipada, inclusive, com desfibrilador. “A conduzimos para a unidade e foram feitas todas as manobras possíveis”. Davi foi, inclusive, entubado. Por uma hora e meia os médicos tentaram reanima-lo. “A gente sempre tem esperança, né? Eu tinha esperança que aquela criança pudesse voltar. Por toda a situação, por ser criança ainda. Infelizmente...”, disse Jaelinton, tão acustumado com tragédias, pela primeira vez com a voz embargada.

Homem de fé, praticante do candomblé, Jaeliton diz que não se sente frustrado, mas triste. "Fizemos a nossa parte, né? Deus fez a dele. Não sinto frustração, mas a gente fica triste, né? Com todo esse investimento que a gente fez não ter conseguido”. No dia seguinte ao que se tornou herói sem ter salvado ninguém, Jaelinton preferiu o conforto à família de Davi. “O que eu diria para a família? Eu diria que, no rio da vida, as águas do tempo aliviam tudo”.

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