Elas levavam vida de estudete e acordavam às 7h. Aliás, 7h não, mais cedo ainda – “7h era só pra ficar no ritmo da música”, dizem. Agora, as estudantes do 3º ano do colégio Estadual Jutahy Magalhães, em Itaparica, Isabele Alcântara, 20 anos, e as primas Bruna e Jamile Moreira, ambas de 18 anos, só acordam depois das 11h. O motivo? “Não tem nada pra fazer de manhã”, desabafa Bruna. Apesar do sucesso que fizeram como as “Estudetes” depois de postarem no Youtube um vídeo parodiando a música Vida de Empreguete com uma crítica ao governo do estado, as três alunas ficaram fora do pacote de volta às aulas iniciado ontem pelo governo, já que o programa é restrito aos 22 mil estudantes do 3º ano de Salvador. “Acho que o governador com certeza já viu o vídeo. Pensei que ia mudar alguma coisa, mas...”, lamenta Isabele. Até a manhã desta terça (26), a produção das meninas já tinha mais de 277 mil acessos no Youtube.
O pacote de reposição de conteúdo do governo inclui aulas nos três turnos para alunos da capital, distribuídos em 19 escolas-polos. No total, segundo a Secretaria de Edu cação do Estado, (SEC), a rede conta com 135.030 alunos no 3º ano, sendo que até o início do mês 80 mil ainda estavam sem aulas. Nesta quinta (25), no primeiro dia do plano, poucos alunos compareceram e professores em greve fizeram protestos contra o governo , que, por sua vez, afirmou que está planejando programas semelhantes para os alunos dos outros anos. EstudosSem alternativa por enquanto, as Estudetes seguem dançando e estudando em casa mesmo. “A gente tá fazendo o que pode. Estou até pensando em ir pra Salvador pra assistir às aulas, mas não sei se é possível. Minha tia vai ver isso pra mim”, diz Bruna Moreira. De manhã, ela garante que não levanta da cama antes das 11h. De tarde, dá aulas de reforço para colegas de outras séries. Já Jamile e Isabele preferem ficar em casa estudando com materiais disponibilizados na internet. Só acordam mais cedo para ir à aula de História, lecionada pela professora Maísa Paulo, às quartas e sextas-feiras. Nesses dias, as meninas chegam ao colégio, às 9h e às 8h, respectivamente. Foi a professora Maísa, inclusive, que encomendou o trabalho que fez surgir o vídeo das Estudetes. Para o segundo semestre, as três conseguiram se inscrever em um pré-vestibular gratuito oferecido pela prefeitura. “No começo do ano a gente tentou, mas não tinha mais vaga. Agora acho que teve gente que desistiu e conseguimos entrar”, contam as meninas, que começam esta semana, das 19h às 22h. EnemEstudiosas, Bruna, Isabele e Jamile querem, as três, cursar Direito e estão inscritas no Enem. Por isso lamentam não poderem participar do calendário novo da Secretaria da Educação. “Pelo menos a gente teria assunto pra estudar, ia ser menos tempo perdido, mesmo já sendo um pouco tarde”, diz Jamile. Bruna, porém, acredita que o novo calendário não é solução. “Acho que não vai ajudar muita coisa, talvez fique tudo muito em cima da hora”, diz ela, que apesar disso, diz que gostaria que o plano incluísse Itaparica. Enquanto a solução não vem, elas seguem em frente e prometem algo novo. “Já pensamos em novos vídeos, mas não sabemos ainda o assunto”, comenta Isabele, que diz preferir continuar falando sobre “temas polêmicos”. Na falta de atividades, elas vão inventando novidades: de 15 dias pra cá, Jamile, que tinha o cabelo loiro, pintou-o de preto. “O problema é que aqui só tem praia, não tem cinema, não tem teatro”, reclamam as meninas, que dizem achar sua cidade linda, mas sem muitas opções culturais. Sem aulas e com pouco para preencher o tempo, resta-lhes, por ora, se trancar em casa para estudar sozinhas ou sair e curtir os assovios e buzinadas de quem as reconhece nas ruas. Plano pode valer para o ano letivoApesar da baixa adesão no primeiro dia de aula do calendário especial montado pelo governo do estado, o secretário estadual de Educação, Osvaldo Barreto, disse que, caso a greve se estenda, as aulas ministradas pelos professores do Reda vão valer nota e, com isso, passarão a fazer parte da carga horária do ano letivo. “Se for necessário, terá validade para o ano letivo”, disse ontem, durante coletiva à imprensa na sede da Secretaria de Educação, no Centro Administrativo da Bahia, na avenida Paralela. O secretário negou que a frequência tenha sido baixa e afirmou que não houve nada anormal no primeiro dia do plano de reposição de conteúdo. “O que tivemos foi um pequeno atraso no início das aulas, mas todas as escolas-polos funcionaram normalmente”, diz. Sobre a evasão dos alunos, o secretário disse que a chegada será gradativa. “As famílias estão tomando conhecimento. A tendência é a normalização”. Barreto disse ainda que um programa está sendo montado para repor as aulas dos alunos de ensino fundamental e médio. Poucos alunos no primeiro dia de aula Várias salas de aula ficaram vazias no primeiro dia de aulas do calendário especial que a Secretaria de Educação do Estado montou para repor o conteúdo para alunos do 3º ano de Salvador. O programa emergencial prevê aulas com professores do Regime Especial de Direito Administrativo (Reda) e também em estágio probatório em 19 escolas-polo na capital baiana. Nesta segunda (25) pela manhã, poucos alunos e também poucos professores compareceram. Em várias escolas-polo, professores em greve distribuíram panfletos informando que as aulas não servirão para o ano letivo. No Colégio Estadual Mário Augusto Teixeira de Freitas, em Nazaré, das 24 salas destinadas para o 3º ano pela manhã, apenas oito foram ocupadas. No turno, eram esperados 26 professores, mas só oito puseram os pés nas salas. A escola aglomera alunos dos colégios estaduais Victor Civita, Ypiranga, Antônio Carlos Magalhães, Central e dos centros estaduais de educação profissional em Artes e Design e Gestão Severino Vieira. As aulas marcadas para as 7h20 só começaram quase uma hora depois. “Não foi lá essas coisas. O professor de Português disse que não tinha como passar nada porque o programa de aula foi entregue hoje (ontem), antes de ele vir pra sala. Ele explicou que a Secretaria de Educação ficou de disponibilizar o conteúdo no site”, conta Larissa Andréia Carneiro de Araújo, 16, aluna do Teixeira de Freitas. O estudante Alexandre Pires, 17, deixou a sala depois que ele e outros dois colegas desconfiaram que a professora parecia não ter domínio da matéria. “Ela colocou no quadro a adição, subtração e multiplicação como as únicas as operações fundamentais da Matemática. Então me questionei: e a divisão? Não dava pra mim”, diz indignado. Outros alunos, ficaram ainda mais desestimulados ao saberem que as aulas podem não contar para o ano letivo. “A professora de História chegou informando que as aulas não contam para o ano letivo e que a gente tinha que assistir só mesmo para fazer o Enem”, conta Bárbara Carvalho, 17, aluna do Teixeira de Freitas. Muitos pais que acompanharam seus filhos no primeiro dia de aula, também estavam preocupados. “O pior de tudo é acordar cedo e tudo isso não servir de nada”, diz a dona de casa, Margarida Menezes, 46, mãe de uma aluna do Colégio Central. No Colégio Estadual Luís Viana, em Brotas, a situação não foi diferente. Das 14 turmas destinadas ao 3º ano de manhã, apenas seis tiveram aulas. “Tivemos que juntar os alunos porque muitas salas estavam vazias”, disse uma funcionária. Segundo a funcionária, no colégio eram esperados 380 alunos, mas pouco mais de 20% compareceram. O Colégio Luís Viana é o polo destinado também aos alunos dos colégios Góes Calmon, Frederico Costa, Cosme de Farias e Cidade de Curitiba. Já no Colégio Estadual Governador Lomanto Júnior não houve aula. Segundo alunos, um dos professores do movimento de grave entrou na sala para informar à classe que os estudantes poderiam acompanhar o cronograma da greve pelas rede sociais, mas o docente foi tirado à força por funcionários da escola. “Estávamos tendo aula de História quando o professor foi arrastado da sala. A gente não concordou e resolveu sair”, conta um aluno. A direção da escola não quis comentar o assunto. Com informações do repórter Bruno Wendel Veja vídeo das Estudetes
Moradoras da Ilha, Estudetes ficam fora do projeto de reposição de aulas |
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