Eles pulam mais a cerca, mas elas sabem fazer por debaixo do pano. Sete em cada dez homens soteropolitanos já traíram. Já entre as mulheres, três entre dez já foram infiéis. Pelo menos é isso que eles e elas disseram em pesquisa do Instituto Futura, em parceria com o CORREIO. Mas quando o assunto é não deixar pistas, são elas que sabem fazer de modo a não serem descobertas. E aqui não tem muita dúvida: a maioria tanto de entrevistados (72,4%) como de entrevistadas (67,1%) têm essa impressão. E quando a questão é admitir o chifre na própria cabeça? Entre as mulheres, 71,2% reconhecem que já foram traídas – o que demonstra bastante visão, já que o número é semelhante ao de homens que dizem ter traído. Já entre os homens... só 41% enxergam, o próprio chifre – o que nos permite concluir que ou os homens estão enxergando demais ou as mulheres estão admitindo de menos, já que apenas 29,2% dizem ter traído.
O caraNo meio de tanta matemática, o CORREIO encontrou um homem com sinceridade e visão: Marcionilio Silva, 24 anos. Ele assume que já traiu e já foi traído. Há dois anos, ele arrumou uma gringa para namorar, uma venezuelana. “Ficamos por três meses e todo dia saíamos juntos. Levava ela para tudo quanto é lugar, mostrando Salvador. Até que um belo dia meu amigo me liga perguntando se eu sabia onde estava minha namorada. Eu disse que ela estava na escola de dança e ele respondeu: ‘Acabei de ver ela de mãos dadas com um negão rasta no Pelourinho’”. Já o chifre que ele deu, segundo ele, a ex-namorada nunca soube. Pelo menos até hoje. Foi há cinco meses. “Eu estava namorando havia seis meses, daí falei que ia para uma festa. Lá, encontrei duas meninas bonitas e fiquei com as duas”, diz. “Isso [trair] é normal para o homem. A gente faz com que elas acreditem e elas fingem que acreditam, mas no fundo elas sabem que a gente não está falando a verdade”.
PerdãoVocê acha que mulher perdoa mais que homem? Esqueça. Pela pesquisa, isso anda bem equilibrado: entre os homens, 43,1% afirmam que não perdoariam uma traição, 32% garantiram que perdoariam e 23,2% disseram que talvez. Já do lado feminino, 43,4% não perdoariam, 33,3% sim e 21,9% talvez. E Marcionílio? Tudo bem que o homem é raro, mas não é de ferro. Ele não quis saber de papo com a venezuelana. “Quando fui conversar, ela disse que era mentira. Mas eu já não quis mais saber. Ela voltou para a Venezuela e eu excluí telefone, facebook, todos os contatos. Não quero mais saber”. Já a vendedora Crislane da Cruz Santos, 23, até aguenta algum peso na cabeça, mas se exagerar.... Após três anos de casada, ela descobriu que foi traída varias vezes pelo marido, e com diferentes mulheres (se é que isto é agravante). Ela perdoou. “Achava que ele ia se regenerar”, justifica. Mas ao longo dos outros três anos após a descoberta percebeu que o marido continuava dando “uma escapada”. Aí teve troco. E alto. “Fiquei me envolvendo com um amigo do meu marido, que tinha um pouco de remorso, mas ele via meu sofrimento. A rua toda sabia. Ele (o marido) sabia e fingia que não sabia. Por que ele ia procurar problema se ele também traía?”, diz Crislane. Há ainda os que gostariam de mudar de lado na estatística. Aos 51 anos, a cantora de samba e artesã Gal Borges, se arrepende da retidão. “Morro com a dor de nunca ter traído”, lamenta. “Sou separada há dois anos e me traíram. Estávamos juntos há quatro anos. Foi quando tive um sonho em que encontrava uma calcinha branca de renda no bolso interno do paletó dele. Confrontei ele, que negou”. Mas não demorou para o sonho virar pesadelo. “Um mês depois, ele me disse que o sonho era realidade, que estava com uma pessoa do trabalho dele. Se fosse hoje, traía ele com três por dia. Não tem dor pior do que essa, de não ter traído”.
A pesquisa ouviu 400 pessoas em Salvador, entre os dias 27 a 29 de agosto. A margem de erro é de 4,9 pontos percentuais. 'Machos' têm dificuldade histórica em aceitar traição, diz pesquisaPara o psicoterapeuta de casais Anderson Chalhub,os homens, em geral, têm mais dificuldade em assumir que foram traídos, por conta de uma idealização de relacionamento construída histórica e culturalmente. Se os homens ao longo da história foram incentivados a tomar a posição de “machos” e as mulheres foram reprimidas, ainda hoje esses “machos” se veem desamparados quando descobrem uma traição. “É como se fosse algo de que eles não conseguem dar conta”, avalia Chalhub. “Há uma questão comportamental que se explica pela diferença de gêneros. Os homens traem por uma questão carnal, são os homens que produzem mais os hormônios dos desejos. Já com a mulher a traição é afetiva, tem que ter sedução, conquista”, afirma a sexóloga Mirna Rosier. Sobre a visão dos entrevistados pelo Instituto Futura, de que as mulheres escondem melhor a traição que os homens, Chalhub argumenta que, em muitos casos, é a própria crença do homem de que ele não vai ser traído que o faz demorar a perceber a infidelidade da companheira. Ele garante que essa surpresa, que geralmente leva a uma baixa na auto-estima dos homens, é visível em seu trabalho em consultório. Segundo Chalhub, está aumentando o número de atendimentos de homens traumatizados com traições. “O disfarce acontece quando o outro não espera que eu aja daquela forma. Se as mulheres conseguem manter uma relação extra-conjugal durante mais tempo, eu acredito que os homens não estão atentos a sinais que a mulher dá”, avalia. Colaborou Lorena Caliman Matéria original do CorreioHomens traem mais; mulheres fingem melhor, mostra pesquisa
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Traída pelo marido, Gal se arrepende de nunca tê-lo traído de volta |
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