Diante das imagens da grande poça de água imunda sujando a barra – e a Barra – de Salvador, publicadas ontem pelo CORREIO, o que todos querem saber é o que será feito. Se a pergunta não quer calar, a resposta da prefeitura fala alto ao coração dos soteropolitanos: é assim mesmo e não tem como mudar. Após verificar o local, ontem, a Superintendência de Conservação e Obras Públicas (Sucop), órgão da prefeitura responsável pelo cano que despeja a água suja na praia, concluiu que se trata mesmo de água de chuva, drenada por uma rede subterrânea, e que vai parar em rios e praias. “Não há projeto da prefeitura para reverter essa situação. Não há onde despejar a água da chuva e a drenagem precisa ser feita para evitar alagamentos”, justificou o gerente de operações da Sucop, Valdir Guerreiro. “O que nós temos é o sifonamento das caixas de sarjeta, que captam a água quando chove e não deixa passar objetos como roupas e garrafas. Mas não tem jeito, a água tem que ser escoada para não causar inundações”, explica. Ele ainda atribui parcela de culpa à população, que joga lixo nas ruas. Esse lixo será levado pelas chuvas, contribuindo com a situação vista na manhã de segunda-feira.
RepercussãoOntem, as areias da praia amanheceram escuras, com pontos de lixo. A poça, menor que a do dia anterior, não deixa ninguém esquecer o problema. “Passaram o trator, depois vieram os garis. Deixaram até tudo arrumadinho. Foi a pressão, depois de sair no jornal. Mas o esgoto ainda tá ali”, contou o barraqueiro Geneval da Conceição. A poça flagrada pelo CORREIO também repercutiu nas redes sociais. Vários internautas se mostraram revoltados com a situação na praia da Barra. Uma delas foi a apresentadora de TV Astrid Fontenelli, que costuma frequentar a capital baiana e não poupou críticas. “O que aconteceu com a Barra?? Nojo!! Eu se fosse o prefeito de Salvador arregaçaria as mangas e iria pras ruas limpar a cidade. Tá nojenta! Plano emergencial já!!”, disparou.
Própria?Enquanto a situação não se soluciona, uma placa ontem na praia sinalizava que o mar estava próprio para banho. Apesar das aparências, o coordenador de monitoramento do Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), Eduardo Topázio, esclarece: “Receberemos o resultado da coleta nesta quarta-feira. No entanto, como a água suja não chega no mar, a praia não está imprópria para banho”, afirmou, acrescentando que pedirá autorização da diretoria para analisar as areias, que essas, sim, ficam contaminadas. ClandestinosApesar de reconhecer que o problema foi causado pela rede de coleta de águas da chuva, Guerreiro diz que há ligações clandestinas de esgoto em diversos pontos da cidade, que jogariam dejetos direto na rede de drenagem de chuvas. O superintendente de esgotamento sanitário da Embasa, Cantídio Duarte Neto, admite a existência dessas ligações, mas também diz que pouco pode fazer. “A responsabilidade de ligar a residência à caixa da rede é do morador. A nossa parte a gente faz, mas muitas vezes os moradores não querem fazer a ligação”. Cantídio afirma ainda que o despejo da água imunda na Barra é comum. “Na segunda-feira, por uma questão de maré, houve uma formação de bancos de areia que impediram a passagem dessa água para o mar e ela ficou empoçada e evidente à população”. MP estuda medidasAo tomar conhecimento da situação na praia da Barra, o promotor Marcelo Guedes, coordenador do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça do Meio Ambiente (Ceama), do Ministério Público, afirmou que a denúncia será distribuída a uma das seis promotorias de meio ambiente. “Será feito um procedimento para averiguar o que está acontecendo e daí será solicitado que os responsáveis tomem providências”, avisa. Guedes condenou a situação. “O que está acontecendo não só viola o meio ambiente, como também o patrimônio turístico de Salvador. Alguma coisa está errada nessa situação. Não se pode desaguar uma quantidade de água suja, mesmo que não seja esgoto. É preocupante”, afirmou. “Pela coloração da água é preciso averiguar o grau de contaminação. A água terá que ser deslocada para outro local e passar por um tratamento que reverta essa situação. Às vezes, a solução é complexa, mas do jeito que está não pode ficar”.
Contato com água contaminada provoca doençasA exposição da população à água contaminada traz diversos riscos à saúde e deve ser motivo de atenção. A médica e infectologista da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Jacy Andrade explica os riscos para quem, por algum motivo, teve contato com água contaminada ou de esgoto. “Existem várias questões envolvidas quando se trata de contato com água contaminada. Na água do esgoto, por exemplo, a transmissão pode se dar por meio de vários agentes, desde parasitas, como verminoses, até bactérias, como a salmonela”, explica a doutora. Jacy alerta ainda que é preciso mudar os hábitos culturais e começar a trabalhar a prevenção das doenças através da orientação da população. “É preciso que as pessoas sejam orientadas sobre os riscos que o contato com a água contaminada pode trazer”. LeptospiroseDoença causada pela bactéria leptospira, presente na urina do rato, bastante comum em esgotos. Com inundações, ela se mistura à água e pode infectar a população. GastroenteriteInfecção que pode ser causada pelo contato com água contaminada. A gastroenterite pode causar diarreia, vômitos e desidratação. Hepatite AÉ transmitida por água contaminada e a incidência é grande em locais com saneamento básico deficiente. Os sintomas, como febre e vômito, podem ser confundidos com uma virose qualquer, então, se você teve contato com água contaminada, procure um médico. Tétano A partir de cortes de materiais enferrujados.
Prefeitura diz que água vai continuar sendo jogada na praia da Barra |
Despejo de água poluída faz praia da Barra virar um mar de lixo |
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