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Situações cotidianas ganham narrativas subjetivas, profundas e até paradoxais. A ideia de não pertencimento é o fio contudor dos 12 contos que compõem o livro 'Bem Aqui, Em Lugar Nenhum' (7Letras, 2013, ficção), da escritora e jornalisa Moema Franca, que tem lançamento nesta sexta, 1º, a partir das 19h, no Ciranda Café, Cultura & Arte, no Rio Vermelho. O deslocamento é tratado pela autora em diversos sentidos - geográfico, psicológico, emocional e existencial. Trata-se de uma leitura que coloca em questão certezas e faz o leitor, muitas vezes, mergulhar na história e se colocar no lugar dos personagens, por conta de uma narrativa rica em detalhes. A noite de lançamento contará com a presença das atrizes Chica Carelli, Maria Marighella e Socorro de Maria, que farão leituras dos contos.Mesmo quando não tem a intenção, a autora desperta em seu leitor uma reflexão sobre a velocidade e os contrastes da vida cotidiano e urbana. A tal pressa que atrolepa os sentimentos e sufoca a lógica do viver. Essa situação fica muito latente no conto de abertura do livro - 'Não se pode estar morto o tempo todo'. O personagem reflete: "Mas o tempo todo o universo está em movimento, alguém me disse uma vez, o que me fez concluir que chegar a um lugar antes de ter saído de lá não serve para nada, simplesmente porque o mundo é redondo e desenha círculos espontâneos no meu café".
Leia Também Cristiane Mendonça mostra desventuras contra solidão em Escândalo O título, que já recebeu menção honrosa do Prêmio Sesc de Literatura 2011-2012, nasceu mesmo com essa intenção de ser paradoxal, como explica Moema: "Se, por um lado, a negação de todos os lugares - lugar nenhum - evidencia o estado de perdição e inadaptação, por outro lado, esse não lugar é acolhido positivamente, como bem aqui”. A identificação do leitor com a obra é dada logo nas primeiras páginas. O que prende é, sobretudo, a aproximação com os temas cotidianos, situações que são experimentadas por todas as pessoas, mas que, muitas vezes, passam sem essa análise ou não chegam a ser verbalizadas pelos seres humanos comuns. No final das contas, todos vivem certos desconfortos no dia a dia, uma sensação de deslocamento, como um estrangeiro que tenta se encontrar em uma nova cidade. Nascida em Estância (SE), em 1976, Moema Franca, hoje vive em Salvador. Ela é formada em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, e mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Também é doutoranda em Literatura na Sorbonne Nouvelle. Recebeu uma menção honrosa no Concurso de Contos Guimarães Rosa, da Radio France Internationale, em 2001, pelo conto “Perder o trem, variação de partir”.