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Nea Santtana vai vender suas peças em São Paulo |
Na quinta-feira, quando os convidados de Amir Slama forem à sua loja na Oscar Freire, rua badalada de São Paulo, conferir a nova coleção do estilista, vão conhecer de perto um pouco do que Nea Santtana é capaz. Estarão à venda no local tshirts com estampas da bandeira do Brasil, feitas com patchwork de fitinhas do Bonfim, trabalho precioso e detalhista que a baiana desenvolve com fé e sorriso no rosto. Esse é apenas o primeiro passo de uma parceria que vai continuar no segundo semestre. Nea também tem planos de lançar suas próprias estampas e uma linha de objetos de decoração. Conheça um pouco mais dessa criadora de 28 anos – 16 de profissão - na entrevista a seguir.
Como surgiu a parceria com Slama?Um tio conhece a publisher Sandra Teschner, da Profashional Editora, de São Paulo, e falou de mim para ela. Mandei um kit com peças minhas e, quando ela esteve em Salvador, no Réveillon, nos conhecemos. Ela me ofereceu ajuda para divulgar meu trabalho, porque estava quase desistindo de fazer produtos com fita. Programei minha ida a São Paulo e criei a coleção Território Africano. Já pensava em fazer algumas parcerias e ela me apresentou a Amir.
Como foi o primeiro contato com ele? Um dia antes do encontro, eu pulei de parapente, então cheguei supertranquila na loja dele, na Oscar Freire, acompanhada de Sandra. Ele viu minhas coisas e ficou fascinado. Não parava de tocar e gostou do acabamento. Me pediu para fazer algumas peças para ele, num projeto que virá depois da Copa. Também encomendou dez camisas com a estampa da bandeira do Brasil, que vão estar à venda na loja, na quinta-feira, no lançamento da coleção dele inspirada na Copa.
Angelina Jolie e outras famosas erram feio no make; confira as 10 gafes mais comunsGrife lança maiô com estampa de intestinos; veja fotosPasso a passo: aprenda a customizar bolsas de festaEsse encontro rendeu, hein?Muito. Conversamos bastante. Ele perguntou sobre meu processo de produção e desenvolvimento e me deu dicas sobre modelagem e estamparia. Foi uma verdadeira aula, anotei tudo.
Quanto tempo você ficou lá? Fui no dia 27 de abril e voltei em 12 de maio. Estudei estamparia, que é meu próximo projeto, visitei lugares bacanas, fiz amizades e contatos. Foi a primeira vez que entrei em um avião. Aprendi tanta coisa, teve um dia que nem dormi direito de tanta informação. Fiquei na Profashional e montei para Sandra um miniateliê de costura em homenagem à avó dela que será usado para receber estilistas convidados pela editora. Também costurei um vestido que ela vai usar no evento de Amir esta semana.
Como é esse vestido? É uma peça exclusiva, feita para ela, a partir da minha nova coleção, com a estampa construída na frente e com as costas em malha. Pode ser usada tanto para um evento à noite quanto para uma ida ao shopping.
Essa coleção te deu muita sorte. A coleção teve muita pesquisa, tanto na parte artística quanto na produção. Um contexto mais profundo do meu trabalho, em que falei de baianidade, do território africano que é Salvador. Eu quis ir além, estudei sobre ilusão de ótica para criar as estampas. Como hoje não tenho como reproduzi-las no tecido, uso as fitinhas do Bonfim para criar as formas geométricas. Meu trabalho tem um destaque muito grande não é porque eu uso a fita, mas porque eu peguei algo do nada e criei o tudo. É assim que sinto meu trabalho.
Percebi que seu trabalho evoluiu. Me deixei levar. Antes, seguia uma linha. Acho que a gente tem que criar primeiro para a gente, depois mostrar para o mundo. A coleção tem cinco estampas em kaftans. Daí, posso criar desdobramentos em malha, algodão, linho... não há barreiras com tecido.
Quando você começou a costurar? Aos 12 anos, com minha mãe, que era professora de corte e costura. Me identifiquei com essa arte e um ano depois assumi o ateliê dela no Santo Antonio. Me capacitei, estudei Estilismo no Senac e com 17 anos fiz meu primeiro desfile, no Pelô Fashion.
De onde surgiu a ideia das fitinhas? De ir à Igreja do Bonfim e participar das atividades. Minha mãe, Maria São Pedro, que é muito católica, me levava e eu ficava fascinada com as pessoas amarrando as fitinhas no braço. Um dia, pensei: ‘nossa, isso pode virar coisas maravilhosas’. Comecei a pesquisar e fiz meu primeiro produto: uma bandeira do Brasil que levou três meses para ficar pronta e que minha mãe usou para enfeitar a casa no Dois de Julho. Ela ganha há 19 anos o concurso de melhor fachada do desfile.
Como está sua produção atualmente? Há dois anos, parei de fazer roupas sob medida para investir na carreira. Chego a usar mais de cinco mil metros de fita de seda, que mando fazer em São Paulo, para confeccionar calçados, bolsas de praia, necessaires, camisas do Brasil, os kaftans e a linha casa que estou desenvolvendo. Trabalho com meu marido, João Torquato, que cuida do marketing e do financeiro e eu fico responsável pela criação e desenvolvimento de peças. A gente produz desde os desenhos até o catálogo, alimentamos o site e a loja virtual. Tudo que uma equipe faria, fazemos apenas nós dois. Essa vontade é o que nos impulsiona para conquistar objetivos. Nossa parceria já dura quatro anos. Usamos o dinheiro do primeiro trabalho juntos para comprar as alianças do nosso casamento.