Grace Gianoukas defende legado de Dercy Gonçalves em peça inédita

Grace Gianoukas é a primeira atriz a interpretar Dercy Gonçalves nos teatros do Brasil. Em entrevista ao iBahia, a atriz afirma que o espetáculo "Nasci pra ser Dercy" representa boa parte do legado deixado por Dolores Gonçalves Costa, que faleceu em 2008, aos 105 anos.

Uma Dercy doce, altiva, materna, imparável e que abriu portas para que as mulheres pudessem brilhar na comédia brasileira. É assim que a Grace define a homenageada dentro do espetáculo.

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A peça ainda mostra a importância, muitas vezes ignorada, da atriz para o teatro brasileiro e para a liberdade feminina, bem como sua inquestionável singularidade.

"Tem momentos da primeira noite da Dercy, tem momentos em que ela enfrenta a ditadura, mostramos também quando a Dercy leva os palavrões para o palco. É uma peça que coloca as mulheres lá em cima [...] tem partes incríveis da infância dela, momentos tocantes com a filha Dercymar. É uma homenagem para todas as pessoas que são meio inadequadas no meio dessa sociedade careta que quer enquadrar em padrões", disse a estrela da peça após um bate-papo via telefone.

Com uma voz marcante e acolhedora, Grace ainda comentou da conexão com Dercy. Ela foi convidada pra o papel após convite de Kiko Rieser. Ele também é o diretor do espetáculo. "A minha conexão com Dercy iniciou após o convite para fazer o espetáculo. Tive que rever entrevistas, filmes e fui me dando conta sobre o quanto a Dercy tem influência não só no meu conceito de comédia, mas em todo o país e em diferentes gerações. Fui descobrindo a importância dela no jeito brasileiro de fazer comédia".

A peça inédita é um monólogo, mas Grace interage com a voz de Miguel Falabella, que representa o diretor. Ela cumpre uma curta temporada na capital baiana, no Teatro Sesc Casa do Comércio (Av. Tancredo Neves, 1109), nesta sexta-feira (10), sábado (11) e domingo (12). As duas primeiras apresentações serão realizadas às 20h, mas a última está marcada para às 19h.

E se Grace pudesse dizer algo a Dercy...?

Emocionada, a intérprete afirmou que uma das mensagens que deixaria para Dercy seria referente a longevidade de todo o legado e memória da homenageada.

"Eu pegaria ela no colo e daria muitos beijos. Com certeza agradeceria pelas batalhas que ela travou para que eu pudesse estar aqui hoje. Eu não vou deixar que a memória dela seja esquecida. E mesmo ao meio do cansaço, eu vou fazer acontecer. Eu vou fazer uma cirurgia de quadril logo em breve, e independente da dor, maratona de shows, entrevistas, eu subo no palco com uma força, é uma honra contar a história de Dercy Gonçalves", disse.

Grace Gianoukas defende legado de Dercy Gonçalves em peça inédita Vídeo: Reprodução / Redes sociais

Uma artista que não quer parar de se reinventar

Rosto carimbado no teatro, cinema e também nas telinhas, Grace deseja não parar de atuar. Dos 59 anos vividos, 40 foram dedicados a arte. No entanto, ela se reconhece como uma eterna aprendiz, daquelas que almeja reaprender algo em cada trabalho. Ela ainda contou com exclusividade sobre os próximos passos.

"Nesses 40 anos eu já diz tanta coisa. Quero fazer mais um pouco de cinema, quero fazer uma minisérie da Globo, fazer papéis dramáticos, sou uma atriz com todas as modalidades, quero provar isso para as pessoas. Quero ser desafiada como atriz, quero ser convidada, crescer como atriz. Eu posso ter 40 anos de carreira, mas ainda tenho muita coisa para aprender".

Sobre um novo papel nas telonas, ela revelou: "Eu faço um papel bastante forte no filme da Ana Molaerte [mesma diretora do 'Que Horas Ela Volta?', longa com Regina Casé] que se chama 'O Clube das Mulheres de Negócio' e que deve estrear no ano que vem".

Grace x Salvador

Entre idas e vindas, a artista coleciona momentos memoráveis na capital baiana. Em meio a admiração as pessoas, gastronomia, arte e energia, ela rememorou, emocionada, um momento delicado em que viveu pouco antes de desembarcar na cidade.

"Quando eu fazia 'Terça Insana', eu produzia e tinha uma sócia. Ela [a sócia] teve uma doença muito séria e acabou falecendo quando a gente estava indo para Salvador. Antes de pegarmos o avião recebemos a notícia de que ela tinha partido. Ficamos aos prantos, naquele vai ou não vai e viemos para Salvador a fim de celebrar a memória dela toda a responsabilidade que ela tinha com a peça", dividiu ela.

"Fomos tão bem abraçados, foi uma coisa mística, abençoada por todos os santos, foi muito espiritual. Eu me senti com o coração confortável. Eu entendi a passagem dessa grande amiga, parceira de trabalho extraordinária. Eu tenho excelente experiências em Salvador. Sou apaixonada por este lugar", pontuou.

Papéis marcantes

A atriz ainda aproveitou a oportunidade para elencar papéis que fizeram diferença na carreira dela. Questionada a eleger o papel marcante da carreira, ela não conseguiu destacar apenas um.

"Posso falar dois? A Teodora Abdalla [de 'Haja Coração'] é uma personagem que me projetou de norte a sul de todo o Brasil. foi ela quem ajudou o meu trabalho ser reconhecido, principalmente nas ruas. Eu destaco também Aline Doral [da 'Terça Insana' a personagem que eu criei, escrevi, produzi, é muito importante", finalizou.