No facebook, o professor Maurício Tavares lamentou a morte de Setaro e lembrou uma das maiores características do professor: "Era realmente uma pessoa especial, não porque morreu. Adorava o humor sarcástico dele. Além do mais recebia provocações com muito bom humor". De fato, o humor de Setaro era sua marca registrada e o toque especial de seus textos e considerações. Usava isso tanto para falar sobre o cotidiano quanto para comentar cinema. Na medida certa da elegância, mas sem deixar de promover o riso em quem o lia. Na onda da superexposição da rede social, espaço no qual as pessoas informam cada passo da vida e suas investidas amorosas, ele não deixou passar em branco e postou há pouco tempo: "Estou num relacionamento sério com uma aranha caranguejeira". Leia Também:Morre o professor de Comunicação da UFBA André Setaro
No dia a dia, era muito comum o professor postar fotos engraçados, imagens de sua musa Brigitte Bardot e fazer comentários sobre curiosidades do cinema e suas observações: "Nos filmes de tempos idos, quando um homem beijava uma mulher na boca, chamava-se "colada" - e era realmente uma "colada" de lábios, pois beijo de língua nem pensar. Mas a plateia sempre que isso acontecia gritava: "Chupa, Caetano!!!" Até hoje ainda não descobri a significação desse "Caetano" O Veloso não era, pois ainda de calças curtas em Santo Amaro e um ilustre desconhecido.
Brigitte Bardot, a musa do Cinema e de Setaro |
Igualmente enriquecedor era ler o que Setaro - também autor da trilogia 'Escritos sobre Cinema' (Depoimentos, atores e diretores; Cinema Baiano, e Linguagem e Outros Temas - Introdução ao Cinema) - escrevia sobre suas próprias memórias cinematográficas. Ele relembrou, por exemplo, o impacto da primeira vez que assistiu 'Deus e o diabo na terra do sol', filme de Glauber Rocha. "Faz meio século (eu infelizmente - e bota infelizmente nisso, pedindo desculpas aos facebookianos mais velhos, já dobrei este ''cabo da má esperança" há 13 anos - estou com provectos 63 a caminho dos 64, e, aqui, a lembrança do inesquecível Billy Blanco: "o enfarte te pega, doutor, e acaba essa banca!". Devo dizer que ele, o enfarte, já mo-lo pegou em 2006, mas, como "vaso ruim não quebra", resguardou-me para o aparecimento do Facebook, a fim de que possa, 'comme il faut' [valei-me poderosa July!!!] chatear vocês com o facebookiano "o que você está pensando"). Tinha 13 a caminho dos 14. O filme era proibido para menores de 18 anos. Fiz de conta que também saía, e andando de costas, entrei. O filme simplesmente impactou o adolescente que era. Na saída, encontrei-me com Florisvaldo Mattos e Sergio Gomes. Mas ainda não os conhecia. Mudo estava, mudo fiquei. O filme foi lançado no cinema Guarany de Salvador".
Com a morte de André Setaro, a perda é pessoal para seus alunos, amigos e familiares, mas também intelectual para quem se interessa por cinema. O cinema, que, aliás, já havia perdido, em maio, o crítico João Carlos Sampaio, também amigo do professor e a quem ele homenageou com as seguintes palavras: "A Bahia perde o mais atento jornalista na cobertura das coisas de cinema. Sampaio era um workaholic em relação a seu trabalho, pois sua coluna em A Tarde (jornal soteropolitano), além de ter críticas bem pensadas sobre os lançamentos mais importantes, pontuava, com regularidade, o movimento do cinema baiano - não se recusava, inclusive, a fazer matérias de páginas inteiras sobre os filmes e cineastas. No momento atual do jornalismo baiano, quando a cultura está indo pra o brejo, como assinalou o poeta Ruy Espinheira Fillho, a falta de João Carlos Sampaio é imensa. Era uma pessoa de lhano trato, terno, de sensibilidade à flor da pele. Minha homenagem a este homem que amava o cinema". Sem dúvidas, duas grandes baixas para o cenário cinematográfico da Bahia no mesmo ano. Ficam os exemplos do que foram e o que fizeram pela cultura.
Veja o que André Setaro falava e ensinava sobre crítica cinematográfica:
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