O preço é quase o do Copacabana Palace, mas o nível de conforto é bem diferente. Quem gosta de São João sabe que os preços de hotéis, pousadas e casas no interior inflacionam muito durante o período junino. Muito mesmo. Na semana passada, o CORREIO comparou o valor da diária normal e de São João de 12 hotéis e pousadas em quatro das cidades mais tradicionais em festas juninas. O resultado impressiona: em alguns deles, a diferença chegou a 500%. Foi esse o caso, por exemplo, da pousada Pinheiro, em Senhor do Bonfim. Na cidade, que vai ter o Forró do Sfrega, a diária para duas pessoas na pousada de dona Solange Pinheiro custa R$ 60. Mas isso só se você quiser conhecê-la na baixa estação. No período junino, o pacote aumenta bastante: R$ 600 para dois dias. “Há muitos anos, todos os hotéis trabalham assim. É a época que a gente tem para ganhar alguma coisa, né?”, justifica a proprietária. “A procura é grande, é alta temporada”, emenda o gerente Amílson Cajuí, do Hotel Muricy, na mesma cidade. Para ele, o aumento de R$ 70 para R$ 266 a diária nem foi tão grande. O modesto reajuste foi de 381%. Voltando ao Copacabana Palace, uma diária para duas pessoas no hotel mais luxuoso do Rio de Janeiro custa R$ 1.050. O valor inclui sauna, piscina, área de lazer, academia e tudo mais que o dinheiro pode comprar. Por praticamente o mesmo valor, o casal (ou a dupla de amigos) pode ficar no Hotel Sun Valley, também em Bonfim. O valor inclui nada mais que um quarto com ar-condicionado, TV, frigobar e café da manhã. E se dê por feliz se conseguir uma opção assim. No hotel Ibicuí, no município homônimo, a diária para duas pessoas subiu de R$ 140 para R$ 300 no São João. E o quarto não tem ar e nem sequer banheiro. “O banheiro é coletivo”, informa a atendente, pelo telefone.
ConfortoQuem quiser um pouquinho mais de conforto nessas cidades até consegue. Mas em Amargosa, por exemplo, vai ter que desembolsar R$ 2.400 por um pacote all inclusive no Hotel Fazenda Colibri. O pacote para três dias em apartamento duplo com ar, TV e frigobar, custa bem mais que o mesmo período no resort de luxo Club Med. Lá, o pacote para os mesmos três dias sai por R$ 1.754. E as opções são infinitamente mais amplas: animadores 24 horas por dia, aulas de tênis e arco e flecha, comida e bebida à vontade, praia particular, teatro, circo, espetáculos de dança, entre outros. Em Costa do Sauipe, outro complexo de luxo, o tratamento VIP sai a R$ 1.082 o casal, com direito a duas crianças grátis. O pacote de duas noites inclui comida e bebida à vontade e ainda uma festinha de São João na noite do dia 23. Quer outro exemplo? No Iberostar, em Praia do Forte, a diária por pessoa custa R$ 360, com direito a duas crianças grátis. Para quem não conhece, o Iberostar é um resort de categoria premium cinco estrelas, com todos os apartamentos voltados para o mar, além de seis piscinas que formam 4.000 m² de espelho d’água, duas delas próximas ao mar, com bordas infinitas. Já as pousadinhas do interior... Bem, as pousadinhas do interior são bem mais modestas. Que o diga a administradora Cristiane Leão Monteiro Daiha. Hoje, ela lembra com bom humor da pousada que ficou em Jaguaquara, há alguns anos. “Nossa, foi horrível. Não tinha lençol, minha cama desabou, o sanitário não tinha tampa e tinha até um buraco na parede. A gente tapava com umas roupas, com medo de entrar rato”, ri. Apesar da falta de conforto, o precinho não foi nada modesto. “Não lembro quanto foi, mas foi caro. Até porque a gente foi de última hora e ia ter uma festa grande na cidade”. Já a advogada Renata Gíudice lembra que passou por maus bocados na hospedagem em uma excursão a Senhor do Bonfim, em 2010, apesar de também ter pago caro. “Colocaram a gente num colégio público sem estrutura nenhuma. Era tudo sujo, o banheiro não tinha porta, estava tudo alagado, um horror”, lembra. Já o jornalista Lucas Esteves, esse da foto aí do lado, preferiu alugar uma casa e... veja o box na página seguinte.
ExplicaçãoTudo uma questão mercadológica. É o que ensina o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), José Manuel Garrido. “É a lei de mercado, da procura e da oferta. No São João há uma procura maior que o normal, e a oferta de hotéis nessas cidades é muito pequena”, explica. Verdade. Dos hotéis e pousadas pesquisados pelo CORREIO, boa parte já reservava seus últimos quartos. Em outros, como a Pousada do Bosque, já não tinha mais nenhum disponível. E olhe que o preço da diária sofreu uma inflação junina de 312%. Segundo Garrido, não há nada de ilegal em cobrar preços exorbitantes por uma hospedagem sem o mínimo de conforto. “Não existe órgão fiscalizador para isso. Paga quem quiser. Quem achar caro pode procurar cidades alternativas, como Salvador, Porto Seguro e Ilhéus, que estão com preços muito mais em conta e também têm suas festas de São João”, sugere.
Jornalista Lucas Esteves lembra o sofrimento de quando alugou uma casa no São João |
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