A percepção do Brasil como ambiente de negócios, educação, distribuição de mão de obra qualificada e capacidade de treinamento das empresas é a de um país que regride ao invés de progredir. Tais índices, expõem a imensa dificuldade que o país terá para avançar em relação aos demais, e se constituem em alguns dos motivos para a nossa baixa inserção internacional, baixa competitividade dos produtos exportados e pouca capacidade de diferenciação, o que culmina, em última instância, com as baixas taxas de crescimento apresentadas. A leitura destes dados ajuda a entender em parte porque o Brasil que parecia decolar, ao invés de alçar um vôo de prosperidade, entrou em parafuso e mergulhou em queda livre.
Uma boa dose dos equívocos que vêm sendo repetidos continuamente por sucessivos governos reside justamente na idéia simplista que nossos governantes possuem do que seria um modelo ideal de desenvolvimento e educação. Nossos governantes, e boa parte do mundo pensante empresarial e econômico brasileiros, parece mesmo acreditar em soluções simplistas para alavancar o desenvolvimento do Brasil. Abrir a torneira do BNDES em favor de alguns “campeões nacionais”, praticando juros negativos privilegiados para setores escolhidos, ancorar todo e qualquer investimento e gasto novo na conta do pré-sal, e incentivar a venda maciça de automóveis e caminhões, muitas vezes praticando juros negativos para estes últimos, tudo isto somado à crença de que a Petrobras muito em breve se tornaria uma das maiores empresas de petróleo do mundo e arcaria com todos os custos de investimentos sociais. Tudo isso revela um simplismo extremo, exercitado há pelo menos meio século, independente do regime vigente, e com raras exceções.
Um exemplo do simplismo é imaginar que a economia de um país, em um mundo muito mais complexo e intrincado, pode de fato ser planejada a partir de Brasília, um tipo de dirigismo que praticamente todos os países abandonaram há muito tempo. Fazem parte deste pensamento simplista a crença de que a educação no Brasil pode ser reformada no topo da pirâmide, por meio de uma política de cotas, ou que a veiculação exaustivamente repetitiva de um slogan irá de fato transformar a educação no Brasil. A posição do Brasil em termos de qualidade da educação é tão precária que não seria exagero dizer que seria necessário reformar todo o sistema, dado que o atual fracassou por completo. A admissão do fracasso total e completo poderia ser um bom começo, enfim.
Por outro lado, quando se possui um problema tão agudo em um determinado setor, é possível buscar as soluções mais simples e improváveis, e que não são necessariamente simplistas como, por exemplo, levantar exemplos de sucesso, e eles existem, pelo Brasil afora, espelhando a partir destes casos de sucesso um novo modelo. A evolução contínua da tecnologia, por outro lado, pode favorecer o Brasil. As modernas tecnologias e novos materiais postos à disposição dos estudantes, cujos exemplos podem ser encontrados na Fundação
Lemann, Khan Academy e Coursera, entre outras, podem ajudar a dar um salto adiante. Por outro lado, uma análise mais atenta dos materiais didáticos impressos empregados regularmente revela no mínimo uma grande desconfiança quanto à qualidade e métodos de ensino aplicados atualmente.
Afinal, quando se atinge o fundo do poço, não é possível afirmar que nossos materiais didáticos impressos, que ajudam a sustentar todo um segmento editorial, sejam de fato úteis, adequados e necessários. Uma solução simples, mas nada simplista, poderia ser oferecer aos milhões de estudantes, seja de escolas públicas, seja de escolas privadas, todo o acervo digital que hoje está à disposição de todos os alunos no mundo inteiro. Um bom tablet, um bom sistema de tutoria, um acervo digital, e um sistema inteligente e iterativo, afinal de contas, vão sair muito mais barato do que os vários quilos de livros por estudante que o governo distribui todos os anos.
Embora possa contrariar vários interesses, o caminho da educação aponta para os materiais multimídia, e os novos métodos eletrônicos de ensino e reforço, inclusive com o uso da inteligência artificial e assistentes virtuais, bem como as comunidades de ensino colaborativas. Na situação em que o Brasil se encontra, talvez seja a hora de abraçarmos de vez as novas tecnologias de educação para reverter o atual quadro, dado que o atual não funciona e definitivamente fracassou. Muitas vezes, o fracasso abre oportunidades para mudanças radicais que podem ajudar a dar um passo à frente. Afinal, descartar aquilo que funciona muito mal não pode causar maiores prejuízos.
Aadotar os exemplos das escolas que dão certo e incorporar novas tecnologias são idéias simples, mas não são nada simplistas. Simplista é acreditar que seja possível resolver os problemas da educação com políticas compensatórias. Este tipo de política, embora possa ajudar a promover algum grau de distribuição de riqueza não irá contribuir para melhorar as posições do Brasil no ranking da educação e dificilmente nos tornará competitivos em relação aos demais países do mundo. Tais políticas são simplistas demais e não alavancam a criação de novas tecnologias nem tornam o Brasil mais competitivo o que, em última instância, nos relega à estagnação.
Para quem tiver algum tipo de curiosidade, basta explorar um pouco mais a Internet e descobrir a quantidade de cursos e tutoriais cujo conteúdo é bastante aprofundado, nas áreas de programação de computadores, administração de banco de dados – por exemplo, ou aqueles suportes de ensino de diversas especialidades em administração, ou uma área de seu particular interesse, ou talvez a resolução de todo e qualquer problema de física e matemática que imaginarmos, tudo isto de forma absolutamente gratuita.
Se quiser saber mais sobre as estações do ano, um improvável vídeo explicativo postado no youtube, de um professor do Casaquistão, torna tudo mais simples e claro. Um sistema que qualifique e classifique tal material poderia gerar um acervo extremamente rico de informações e ajuda para os estudantes brasileiros, além de serem provavelmente muito mais estimulantes. Por outro lado, favoreceria o aprendizado do inglês, absolutamente fundamental para almejar algum sucesso na carreira em um mundo definitivamente globalizado.
Continuar no sistema atual é persistir na rota do fracasso certeiro e já consolidado. Mas se o governo e o MEC não se reformarem, não tem problema. Todo este acervo está disponível para você. Para quem já se formou, existe um sem número de cursos, muitos dos quais fornecem certificados, que podem ajudá-lo em sua carreira. O mundo agora é online e não é simplismo explorá-lo. Muitas vezes, as soluções podem ser encontradas na internet, de uma forma extremamente simples.
Sérgio Sampaio |
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