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ANIVERSÁRIO DE SALVADOR

Por que bares e restaurantes de Salvador fecham cedo?

iBahia ouviu empresários e clientes para entender o que faz da capital baiana uma cidade diurna

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Redação iBahia

25/03/2022 às 7:00 • Atualizada em 27/08/2022 às 15:26 - há XX semanas
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Foto: Reprodução / Instagram
Existe vida na madrugada? Depende de onde você fala. Em grandes metrópoles, a expectativa é que a vida noturna seja agitada. Salvador, a quarta maior cidade do país, é sim uma metrópole, mas seu lado provinciano fala mais alto quando o assunto são atrações noturnas.

Se um turista desavisado programar um roteiro em Salvador com os pontos turísticos obrigatórios - o bom e velho banho de mar no Porto, uma foto no Farol, fazer os três pedidos na Igreja do Bonfim, passear pelo Pelourinho – e incluir um descanso no hotel para curtir a noite por volta das 22h, pode ter problemas. Isso porque, de um modo geral, as opções soteropolitanas fecham ou acabam cedo.

Quem mora em Salvador já tem isso em mente, o que, em alguns casos, resulta em uma adaptação de rotina. A engenheira de produção Fernanda Fidalgo, que morou em São Paulo de 2017 até o ano passado, quando voltou para a capital baiana, agora não encontra com tanta frequência a vida agitada na madrugada que tinha antes.

“A programação em Salvador precisa começar cedo. Não que eu não goste de sair cedo, amo curtir o dia. Mas o que me frustra é não ter opções para quando você quer algo à noite também”, explicou.

O engenheiro de software Eduardo Lopes, paulista que morou em Salvador por 10 anos, mas há quatro retornou a São Paulo, traz um ponto de vista diferente. Para ele, o que difere a capital paulista da baiana é justamente a exceção. As possibilidades que se mantêm abertas durante a madrugada em São Paulo, segundo ele, são maiores do que as de Salvador, mas seguem como exceções.

“Rodando à noite você vê que, no geral, bares fecham à 1h e só baladas fecham realmente ao amanhecer. Ou seja, a mesma coisa que acontece em Salvador. Talvez o que gere esse deslumbramento aqui é a quantidade que acaba gerando exceções em maior número”, pontua.

Diferentemente ou não de outras cidades, essa característica se tornou marcante na capital baiana. E até criou-se uma máxima: Salvador é uma cidade diurna. Mas, nesse caso, o que vem primeiro: a vontade do público ou a falta de oferta?

Para o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes da Bahia (Abrasel-BA), Leandro Menezes, essa é uma discussão que sempre vai existir.

“O cliente que se adapta à falta de opções e por isso se programa para curtir o dia mais cedo, ou a rotina dos clientes que fazem os empresários não estenderem os horários?”, questionou.

Para além da demanda

No Garcia, Varanda Burguer tem planos de estender horário de funcionamento / Foto: Reprodução / Instagram
Para ele, a maior dificuldade dos donos de bares e restaurantes em manter os estabelecimentos abertos por mais tempo não tem a ver com demanda, e sim estrutura da cidade. No caso, a falta de transporte público.

“Os empresários precisam pensar no horário do funcionário ir para a casa. O que acaba complicando a logística, porque onera para o setor privado bancar esse transporte, já que não tem transporte público a partir de determinado horário. Isso faz com que o direito do cliente decidir, se quer ficar até mais tarde na rua, seja cerceado”, argumentou.

O pensamento de Leandro é igual ao de Carlos, dono do PA 2, tradicional bar na Pituba. O empresário conta que durante muito tempo o restaurante funcionou com um horário estendido – hoje fica aberto até 23h e começa as atividades às 10h.

“A questão é que falta transporte público. Como meus funcionários dizem, é um martírio para eles pegarem ônibus depois das 23h, então tive que reduzir o horário. E a gente tinha um movimento grande [de madrugada]”, explicou.

Igor Lordelo é dono do Varanda Burguer, localizado no Garcia. A hamburgueria fecha, nos dias de maior movimento – de quarta a domingo, além de feriados -, às 23h. Ao ser questionado do motivo de não estender o horário, o empresário cita uma questão de logística, que inclui também o transporte público.

“A gente tem o espaço de 8h de trabalho com descanso para a equipe, então eles chegam 15h30 e o horário de trabalho vai até 00h30, porque precisamos de um tempo para fechar a loja. Então, por esse motivo, não é possível estender o horário. [...] No Varanda a gente não permite que funcionário saia depois de meia noite ou até 22h de ônibus", disse.

"Então todos os dias da semana temos um transporte que leva todo mundo para casa, porque o transporte público é ruim e também a questão da segurança. Acho que tem muito estabelecimento que pensa igual ao Varanda, quando coloca na balança [se estendem ou não o horário], os pontos negativos ficam um pouco mais pesados”, pondera.

Ou seja, funcionar até mais tarde também influencia na operação financeira do estabelecimento. Não à toa, exemplos de locais que ficam abertos durante a madrugada são as redes de fast-food.

“É algo que a gente sempre conversa, que Salvador tem poucas opções, ficamos refém dos fast-food que ficam abertos até mais tarde, até porque são estabelecimentos que possuem estrutura suficiente para poder bancar isso. Porque não é barato, os custos operacionais aumentam significativamente, e tem toda a questão de transporte e logística”, reforça Igor.

O empresário, no entanto, entende que um horário estendido pode ser um diferencial, e sinaliza que tem “estratégias engatilhadas” para oferecer o serviço por um período maior.

Vale à pena?

O Boteco Português, no Rio Vermelho, funciona até 1h nos sábados e domingos / Foto: Reprodução / Instagram
O engenheiro civil Gabriel Veloso, que também se queixa da pouca oferta noturna na cidade, acredita ser “contraditório” uma capital como Salvador ter poucas opções que ultrapassem o horário de 1h. Mas será que estender o horário vale à pena para os restaurantes?

De acordo com Giuseppe Salvetti, dono do Boteco Português, localizado no Rio Vermelho, ainda é necessário estabelecer os horários com cautela. Atualmente, o bar funciona até 1h, nos sábados e domingos. A cozinha, no entanto, encerra normalmente 0h.

“Seguimos ainda tentando recuperar o tempo perdido lá atrás [antes da pandemia] e na expectativa de dias melhores para o turismo. Por isso, acreditamos que 1h seja um horário razoável nos tempos de hoje. Porém ainda não é o ideal, gostaríamos de poder levar até mais tarde, mas infelizmente precisamos estabelecer os horários com cautela de acordo ao movimento”, explicou.

No caso do Boteco Português, o maior movimento costuma ser à noite, mas não ao ponto de justificar uma ampliação de horário, segundo Giuseppe.

Lei do Silêncio

Velho Espanha, tradicional bar nos Barris, no centro da cidade, funciona até 1h20 / Foto: Reprodução / Instagram
Estar em um bairro residencial também é um fator que influencia na abertura de bares durante a madrugada. Localizado nos Barris, no Centro da cidade, o Velho Espanha é um dos bares mais tradicionais da região, que funciona até 1h20, todos os dias.

Sobre o horário de funcionamento, um dos donos do espaço, Arthur Daltro, diz que tem que haver um equilíbrio com o espaço da vizinhança. O empresário cita também a Lei do Silêncio (Lei municipal 5354/98), que estipula os níveis máximos de sons e ruídos em 70 dB (até 22h) e de 60 dB (após 22h).

Para ele, a lei é extremamente restritiva para uma capital turística como Salvador. O empresário acredita que isso acaba condicionando o comportamento do soteropolitano.

"Se olharmos historicamente a frequência de espaços como o antigo Mercado do Peixe, os “bares do coco” do Centro da Cidade e a Commons, por exemplo, vai ver que há uma demanda muito grande. Mas que fica represada pela pouca oferta de espaços durante a madrugada", disse.

"Por sua vez, para o empresariado, é difícil enfrentar as exigências atualmente postas. [...] Não estou propondo perturbar o silêncio da cidade durante a madrugada, mas achar um equilíbrio para permitir que aquelas pessoas que curtam a noite possam ter garantido seu direito a ocupar o espaço urbano onde vivem. Uma ponderação de interesses mesmo", pontuou.

Os madrugadores

Um dos poucos representantes 24 horas de Salvador, Boteco RV está no Largo de Santana / Foto: Reprodução / Instagram
Mas como para toda regra há uma exceção, em Salvador também existem aqueles lugares que garantem a cerveja e a comida de quem prefere curtir a madrugada.

Algumas dessas opções podem salvar a noite da publicitária Mariana Rio, que se queixa de não ter opções para jantar em horários mais tardios em Salvador. A jovem relata que já procurou uma pizzaria localizada no Rio Vermelho – bairro mais boêmio da cidade - às 22h30 e saiu do local com fome.

A queixa é a mesma da empresária Bárbara Rodrigues. Dona de um depósito de bebidas, ela costuma trabalhar até tarde, por volta das 0h, e tem dificuldades de encontrar locais abertos após o trabalho. “As pessoas ficam na rua procurando o que fazer, e geralmente vão parar no Rio Vermelho”.

Se o destino final de Bárbara e de tantas outras pessoas for o Rio Vermelho, elas terão uma opção certeira: o Boteco RV, localizado no Largo de Santana, onde fica o tradicional acarajé da Dinha - um dos pontos mais movimentados da cidade durante as noites.

O bar funciona 24 horas, e mantém o mesmo cardápio durante todo o funcionamento – ou seja, dá para matar a fome ou continuar bebendo sem hora para ir embora.

“A gente só não está aberto na véspera de Natal, porque todo mundo tem família [risos]. Mas nos outros 364 dias do ano, a gente funciona”, diz o dono do local, Silvio Pessoa, que também é proprietário do Parador Z1, bar vizinho do Boteco RV, que funciona até 3h - horário que já não é comum na cidade.

O empresário explica que o fato de ser um dos poucos restaurantes 24 horas da cidade, faz com que o esforço seja recompensado. “Tenho um custo um pouco mais elevado, em compensação também lucro mais um pouco", garante.

Segundo Silvio, fechar o bar em um determinado horário da madrugada seria mais complicado do que mantê-lo em funcionamento ininterruptamente. E tem procura? Ele garante que sim. “Tem um pessoal noturno que não quer voltar para casa, então a gente vende a qualquer hora do dia”.

Outro exemplo de vida noturna é o Hype Bar, no Jardim dos Namorados. O local não funciona 24 horas e nem até o amanhecer, mas fica aberto até 3h. No estabelecimento, além do serviço de bar, também há programação musical de quinta a domingo.

"Nossa ideia ao abrir o estabelecimento era criar um clube noturno, por isso o horário de funcionamento é um diferencial", garante um dos sócios do local, Rodrigo Bouzon.

Vida na madrugada soteropolitana ainda pode ser encontrada em locais tradicionais como Caminho de Casa, no Itaigara - que deixou de ser 24h durante a pandemia, mas funciona até 6h da manhã nos finais de semana - e na Kombi 4 Rodas, na Amaralina, aberta até 4h.

Para uma noite mais agitada, locais como Bombarr - até 3h - e Borracharia, ambos no Rio Vermelho, são boas pedidas.

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