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BAHIA

Bahia não convence empresariado a investir em cultura via Rouanet

Produtores reclamam que incentivo à cultura não é mais alvo das grandes empresas, que preferem se associar a artistas de massa

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05/06/2013 às 14:00 • Atualizada em 26/08/2022 às 19:25 - há XX semanas
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Um estudo do site Nexo, que analisa investimentos culturais no Brasil, apontou que a Bahia está ficando para trás quando o assunto é investimentos de grandes empresas por meio de incentivos fiscais do governo. Apesar de ser berço de renomados músicos, atores, escritores e artistas renomados - boa parte deles mundialmente reconhecidos -, e de ser dona de um patrimônio histórico reconhecido pela ONU, a Bahia não consegue convencer empresas a patrocinar seus projetos através de leis como a Rouanet. Números demonstram ainda que há um decréscimo de 36% nos investimentos na Bahia de 2008 (quando foram investidos pouco menos de R$ 20 milhões) até 2012 (quando o total foi de R$ 12,6 milhões). A Lei Rouanet, que este ano completa 22 anos, permite destinar até 4% do imposto de renda de empresas ou pessoas físicas para projetos culturais.
A prática ainda tem pouca representatividade na Bahia, se comparada sobretudo à região sudeste: com um único projeto, do Instituo Educare, contemplado com recurso superior a R$ 1 milhão, em 2012, a Bahia ficou atrás da vizinha Minas Gerais, que conseguiu captar recursos e impulsionar 27 projetos de mesmo valor. Segundo o site, não faltam projetos para captação no Estado: até 23 de maio de 2013, 228 propostas baianas foram aprovadas para captação de patrocínios.
Tradicional Balé Folclórico da Bahia não consegue pagar as contas do grupo
Patrocínio em baixa O diretor do Balé Folclórico da Bahia, Vavá Botelho, afirma já ter tentando inúmeras vezes obter patrocínio de empresas como a Petrobras. "A gente consegue até a aprovação do governo, o problema é a captação junto às empresas", se queixa o gestor cultural, que diz serem necessários R$ 45 mil mensais só para a folha de salários dos bailarinos. "Sobrevivemos com R$29 mil pagos todo mês pelo Fundo de Cultura, o que é muito pouco para manter um elenco com mais de 50 artistas e mais de 340 espetáculos todo ano", revela Botelho. O espetáculo do Balé Folclórico da Bahia foi o programa soteropolitano mais indicado para turistas na edição de maio do TripAdvisor, site que elege os melhores destinos ao redor do mundo com base em depoimentos de viajantes. Apesar de toda o reconhecimento, a companhia não enche plateias como fazia antigamente. Botelho diz que o dinheiro recebido da bilheteria dos espetáculos não dá para pagar as contas do grupo.
Investindo apenas 2,18% do total destinado para a Lei Rouanet no país, a Petrobras consegue liderar entre os investidores na Bahia
O iBahia entrou em contato a Petrobras, empresa de capital aberto cujo acionista majoritário é o Governo do Brasil (União). A empresa não comentou a situação relatada pelo Balé Folclórico, mas reiterou que em outro edital da própria instituição a Bahia foi o 5º estado a inscrever mais projetos e o 4º mais contemplado.
Diretor de MAM, Marcelo Rezende, denuncia a falta de interesse do empresariado em fomentar a cultura local
A falta de participação das empresas é tão grande que, mesmo tendo investido na Bahia apenas 2,18% do total destinado para a Lei Rouanet no país, a Petrobras consegue liderar o ranking entre as empresas que mais investem na Bahia, segundo o site Nexo. Para o curador artístico e diretor do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) Marcelo Rezende, não dá para esperar que as iniciativas partam sempre de um só lado. "É preciso dividir responsabilidades e conectar produtores, empresas e artistas, sem achar que só o Estado deve fazer", avalia.Para Rezende, falta diálogo para que os artistas conquistem mais intimidade na seara dos incentivos. "A questão é convencer as empresas a apoiar os projetos, mostrar que vale a pena. Fortalecer a imagem da cultura da Bahia também significa fortalecer a imagem das empresas", revela Rezende.
Projeto de turnê da cantora Claudia Leitte conseguiu o maior orçamento para captação na Bahia
Marketing x FomentoO diretor acredita que incentivar a cultura não é mais o alvo das grandes empresas, que hoje preferem ver sua marca associada a artistas de massa do que a articuladores que atinjam públicos pequenos, que privilegiem a cultura local. "A Lei Rouanet foi criada como forma de incentivo, mas se tornou um mero mecanismo de marketing para algumas empresas", critica o curador.
"A Lei Rouanet foi criada como forma de incentivo, mas se tornou um mero mecanismo de marketing", critica Marcelo Rezende
A Lei Rouanet volta e meia vira tema de polêmicas, sobretudo quando aprova a captação de cifras milionárias para artistas consagrados. Maria Bethânia conseguiu, em 2011, o aval para captar um orçamento de R$1,3 milhão para um blog de poesias. A cantora desistiu do projeto depois de grande controvérsia sobre a necessidade do uso da Lei Rouanet para estes artistas, comercialmente viáveis. Em fevereiro deste ano, o projeto musical que obteve maior orçamento dedicado a um só artista foi assinado pela empresa que produz a cantora popular Claudia Leitte, cuja proposta de turnê pelo Nordeste, Norte e Centro-Oeste é da ordem de R$5,8 milhões para a realização de 12 shows. Ele foi aprovado com uma ressalva que corta apenas meio milhão dos quase seis solicitados.
Ranking dos 10 maiores investidores em cultura na Bahia
Vale ressaltar que a Odebrecht, a mais notória empresa com origem no Estado, colocou apenas R$ 280 mil dos R$ 2 milhões que investiu na Lei Rouanet em 2012 em projetos de proponentes baianos – menos de 14% do total. A Fundação Odebrecht tem um programa específico para o Sul da Bahia, realizado com recursos próprios.

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