Anderson Simplício, 33 anos, criou o perfil em 2015 sem nenhuma pretensão (Foto: Acervo Pessoal)
Se você conhece a página Belezas do Subúrbio no Instagram, é bem capaz de ter imaginado que o criador seja alguém nascido e criado na região. Mas foi direto de Pau da Lima, que também fica em Salvador, que saiu um dos maiores admiradores da cultura e das pessoas do subúrbio da capital baiana.
Anderson Simplício criou o perfil em 2015, sem nenhuma pretensão. Acostumado a frequentar as praias da região, achou que deveria colocar os registros em algum lugar. Mas mal sabia ele que seria aqui que não só encontraria o futuro trabalho, mas também o amor.
"Eu gostava muito do subúrbio, apesar de não ser daqui, não conhecer. Não tinha noção do que era o subúrbio, mas conheci minha esposa e me encantei, me apaixonei. Vim morar aqui e comecei a postar na página", revelou.
Anderson começou utilizando a conta pessoal, mas passou a cogitar a possibilidade de um perfil dedicado somente ao subúrbio, a história e cultura da região. E assim, aos poucos, nasceu o Belezas do Subúrbio que os soteropolitanos conhecem hoje.
Feito de gente e de muitas andanças, Anderson criou laços e amizades com os moradores do subúrbio. O tradicional "de Farol a Farol", para ele está mais para "de Periperi a São Tomé".
Poder da periferia
Mesmo sendo morador de periferia antes mesmo de se mudar para o subúrbio, o estereótipo que invisibiliza e silencia as comunidades suburbanas também alcança lugares iguais. Mas foi vivendo o subúrbio, que Anderson presenciou o poder da sua força e da sua gente.
"Eu era da periferia, morava em Pau da Lima, mas sempre escutei coisas negativas do subúrbio, que era violência, que era um lugar perigoso, que não dava para andar. Mas eu vivo o subúrbio. Eu prefiro andar, conhecer as pessoas, conversar com elas. O subúrbio mudou minha vida", afirmou.
Por causa do trabalho no perfil do Belezas do Subúrbio, a vida de Anderson mudou completamente. Assistente financeiro em um hospital de Salvador, com o crescimento da página, impulsionado pelo "boca a boca" das pessoas na região, o perfil se tornou não só uma forma de conhecimento, mas uma renda pessoal para Anderson.
O menino da periferia, encantado pelas belezas do subúrbio, passou a gerenciar não só uma página, mas uma empresa. Com o perfil, ele passou a fazer publicidade, conhecer novas pessoas, lugares e, aos 33 anos, realizou um sonho.
"Desde quando eu criei a página meu sonho era ter uma casa de frente para o mar. E, hoje, eu moro de frente para o mar por causa da página", disse sobre a conquista da casa própria no bairro de Praia Grande, no subúrbio.
E, de Pau da Lima para o subúrbio de Salvador, Anderson foi parar nos Estúdios Globo como um dos representantes da cidade durante o sucesso da novela das nove "Segundo Sol".
Anderson explicou que, por causa dos memes que fazia das cenas da trama contada em Salvador, ele recebeu o convite para visitar os sets de filmagem e conhecer o elenco.
Exposição e novos conhecimentos
A transformação veio também em forma de conhecimento. Anderson não só conheceu as infinitas possibilidades de existência do subúrbio, desde as praias lindas que banham a Baía de Todos-Os-Santos à gastronomia, mas também precisou aprender, "na marra", habilidades para profissionalizar o perfil. A fotografia foi uma delas.
Sem nenhuma experiência, apenas com o celular que tinha na época, ele começou a mergulhar nos ângulos e nas curvas do subúrbio. Subiu em telhados, viu vídeos no YouTube e andou pelas ruas até aprender o que precisava. Chegou até a ganhar câmera de presente, de um seguidor do perfil.
"Ele tinha uma cafeteria no Pelourinho e queria que eu fizesse uma exposição lá. Avisei pra ele que as fotografias que eu fazia era de celular e as impressões não ficariam boas no papel. Foi aí que ele comprou uma câmera nova e me presenteou. Pediu para que eu fizesse mais foto pra exposição. Depois de um mês, a gente fez a exposição na cafeteria dele", contou.
'Boca a boca' da galera e orgulho de ser quem é
E assim o Belezas do Subúrbio cresceu e foi profissionalizado por Anderson. O perfil de fotos de praias, hoje é também conhecido por dar dicas preciosas de lugares para comer bem no subúrbio de Salvador.
Uma das fotos de maior alcance no perfil é uma indicação da clássica moqueca baiana. A foto foi vista por quase 500 mil pessoas, com mais de 34 mil interações com o conteúdo.
Anderson explicou que quando começou a divulgar bares e restaurantes da região, outros empreendedores apareceram querendo estar no perfil e fechar parcerias.
Essa movimentação gerou também o reconhecimento do perfil, e atraiu os olhares para o subúrbio. Os moradores não só passaram a se ver nas redes, mas como a pertencer de verdade ao lugar onde vivem.
"Eu sempre estou andando no subúrbio, tiro fotos, converso com os vizinhos e faço pesquisas", disse.
"Minha motivação em continuar a página foi o reconhecimento das pessoas. Elas me falam para continuar porque o subúrbio estava começando a ser visto, aumenta o comércio, valoriza mais os bairros. Toda vez que saio pra rua alguém me parabeniza e me motiva a continuar", refletiu.
Não à toa, a postagem que Anderson mais gosta de fazer são as que contam as histórias dos moradores. Bem sabe Dona Edielma, nascida e criada no bairro de Escada e que por causa do desemprego passou a vender caldos para levar o pão de cada dia para dentro de casa.
Anderson contou que certa vez ela o viu na rua, e o perguntou sobre quando apareceria na página. Sem pestanejar, a conversa dos dois virou história da vida real no Belezas do Subúrbio, e o caldo de Edielma fez fila com tantos clientes. "Hoje somos amigos. Gente boa demais", contou.
O Subúrbio fortalece
E vivendo tanto o dia a dia do Subúrbio Ferroviário e conhecendo a fundo as histórias de quem mora no local, Anderson sabe bem a importância para a cidade.
"O subúrbio, fora as histórias que aconteceram aqui como a Batalha de Pirajá, tem uma história muito forte, a cultura, o poder. O subúrbio agrega muito à cidade, a população é 100% trabalhadora, correria. Aqui é tão forte que não precisamos sair do subúrbio para comprar qualquer coisa", pontuou.
E entre tantos mistérios suburbanos, um dos mais deliciosos vem direto da gastronomia. Anderson garante que no subúrbio ainda é possível encontrar moqueca de lagosta com preços bem mais baratos. O valor pode ficar até abaixo de R$ 100.
E, para os amantes de sardinhas, que tal o quilo por R$ 0,50? Segundo Anderson, lá em São João do Cabrito, no Portal das Sardinhas, é possível encontrar o peixe por esse preço. Para chegar lá, é só procurar a ponte do trem, bem na beira do mar. O produto é vendido nos barcos e é um trabalho feito 100% por pessoas do subúrbio.
"Sempre ficam surpresos pelo preço e pela quantidade. Cada um vai fazendo um tipo de trabalho, e é feito 100% por pessoas do subúrbio, passando de pai para filho, de mãe para filha", explicou.
Salvador é terra de gente feliz
Sobre o aniversário de 473 anos de Salvador, Anderson destaca em especial as pessoas. Do Subúrbio e de todos os cantos, já que, para ele, sem elas, Salvador não seria nada.
"Salvador é um misto de gente feliz. Salvador é uma parada muito louca, muito diferente de outras cidades. O que faz Salvador são as pessoas. Sem as pessoas daqui, Salvador não seria nada", afirma.
Quanto ao Subúrbio, Anderson segue na missão e cheio de sonhos.
"A gente precisa ocupar, tirar esse pensamento de perigoso. Ocupar os lugares e tornar eles um lugar massa para a galera ir. Esse é exatamente o objetivo do Belezas do Subúrbio", disse.
O desejo agora é trazer mais projetos para as pessoas da região. Fazer excursões, retomar o que ficou parado por causa da pandemia e atrair todos os olhares da cidade mais antiga do Brasil para um único ponto: o Subúrbio Ferroviário.
*Reportagem sob supervisão da coordenadora Danutta Rodrigues
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